Alma e Vida

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Capítulo XIV

Cantiga da dor


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“E por que tanta dor por este mundo afora?

— Perguntei ao mentor que me instruía —

Ralava-me na Terra a escassez de alegria…

Voltei do mundo físico e, ainda agora,

Novo tipo de lágrimas me assiste:

Sou feliz e sou triste

Vendo aqueles que amo, em provação constante,

Sem que eu possa valê-los,

Muito embora o carinho dos meus zelos

E o meu imenso amor de cada instante!…”


Ele explicou-me com bondade:

“Essa história da dor na Humanidade

Precisa ser revista…

Por que menosprezar-lhe a função alta e bela,

Se não há criatura a evoluir sem ela?

Vemo-la, em toda parte,

Desde o sono da pedra aos altos sonhos da Arte.

Entre os homens irmãos, tudo o que se conquista:

A cela corporal, as posses e os prazeres

Pedem a vida de milhões de seres!…

Quanta aflição envolve a Natureza

Para que o homem se alimente à mesa!?…

Se houvesse uma consulta em cada horta,

Se alguém se dispusesse a ouvir a queixa dos rebanhos

Ou se escutasse o tronco que se corta,

Quantas inquietações e protestos estranhos!…

A dor também é lei na qual se apura

A Civilização de que tens a cultura!…

Força de propulsão,

Sofrimento é processo

Para que se organize o topo do progresso

Ante o esplendor da evolução!…”


“E posso caminhar sem dor; em minha estrada?

— Indaguei, pensativa.

E o mentor respondeu em voz pausada:

“Sem a bênção da dor, que nos guarda e elucida

Para o encontro do Bem,

Ninguém pode entender os ensinos da vida

Nem saberá servir junto de alguém.”


.Maria Dolores



.Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier

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