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Capítulo III

Sovinice


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Era um caso singular

O caso de João Monteiro,

Capitalista aos quarenta,

Só procurava dinheiro.


Vivia sempre isolado.

Segregação incomum,

Não cultivava amizades

Nem tinha parente algum.


Emprestava, a juros altos,

E usando rasteira e treta,

Prendia com papelada

Muita gente na gaveta.


Se alguém lhe rogasse auxílio,

Considerava, brigão:

— “Para todo petitório

A minha resposta é não.”


Senhoras vinham a ele

Falando em beneficência,

Necessitavam de apoio

Para os irmãos em carência.


João dizia com sarcasmo:

— “Não desejo compromisso,

Se alguém é doente e pobre,

Eu nada tenho com isso…”


Se um menino aparecesse,

Pedindo a esmola de um pão,

Gritava: — “Saia daqui!

Menino sujo é ladrão…”


A mendigo que surgisse

Rogando-lhe algum café,

Exclamava, zombeteiro:

— “Passe bem, fique como é…”


Se alguém lhe adiava os juros

Na data prefixada,

Ouvia-lhe os desaforos,

Sofria-lhe a mão pesada.


Certa noite, João em sonho

Viu a morte… Parecia

Ver um anjo estranho e lindo

A dizer que o buscaria…


Ele pensou na fortuna

Que retinha com cuidado,

Sobressaltou-se, chorou

E implorou, acabrunhado:


— “Grande Morte, grande dama,

Preciso ainda viver;

Deixe-me… Venha mais tarde…

Tenho muito que fazer…”


Disse a Morte, brandamente:

— “O seu pedido é perfeito,

Mas o seu tempo é chegado

E o que se fez está feito.


Você me chama por grande,

Como se eu fosse rainha,

No entanto, entre as criaturas,

Sou fraca e pequenininha…”


João acordou, assustado,

Vestiu-se, pôs o boné;

Ao calçar-se, um prego solto

Feriu-lhe um dedo do pé.


Logo, logo, o dedo inchado

Impunha-lhe muita dor…

Fez banhos, colou emplastros,

Mancando foi ao doutor.


Mas tudo acabou, em vão…

Com várias radiografias,

O tétano levou João

Simplesmente em cinco dias…


.Jair Presente



.Jair Presente
Francisco Cândido Xavier

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