Antologia dos Imortais

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Capítulo XXXV

Ismael Martins


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Se ontem, atribulado, andei sem rumo certo,

Nômade do ideal, gemendo estrada afora,

Hoje, crente, proclamo, ao coração que chora,

A alegria imortal do espírito liberto…


Renovado, feliz, vou pelo mundo agora,

Já não mais como fui, amargando o deserto,

E antevejo o painel do futuro entreaberto,

Em torrentes de amor a crescer hora a hora…


Em Jesus encontrei o Mentor dos Mentores,

A guardar no Evangelho a Cartilha Suprema,

Libertação do mal, consolação nas dores.


Glorificado seja o Senhor Bem Amado,

Erguendo a liberdade ao pé de cada algema,

Pregando a redenção para todo culpado!…



Suspenso em pleno peito amplo vergel florido,

Existe qual jardim sem espinho e sem hera…

Por mais chuva ou mais sol, conserva o colorido,

E, embora o frio em torno, esplende em primavera…


Do regato a jorrar não se escuta um gemido…

Nas brisas de perfume o amor jamais se altera…

E nesse abrigo santo, em pétalas tecido,

A doçura vigia em generosa espera…


Remanso de bondade em divino transporte,

Oásis no deserto a sorrir para a morte,

Quem consegue exaltar esse ninho fecundo?…


Só Deus !… Só Deus, usando a luz da aurora acesa,

Poderá definir a infinita grandeza

Do coração de mãe como a glória do mundo!…


ISMAEL Alves Pereira MARTINS — Poeta, jornalista e polemista, colaborou nas mais importantes revistas simbolistas do Paraná. Falando sobre o seu único livro de versos, Fernando Góes (. IV, pág.
221) conclui: “Poemas de alguém que teve uma vida de sofrimentos e que giram em torno do amor à família, da morte, da dúvida, da dor. De forma descuidada — Ismael confessa faltar-lhe o “segredo da Forma”, o “mérito da Arte” — esses versos são confissões e às vezes pungentes desabafos.” Pertenceu ao Centro de Letras do Paraná, do qual fora sócio fundador, e é, na Academia Paranaense de Letras, o patrono da cadeira n° 34. (Campo Largo, Paraná, 27 de Julho de 1876 — Curitiba, 7 de Dezembro de 1926.)

BIBLIOGRAFIA: , versos; , prosa; etc.


. O poeta atribulado de “Vinte e Nove de Julho…”


“Vinte e nove de Julho! Ao lembrar este dia,

Às vezes pergunto a Deus: porque nasci?”

(Apud A. Muricy, Pan. Mov. Simb. Bras., II, pág. 216.)


volta agora no poeta “renovado, feliz”, de “Glorificação”.

É forçoso dizer que, neste soneto, o poeta deixa transparecer a euforia natural daqueles que encontram a resposta às antigas dúvidas que os acicatavam. No caso presente, o autor de Ciclos, depois de fundamentar a “ideia vaga”, expressa nos quartetos do soneto “Eternas perguntas”, na qual admitia já haver vivido em outro mundo, demonstra não mais ignorar aquilo que deixou nos tercetos do soneto a que aludimos:


“De onde vim? Aonde vou? Será verdade

Que a morte não existe? A eternidade

Será o consolo prometido à gente?


O homem que será? Verme inconstante

Ou sublimado ser que a todo instante

Se transforma e revive eternamente?”

(Ap. Rodrigo Júnior e…, Ant. Paranaense, pág. 192.)



Aliteração em d.

Ler com hiato: ho/ra a/ ho/ra.

Note-se a elipse: “Por mais (que haja) chuva ou sol…”

Epizeuxe: “Só Deus!… Só Deus…


(Psicografia de Waldo Vieira)



Francisco Cândido Xavier

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