Amor e Saudade
Versão para cópiaWladimir Cesar Ranieri
Wladimir, jovem inteligente, da família Francisco Ranieri e Dalva Zanchetta Ranieri, nascera neste lar em que sua mãe nos seus primórdios, com mediunidade de desdobramento, identificava-se em vários estágios de vidas passadas espirituais. Uma menina que mal começava a vida defrontava-se com estes fenômenos. Citava fatos que a posterior aconteciam. Sua mãe, D. Dolores de Campos Zanchetta, de princípios católicos, levou-a à Igreja para identificar os fatos. Teve como resposta: o que acontecia estava além da compreensão humana.
Wladimir cresceu com a orientação evangélica espírita, demonstrada em diversas preces escritas por esse moço, de moral elevada, sem preconceitos e que gostava de se expressar na pintura. Visava no semelhante caído a oportunidade da palavra amiga.
Rebuscando os seus pertences, D. Dalva, a nosso pedido, nos forneceu um pequeno trecho de um dos seus apontamentos:
“Mestre, faz com que eu seja digno de Ti.
Que em Teu caminho eu possa viver e amar.
Amar certo para que o infinito de nossas almas torne-se o Universo…
Mestre, que no encontro de minha alma com Seu amor, possa eu estar tão calmo e confiante de todo aquele amor que porei na minha vida por Ti.”
Os conflitos que carregamos na alma, preciso é antes, escorarmos o espírito na prece. Canal evidente de socorro que canalizará em favor do suplicante o esclarecimento necessário para sua aflição.
Wladimir deixou a Terra num gesto de infelicidade. Disparou um tiro de revólver contra o peito. Reconheceu no seu gesto infeliz estar envolvido em hipnose por parte de criaturas espirituais e entende sua responsabilidade, considerada pelo livre arbítrio.
Indiscutivelmente, a caridade quando feita em atos inconscientes ou não, é representada como força geradora do bem em favor do doador. No gesto caritativo, Wladimir pôde sentir a extensão da prece agradecida. Apesar de dizer nada ter feito aos semelhantes, o que sua mãe contradiz, sempre esteve presente ao carente com a palavra confortadora, como bálsamo renovador.
Motivado pelo sucesso do transplante de córnea em seu irmão Wagner, doou a sua córnea, que o fez merecedor da caridade espiritual, quando diz que: “… as preces de uma pessoa que se beneficiara com a córnea que doei ao Banco de Olhos se haviam transformado para mim num pequeno tampão que, colocado sobre o meu peito no lugar que o projétil atingira, fez cessar o fluxo do sangue imediatamente.”
A misericórdia de Deus se faz reconhecer no momento exato das necessidades, que torna o Espírito carecedor, reconhecido do bem que houvera feito. A família Ranieri, nas indagações de si mesma, encontra na mensagem consoladora a explicação, o sentimento real de Wladimir, expondo-se com o reconhecimento de sua situação. Admite que os irmãos com problemas semelhantes aos dele se reconhecem presos sem algemas e sem cárcere, porque ninguém foge de si mesmo.
ESCLARECIMENTOS NECESSÁRIOS DE PESSOAS OU FATOS CONSTANTES NA MENSAGEM
Pais: Francisco Ranieri e Dalva Zanchetta Ranieri.
Irmãos: Wagner Francisco Ranieri, Wanderley Rafael Ranieri, Valéria Terezinha Ranieri, Wallace Atílio Ranieri.
Bisavó: Verônica Batistini Zanchetta, paterna, mãe do avô de Wladimir.
: Antecipamos os nomes de pessoas ou fatos, para melhor identificação por ocasião da leitura da mensagem do Espírito.
MENSAGEM
Querida mamãe Dalva e querido papai Francisco, peço-lhes me perdoem, abençoando-me como sou, em meus resgates do gesto infeliz daquela terça-feira de desequilíbrio, em que me entreguei ao pior que me poderia acontecer.
Mãe querida, não se sinta culpada em lembrança alguma. A sua voz apenas me convidava ao trabalho junto de meu pai, na mais santa das intenções. Não creia que eu tivesse ouvido qualquer acusação de preguiça na modulação de sua palavra. O que se verificou foi a hipnose por parte de criaturas desencarnadas que me seguiam e junto das quais não me furto às responsabilidades do meu gesto infeliz.
A minha vontade era uma alavanca de Deus em minhas mãos.
