Antologia da Espiritualidade
Versão para cópiaAnseio de amor
Quando me vi, depois da morte, Em sublime transporte, E reclamei contra a fogueira Que me havia calcinado a vida inteira Pela sede de amor… Quando aleguei que fora, em toda estrada, Folha ao vento, Andorinha esmagada Sob o trator do sofrimento… Quando exaltei a minha dor, Mágoa de quem amara sempre em vão, Farta de incompreensão… Alguém chegou, junto de mim, E disse assim: — Maria Dolores, Você que vem do mundo, E se diz Tão cansada e infeliz, Que notícias me dá do vale fundo De provação, Onde a criatura de tanto padecer Não consegue saber Se sofre ou não? Você que diz trazer o seio morto, Que me pode falar Dos meninos sem pão e sem conforto, Das mulheres sem lar, Dos enfermos sozinhos, Que a febre e a fome esmagam nos caminhos, Sem sequer um lençol ou a bênção de uma prece, Dando graças a Deus, quando a morte aparece?!… Você, Maria Dolores, Que afirma haver amado tanto E que deve ter visto O sacrifício e o pranto De quem clama por Cristo, Suplicando o carinho que não tem, Que me pode contar daquelas outras dores, Daquelas outras aflições Dos que choram trancados em manicômios e prisões, Buscando amor, pedindo amor, Exaustos de tristeza e de amargura, Como feras na grade, Morrendo de secura, De solidão, de angústia e de saudade?!… ………………………………………………….. Bem-querer!… Bem-querer!… Ai de mim, que nada pude responder! Que tortura, meu Deus, a verdade, no Além!… Calei-me, envergonhada… Eu apenas quisera ser amada, Não amara a ninguém… |
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