Antologia dos Imortais

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Capítulo XLVII

Virgílio Brandão


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Há diferença nas ruas

Da miséria e da abastança,

Mas é sempre igual nas duas

O sorriso da criança.


Coração que choras tanto,

Acharás decerto, um dia,

No imenso mar de teu pranto

As pérolas da alegria.


Eis a verdade corrida

Nas sendas de toda sorte:

Se a morte sucede à vida,

A vida sucede à morte.


O corpo diz ébrio e ufano:

— Domino e gozo tranquilo!

Diz a cova ao corpo insano:

— Deixa estar que eu te aniquilo!


Guarda bem essa lição

Em teus passos descuidados:

Pressa, falha e imperfeição

Caminham de braços dados.


A história de toda gente

Na eternidade é assim:

Provação primeiramente,

Depois a glória sem fim.


VIRGÍLIO BRANDÃO — Segundo Augusto Linhares (, pág. 117), V. Brandão foi um “poeta lírico à maneira de Juvenal Galeno”. Muito dado ao cultivo da trova, “há em suas quadrinhas a fluência e a doçura que tanto agradam ao nosso sentimento”, diz Mário Linhares (, pág. 103). Colaborou em quase todas as revistas literárias de Fortaleza. Era funcionário do Tesouro Nacional. Profunda neurastenia levou-o ao suicídio. (Fortaleza, Ceará, 10 de Junho de 1885 — Fortaleza, 12 de Abril de 1943.)

BIBLIOGRAFIA: ; , 2 vols. Deixou a publicar (ed. definitiva).


. Confrontando a semelhança de estilo do poeta de ontem com o vate espiritual de hoje, alinhemos aqui apenas duas trovas de sua autoria:


“Grande é o que, calmo, no leito,

Na hora de ir-se para o Além,

Pode dizer satisfeito:

“Nunca fiz mal a ninguém!”


“Basta a celeuma de um raio

Aos que se dizem ateus,

Para que sintam desmaio,

Para que gritem por Deus!”

(Ap. Col. Poetas Cearenses, págs. 117-118.)


Note-se que a analogia, a que nos referimos, não se prende tão só à temática, mas, também, à técnica, poética, principalmente no que tange ao gosto de uma ou outra sinalefa e ao esquema rimático do tipo abab.



Anadiplose: “…à vida/ A vida…”


(Psicografia de Waldo Vieira)



Francisco Cândido Xavier

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