Ante o Futuro
Versão para cópiaWanda Maria Czarnobay
ESCLARECIMENTOS
Nascimento: 06 de agosto de 1960. Desencarnação: 06 de setembro de 1976. Idade: 16 anos.
Pais: Victor Czarnobay e Vera Roma Czarnobay. Av. Angélica, 1106 — Apto. 127. São Paulo — SP
Irmão: Juninho — Victor Czarnobay Júnior.
Bisavó: Maria Artioli — de Vera Roma Czarnobay.
Avós: Pedro, Clotilde e Assunta
Tio: João Francisco — esposo de Nair Rapanele Mattos, tios de Vera Roma Czarnobay
COMENTÁRIOS
Victor Czarnobay Júnior, investido da autorização de seus pais, reporta os acontecimentos ocorridos no contato de sua família com Chico Xavier e, a inserção neste volume de riqueza espiritual, a carta de sua irmã Wanda, que partiu em acidente automobilístico.
Jesus, ao conciliar os pensamentos e harmonizá-los na responsabilidade de cada um, expressou-se com segurança ao dizer “A cada um segundo as suas obras”. (Mt
Ao se perder um ente querido, principalmente do meio familiar, demonstramos quão individualistas somos em nosso sentimento. O “Amai-vos uns aos outros” (Jo
A dor e o sofrimento não compreendidos geram a revolta. Mas a realidade aí está. A misericórdia de Deus existe. Os que partem voltam em auxílio aos que ficam para mostrar que a fé precisa ser mantida para o aprendizado terreno como forma de sustentação para o amor.
A consciência cria as bases salutares para os novos passos. A compreensão clareia a visão e a caridade inicia uma nova etapa em nossas vidas.
Começamos a ser felizes novamente. Os nossos entes queridos vivem. É esta a imagem que Victor Júnior, neste relato, traz à luz para quem está ainda precisando entender o que é a vida sem esperança e fé.
“Na época, muito jovem ainda, não entendia muito o que estava acontecendo, qual a razão de procurarmos um espírita se éramos de formação católica, apesar de minha mãe ler muito os livros de Chico Xavier procurando um consolo e nessas leituras sentir que também receberia uma carta de minha irmã.
Lembro-me o dia em que chegamos em Uberaba, meus pais ansiosos por saberem o que fazer, tomaram conhecimento de que para se falar com Chico Xavier, precisavam obter uma ficha para respeitar a disciplina e a ordem de chegada das pessoas. Assim, fomos em busca dessa ficha e, em seguida, seguimos para o Hotel.
Por volta das 12:00 horas voltamos e logo mais chegava Chico Xavier. Ao passar, percebi que olhava muito para minha mãe. Nos primeiros contatos com Chico, ela lhe disse que gostaria ter uma carta de minha irmã Wanda. Chico pediu-lhe que escrevesse o seu nome numa folha de papel ofício.
Ela escreveu apenas “mãe”, pois encontrava-se muito abalada, deixando de completar o resto. Feito isso, retornamos ao Hotel e, à noite, fomos à reunião que se iniciava. No final da mesma, Chico Xavier começou a ler outras mensagens recebidas. Minha mãe ouviu a voz de minha irmã, desmaiou e foi socorrida, não tendo possibilidade de ouvir mais nada. Voltamos ao Hotel e só lá é que tomou conhecimento da carta de Wanda. Foi ajudada por um rapaz de Brasília para enumerar as diversas páginas recebidas. Desde então, papai passou a frequentar com mais assiduidade a Igreja, não perdendo uma missa semanal e nós seguindo o caminho da Doutrina Espírita, onde, pouco a pouco, a mensagem de Wanda foi me aclarando o entendimento. Na época pouco podia entender pela minha pouca idade.”
MENSAGEM
Mãezinha, abençoe-me, com a bênção no Júnior. Estou aqui, sim, acompanhada ou trazida, ainda não sei bem.
Tenho comigo a bisa Maria, nossa querida Maria Artioli, o tio João Francisco, a irmã Assunta, que tem o mesmo nome da querida Bisa que aí se encontra com vocês, na Terra. Mãezinha, a chegada aqui não é muito diferente da chegada aí na Terra.
Aí nascemos no berço, à feição de quem dorme e não consegue falar e aqui, a pessoa desperta podendo falar, mas conhece a poucos. Pelo menos em meu caso.
Parece que eu devia encontrar meus parentes mais avançados em anos, para aprender que ser jovem não significa superioridade.
Venho pedir o seu perdão, por haver teimado em querer guiar tão menina.
A senhora e tia Nair lembrarão que um mês antes do acidente, em seis de agosto, eu completara dezesseis anos e falava como se pudesse ser uma senhora que comandasse o próprio destino. Bastou um mês depois e caí na experiência em que me vi de uma hora para outra.
Mãezinha, não acredite que sua filha estivesse fazendo esnobação. As amigas e eu falávamos das comemorações que seriam realizadas a sete de setembro — o carro movia-se, mas o fusca não estava acelerado e sua menina nada havia bebido que pudesse favorecer perturbações, como tanta gente admitiu.
