Alma e Vida

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Capítulo VII

A árvore e a fonte


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Era uma laranjeira de alto porte,

Muito perto da fonte que a nutria,

No recanto obscuro de um pomar…

Aves faziam dela um reino de alegria

Sobre o apoio do tronco largo e forte.


Quadro de paz e amor da Natureza:

A árvore a farfalhar, entre as frondes felizes,

Os melros, os sabiás e os gaturamos

Tecendo ninhos nos seus ramos,

Uma fonte, alentando-lhe as raízes

E o céu azul ao sol, cobrindo-lhe a beleza!…


Vegetal esquecido pelo dono,

Não se queixava de abandono,

Muito contrariamente, ao invés disso,

Era um palácio verde em constante serviço…

Abelhas tinham nele um refúgio e um tesouro,

A sorverem-lhe o mel dos frutos que lembravam

Pomos vestidos de ouro…


Mas, um dia, surgiu extenso bando

De homens sedentos e famintos

Que deram pasto franco aos seus próprios instintos;

Depois de enlamear a fonte de águas claras

Agrediram a nobre laranjeira,

Manobrando facões, pedras e varas

E, em estreitos minutos,

Despojaram-na, inteira,

De todos os seus frutos.


A fonte sempre calma

Guardou manchas e mágoas,

Lavando sobre a areia as suas próprias águas…


A árvore fez silêncio.

Maltratada e ferida

Deitava a seiva em pingos qual se fossem

Densas gotas de pranto…


Os pássaros, no entanto,

Não choravam somente os estragos nos ninhos;

Entre arbustos vizinhos,

Lastimavam as duas benfeitoras:

A fonte que os mantinha em constante alegria

E a árvore de bênçãos protetoras

Que lhes doava o pão de cada dia…

E pipilavam com tamanha dor

Que pareciam todos juntos

Numa prece de amor,

Rogando a Deus, em voz enternecida,

Que as protegesse

E as refizesse para a luz da vida.

E Deus lhes atendeu aos rogos de ternura

Dentro de tempo breve, em verdes resplendores,

O tronco era, de novo, um palácio de flores

E a fonte era mais pura.


………………………………………………

Nesse quadro do campo, alma querida,

Vejo-te a vida, — o tronco, — e a fé que sintetiza

A fonte linda do teu belo ideal,

Entre os pobres irmãos adversários

Da crença que nos guarda e nos eleva,

Sem saber que se fazem

Intérpretes da treva

E empreiteiros do mal…

Tristes amigos irritados!…

Sei que te ferem, alma boa,

Entretanto, trabalha, ama e perdoa;

No tempo que se altera sobre o tempo,

Surgirão transformados!…

Os descrentes e os maus, na condição de ateus

São sempre corações desesperados

Com saudades de Deus.


.Maria Dolores



.Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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