Antologia dos Imortais

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Capítulo XXIV

Emílio de Menezes


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Aflito peregrim, que na carne conservas

Cofre, arca, tesouro e riquezas humanas, 16

Converte em pão e luz pecúlios e reservas

Em prol de quem padece à míngua nas choupanas.


Criaturas, na Terra, existem como servas 19

Atadas ao grilhão da posse, em feras ganas,

No sinistro prazer das mentiras protervas,

Aos priscos sonhos vis das ilusões vesanas.


Ao homem que se esquece e jamais se vigia,

A fortuna mais alta é cárcere e desdouro…

Enriquece de amor a existência vazia.


Destruirás, desde agora, o ergástulo vindouro

Que encerra a alma infeliz nas raias da agonia,

Qual soterrado vivo em mausoléu de ouro. 28


EMÍLIO DE MENEZES — Amigo de Guimarães Passos e Olavo Bilac, Emílio foi uma das figuras mais populares do Rio de Janeiro. Temido poeta satírico, o “Caçador de rimas difíceis”, no dizer de Agrippino Grieco, conquanto eleito, em 1914, somente dias antes de sua desencarnação veio a tomar posse no Petit Trianon, sem as formalidades exigidas pelo Regulamento da Academia. Salienta E. Werneck que “Emílio de Menezes gravou os seus poemas a buril: foi um dos mais extremados na perfeição artística e no lavor da forma cuidada.” (Curitiba, Paraná, 4 de Julho de 1866 — Rio de Janeiro, Gb, 6 de Junho de 1918.)

BIBLIOGRAFIA: ; ; ; ; etc.



Observe-se a imagem que constitui, aliás, expressivo eufemismo.

Neste soneto, o poeta demonstra sua preferência pelas rimas raras e cruzadas, nos quartetos, com disposição característica nos tercetos (cdc, dcd), como o fizera em “Numa Lápide” (apud Os Mais…, pág. 99), “Envelhecendo” (apud E. de M., o Últ. Boêm., pág. 181), etc. Importante também é que encontramos neste “Recado” cinco martelos, o que corresponde à estatística de M. Cavalcanti Proença (Ritmo e Poesia, págs. 87-88), que, em 840 versos do grande satírico, encontrou 307 martelos. Isto vem demonstrar que, embora mais sério, o vate ainda não se libertou do ritmo comum aos mestres da sátira.

peregrim: forma antiga de peregrino.

18-19-28. Ler com hiato: “Co/fre/ ar/ca”; “cri-a-tu-ras”; “de/ ou/ro”. Cf. o 10º verso de “Envelhecendo” (apud Op. cit., pág. 181): “Prê/mio,/ qual/ de/les?/ Qual/ de/les/ é ex/pi/a/ção?”


(Psicografia de Waldo Vieira)



Francisco Cândido Xavier

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