Poderia facilmente escutar os convites injustos e rechaçá-los com o meu livre arbítrio, mas a minha fraqueza foi o que me perdeu. Reconstituirei o nosso quadro de maio para que os pais queridos se reconheçam totalmente livres de culpa.
O Wagner estava impossibilitado de agir com mais vigor, em vista do tratamento e porque a mãezinha Dalva me soubesse disponível, acercou-se de mim e pediu-me para que fosse auxiliar ao papai.
Senti que realmente aquilo era obrigação minha. Levantei-me mal-humorado, ao refletir, que andava sem serviço certo e muito longe de melindrar-me com a solicitação da mamãe, segui para o serviço. Ideias lamentáveis pareciam maribondos em meu cérebro, sugerindo-me pusesse termo à existência de rapaz errante, em busca de um emprego que não aparecia.
Deixei-me invadir por aqueles pensamentos amargos, quando me falaram de almoço. Antes que me retirasse do trabalho, alvejei o meu próprio coração com um tiro certo. Lembro-me de que o papai correu para mim estirado no piso e, na suposição de que me faria viver, fez a respiração boca-à-boca, recebendo o meu próprio sangue que lhe atingiu a garganta.
Arrependi-me de tanto mal praticado contra mim, no entanto era tarde.
Aquele gesto de meu pai me mostrava quanto amor dispunha eu no coração de meu pai e de minha mãe, porém, foi em vão que desejei levantar os braços para ser um menino de novo naquele colo paternal de homem bom que não vacilava em livrar-me de qualquer sufocação, trazendo para a boca que me beijara tantas vezes em criança, o sangue do filho crescido que se fizera ingrato perante aqueles que mais me queriam na Terra.
Sei que entrei num pesadelo em que via o meu próprio sangue a rolar do peito como se aquele filete rubro não tivesse recursos de terminar. Despertei num hospital, onde me encontro até agora, em tratamento e sou trazido pela vovó Verônica que se compadeceu de mim, de mim que me ajoelho em espírito diante da mãezinha Dalva para rogar-lhe o perdão que não mereço. Queridos pais, rogo me desculparem e viver muito, sempre tranquilos, embora a saudade se interponha agora entre nós à feição de uma sentinela do meu arrependimento.
O suicida é um detento sem grades.
Admito que os irmãos com problemas semelhantes aos meus se reconhecem presos sem algemas e sem cárcere, porque ninguém foge de si mesmo.
Peço-lhes para que vivam, porque no Wagner, o Wallace, a Valéria e o Wanderley, sou amado ainda.
Graças a Deus, melhorei da hemorragia incessante que me enlouquecia. Depois de algumas semanas de aflição, um médico apareceu com uma boa nova.
Ele me disse que as preces de uma pessoa que se beneficiara com a córnea que doei ao Banco de Olhos se haviam transformado para mim num pequeno tampão que, colocado sobre o meu peito no lugar que o projétil atingira, fez cessar o fluxo do sangue imediatamente. Eu, que não fizera bem aos outros, que me omiti sempre na hora de servir, compreendi que o bem mesmo feito involuntariamente por uma pessoa morta é capaz de revigorar-nos as forças da existência.
Com essas lições vou seguindo à frente e com a proteção de Deus e a bênção dos pais queridos espero vencer-me, vencendo as dificuldades que me cercam para ser o filho e o irmão, o amigo e o companheiro que devo ser.
Aqui termino agradecendo-lhes tudo o que fizeram a meu favor e desejando-lhes a felicidade que bem merecem. Quanto ao filho triste que ainda sou, reconheço que o Sol nos cobre a todos, em nome de Deus. Haverá um outro dia também para mim.
Surgirão outras horas em me lembrarem sempre com o amor que não fiz por merecer e prometo que não mais serei cego para o amor com que tenho sido amado e com o qual arrancará de mim mesmo para que, um dia eu lhes possa trazer a alegria e o reconhecimento do filho feliz que já começa a ser.
Muito carinho e esperança do filho que apesar de sofredor, continua sendo muito grato.
DEPOIMENTO
Chico,
A nossa gratidão eterna pelas orações constantes que fazes a nós, tristes mães esperançosas, que vivem na imensa saudade dos filhos abençoados que partiram para o Além e grandemente agradecidos, compartilham deste elo de Amor, que nas mensagens benditas se tornam também seus filhos e não te esquecem jamais.
São Paulo — Capital.
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