O que senti foi um choque que até hoje não sei esclarecer. A princípio, escutava as perguntas que me dirigiam, sem possibilidade de responder, mas depois, foi aquela hora lenta constituída de muitas horas, até que a morte me adormeceu.
Lembrei, ao acordar, de seus avisos e conselhos, mas já não conseguia senão chorar. E o pior de tudo, mamãe, é que a senhora se enfraqueceu e quis também morrer.
Quantos dos nossos entes mais queridos culpam nossos pais por atos que pertencem a nós. A senhora me acompanhou o crescimento ensinando-me prudência e calma, paciência e trabalho.
Mas eu sei que não eram as opiniões dos outros que a faziam chorar, mas sim a saudade — a saudade de sua filha que a senhora e meu pai amaram e amam tanto.
Vi que os remédios de tranquilizar anuviavam os seus pensamentos e momentos houve, naquele fim de 1976, em que a senhora, por minha causa, foi considerada sem equilíbrio mental suficiente para dominar-se.
O que orei, o que pedi, o que roguei para que a senhora e meu pai Victor continuassem vivendo, não saberia contar.
Antes de tudo, porém, sou eu que preciso de tolerância para ter paz. Perdoem-me. Não me queiram mal pelo acidente que não provoquei.
Mãezinha, depois de lutar muito para asserená-la, sinto muita fadiga do esforço que despendi.
Ajude-me perdoando. Não se lembre de sua filha com qualquer queixa.
Com a idade tão verde no corpo, reconheço que eu não tinha todos os reflexos para controlar a máquina, mas eu amava aquelas corridas, o carro que parecia calçado de patins ganhando tempo.
Peço à senhora e a meu pai que me desculpem. Não deixei a Terra fazendo o mal.
Mãezinha, eu fugia dos tóxicos e afastava-me de qualquer proposta de alguém capaz de me tornar menos parecida com a senhora, ou distante dos exemplos que recebi em casa.
O que eu tinha era a alegria de andar depressa, de caminhar com o tempo que eu dizia meu tempo, esquecendo que qualquer tempo é de Deus.
Júnior, meu querido Victorzinho, não queira tudo de uma vez, quando a vida aparecer a você com muitas facilidades. Espere e estude, trabalhe e fique forte.
Quando você conversar com sua irmã nos retratos, prometa-me que você será um bom rapaz, comedido e bom para nossos pais. Diga ao papai Victor que não morri, que moro num diferente país, onde a gente começa a aprender a pensar com mais segurança. Peça a ele que não entregue o trabalho de mãezinha unicamente para o vovô Pedro. Mãezinha precisa trabalhar com o estímulo de uma pessoa que se reconhece com a felicidade de receber o amparo justo pelo que faz.
Júnior, ajude nosso paizinho a pensar e pensar. Fale com ele que a morte não existe e que eu peço a ele esquecer os momentos difíceis em que o hospital nos apresenta de forma assim rude, na tentativa de salvar-nos da morte.
Agradeça, mãezinha, as preces de minhas queridas avós Clotilde e Assunta e agradeço também a tia Nair por ter vindo. Meu tio, que hoje conheço com tanta gratidão, está velando por ela, amparando-a e ajudando os filhos queridos. E peço a você, mãezinha Vera, que ore pela fortaleza de sua Wanda.
Às vezes, a tristeza me empana o coração como se uma nuvem me envolvesse. Compreendo que devo alimentar a esperança, só a esperança, mas voltei para cá sem uma preparação justa.
Os nossos amigos aqui me explicam que eu não tivera tempo para isso, com dezesseis anos apenas, entre o amor de meus pais e os livros que me impunham os deveres de organizar a vida.
Mãezinha, abençoe-me outra vez. Tia Nair, sua bênção para mim.
As lágrimas de alegria e de saudade pesam em mim como se meu coração fosse uma balança com dois pratos. Não sei se a saudade que ainda me pesa é mais volumosa que a alegria de poder dirigir-lhes esta carta.
Peço a Deus para que não venham para cá, um dia, com a violência com que vim, à maneira de planta arrancada à força do chão em que me cabia crescer. E tudo por minha própria conta, porque fui eu mesma a escolher o passeio e a corrida, o carro e os lugares por onde passei.
Preciso muito de ser lembrada por vocês com mais serenidade. Tenham paciência comigo. Nada fiz por mal. Fui vítima de mim própria.
Lembrem-se com aquele sorriso bom que você, mamãe, me recomendava fazer para enfrentar as dificuldades da vida.
Não posso dizer adeus. Não existe separação. Não existe fim.
Mãezinha, receba com o papai Victor e com o nosso querido Júnior, o beijo que lhe deixo na face como a criança acanhada por haver realizado uma travessura que nos trouxe tanta dor.
Ainda assim, é o beijo de sua filha agradecida, de sua filha que não a esquece e que pede a Deus manter a senhora e meu pai em sublime união, porque eu vou crescer aqui, vou melhorar-me e vou auxiliá-los. Auxiliem-me para que isso se dê mais depressa.
Mãezinha, mãezinha querida, perdoe sua filha e receba, com papai e com o Juninho, todo o coração da sua
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Mateus 16:27
Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.
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João 13:34
Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros: como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.
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