Antologia dos Imortais
Versão para cópiaArtur Ragazzi
Foge à ilusão da forma que te ilude Entre sombras e lápides terrenas. Surpreenderás, na carne, sonho apenas De infância, mocidade e senectude… Ri-se o berço… Depois, a juventude É ligeira estação de horas serenas… Depois, ainda, as lágrimas e as penas Da velhice a chorar o inverno rude… Que a aspereza da estrada pouco importe… Segue, de coração piedoso e forte, Plantando o amor na Terra vasta e rica! Marca a esparzir o bem de escala a escala! O bem — o dom de paz que te assinala; Somente o bem é a luz de amor que fica. |
ARTUR RAGAZZI — Poeta largamente relacionado e estimado nos ambientes literários é sociais de Belo Horizonte. Italiano de nascimento, veio com os pais, ainda menino, para o Brasil, fixando-se em Ouro Preto. Em 1897, inaugurada a nova capital mineira, aí passou a residir até ao fim de sua existência. Foi uma das principais expressões do alto comércio de Belo Horizonte e elemento de valor nos círculos literários que nessa cidade se formaram à sombra de Alphonsus de Guimaraens e de Mendes de Oliveira. “Poeta de largos recursos,” — di-lo a Folha de Minas, em 5 de Novembro de 1948 — “era também Artur Ragazzi uma alma pura e sensível a todas as manifestações do calor humano.” Em vários jornais e revistas mineiros e cariocas saíram estampadas as suas produções líricas, “donde rescendem impulsos sinceros de uma inspiração privilegiada, a par de notável poder de expressão verbal”. (Veneza, Itália, 31 de Julho de 1879 — Belo Horizonte, Minas Gerais, 4 de Novembro de 1948.)
BIBLIOGRAFIA: ; ; algumas inéditas.
As poesias de números ímpares foram recebidas pelo médium Francisco Cândido Xavier e as de números pares pelo médium Waldo Vieira. Dispomo-las assim, por sugestão dos Amigos Espirituais.
Observe-se a enumeração.
Neste soneto assaz original, em que se associam versos alexandrinos, hexassílabos e hipérmetros de grande beleza, o poeta descreve-nos o momento final da vida na carne, quando no “imóvel espelho das pupilas” já não mais vislumbrava as paredes, o teto, as portas, mas apenas os seus velhos amigos desencarnados.
Leia-se sur-preen-de-rás, com sinérese.
Este texto está incorreto?