Antologia da Espiritualidade

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Capítulo XIV

Falando ao Senhor


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Senhor!

Se hoje viesses em pessoa

Até nós,

Que te diria eu?

Que milhões e milhões de companheiros

Vagam em desatino

Sem cogitarem de saber

O que são e quem são?

Que a penúria de espírito campeia,

Insuflando amargura e rebeldia,

Sofrimento, ilusão?

Que o medo, em se alastrando,

Na escura inquietação a que se aferra,

Gera conflito e angústia, em toda parte,

Nos caminhos da Terra?

Que a riqueza do ouro não remove

Tristeza e solidão na alma ferida,

Que os engenhos perfeitos do progresso

Não enxugam as lágrimas da vida?


Que te diria eu, Jesus, se te encontrasse?

Que nos condói fitar a multidão

Dos que fogem de si mesmos,

Dando-se à dor maior por onde vão?

Que nos comove contemplar

A inteligência rica e, entretanto, insegura,

Elevando o conforto

Sem saber dissipar as sombras da loucura?


Que diria, Senhor?

Não te diria nada disso,

Pois sabes tudo ver muito mais do que nós.

Rogar-te-ia tão somente

A bendita prisão

Na força do dever

Que me guarde em serviço,

Para que eu saiba compreender

Sem azedume e sem alarme

Como aperfeiçoar-me

Para aceitar-te, enfim.

Porque tudo, Senhor, estará justo e certo,

Do que eu veja no mundo, longe ou perto,

Se a tua luz brilhar dentro de mim.




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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