Alma e Vida
Versão para cópiaO caminho do Reino
Após a última ceia, (Lc O mais jovem do Grande Apostolado, Sob forte impressão De tudo quanto ouvira do Senhor, Tendo Jesus ao lado Indagou, pensativo: — “Mestre, é tão grande a luz da esperança em que eu vivo, Que me permito perguntar: Onde posso encontrar, Inda mesmo em estudo alto e profundo, Nas instruções do mundo, O caminho real para o Reino do Amor?” O Cristo replicou: — “Medita, João, Asserena teu próprio coração, Aqui, ali, além, seja onde for, Segue plantando o bem, a paz, o amor… A vida é um livro aberto E a própria vida te trará por certo, Ante as inspirações que vertem das Alturas, A estrada para o reino que procuras…” Depois do encontro amigo, Tudo se transformou nas Boas Novas… O grupo penetrou em grandes provas: Medo, tristeza, angústia, inquietação, perigo… Jesus fora arredado da enxovia. Em silêncio e à distância, João seguia Todas as ocorrências, de hora a hora. Por fim, notou, quase desatinado, Que o Mestre, portador de tanto bem, Vinha sendo espancado Sob as injúrias de Jerusalém. O apóstolo sem paz Observou que a multidão Lançava o Cristo na condenação E absolvia Barrabás… Perplexo anotou que a tantas zombarias Não formulou Jesus quaisquer respostas… O Mestre admitira a cruz às costas, Por entre acusações e gritarias. Depois, ei-lo a seguir fatigado e hesitante… Tropeçava, suarento. O cortejo seguia, frio e lento, A engrossar-se de gente, instante a instante. Para ajudar-lhe a marcha estranha e triste, Foi trazido até ele o cireneu… A turba protestou, de dedo em riste, Jesus, porém, calou-se e nada respondeu… Terminado que foi o duro itinerário, Alcançara o Senhor o cimo do Calvário… João que a tudo assistia, Antes de se achegar à bênção de Maria, Esmagado de dor, surpresa e espanto, Rememorava em pranto Todo o amor que Jesus distribuíra… As pregações do lago, ante os céus de safira, O Sermão da Montanha, à luz da Natureza, O pão multiplicado, o riso das crianças, A exaltação das bem-aventuranças, Os doentes curados, a beleza Da fé que renascia em tanto rosto Que a provação cobria em névoa de desgosto… Lembrava os paralíticos reerguidos, A gratidão de todos os caídos Que o Mestre levantara para o bem… Como entender, assim, Jerusalém Que condenava o mensageiro Da Bondade dos Céus para com o mundo inteiro? Tocado de emoção e sofrimento, Abeirou-se do Cristo, então tranquilo e atento, E ponderou: — “Senhor, não posso crer… Pelo bem que se faz, é preciso morrer? Por haveres plantado a paz e a luz Deves achar a morte sobre a cruz? Defende-te, Senhor, fala, protesta, O teu ensinamento é a força que me resta, Não me deixes, em dúvida, sozinho!… Mas Jesus, compreendendo o tempo escasso, Respondeu, transpirando amargura e cansaço: — “Não te lamentes, João!… Deus vive em nós…” Depois, erguendo a voz, Disse, fitando o monte em pedra e espinho, A refletir no olhar a própria dor: — “Por enquanto, na Terra, este é o caminho, O caminho real para o Reino do Amor!…” .Maria Dolores |
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