Antologia dos Imortais

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Capítulo XXVII

Fábio Montenegro


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Contempla o campo agreste… Eis a tela soturna

Do imenso chapadão a perder-se de vista…

Mas se tudo é deserto e tristeza na crista,

Sob a terra que dorme, a semente se enfurna.


Da cova pequenina, improvisada urna,

Anônima e largada à lama que a contrista,

A árvore nasce ao sol com beleza imprevista,

Vencendo a expectação da gleba taciturna…


Ausculta, assim também, a solidão da lousa…

Nem fala que a revele ou força que a transporte…

Tudo aparente inércia ao lodo em que se olvida!


Entanto, à plena sombra, em que a cinza repousa,

Onde se junge o caos à escuridão da morte,

Emerge, soberana, a excelência da vida…


FÁBIO MONTENEGRO — Como poeta, colaborou na imprensa santista e paulistana, tendo sido um dos redatores da revista , escrita toda em versos, inclusive os anúncios. É patrono de uma das cadeiras da Academia Santista de Letras. A seu respeito diz Fernando Góes (. V, pág. 157): “Seus versos traem, a todo instante, a preocupação da forma, que ele próprio confessa, mais de uma vez, desejar seja impecável.” E S. Galeão Coutinho, no seu prefácio a Flâmulas, pág. 12, escreveu: “O verso foi para ele o palácio encantado onde se isolava para entregar-se a orgias maravilhosas de sons e coloridos.” (Santos, Est. de S. Paulo, 28 de Maio de 1891 — Santos, 21 de Agosto de 1920.)

BIBLIOGRAFIA: ; ; etc.


: Não obstante o poeta em algumas de suas composições, tais como “Introspecção” e “A um descrente”, deixe transparecer, pelo menos intuitivamente, ideias reencarnacionistas, pedimos vênia para transcrever-lhe, aqui, o soneto “A Árvore” (apud Pan. V, págs. 157-158), escrito por ele quando se achava no Plano Físico a fim de comprovar que “Nem tudo é silêncio” revela a preocupação do poeta de desfazer a ideia negativa que existe em “A Árvore”:


“Hirta, negra, espectral, chora talvez. Responde

Seu próprio choro à voz do vento que a fustiga,

Ela que ao sol floriu, floriu às chuvas, onde

A paz é santa, o campo é doce, a noite é amiga…


Essa que esconde a chaga, essa que a história esconde,

Que conhece a bonança e a borrasca inimiga,

Já foi flor, foi semente, e, sendo arbusto, a fronde

Ergueu para a amplidão às aves e à cantiga.


Que infinita tristeza o fim da vida encerra

A quem já pompeou do Sol na própria luz.

As flores para o céu e a sombra para a terra!


Foi semente, brotou… Árvore transformada,

Sorriu em cada flor; e hoje, de galhos nus,

Velha, aguarda a tortura estúpida do nada!”



Enumeração.

Cf. nota anterior.

Demo: “Demônio; pessoa turbulenta ou astuciosa”. Obs.: Tomem-se as palavras demônio, Lúcifer e outras que tais com o significado de Espíritos, nossos irmãos, que permanecem temporariamente nos círculos da ignorância, Espíritos esses, no entanto, que, um dia, se voltarão para o Eterno Bem.

Dos diversos aedos que nos trouxeram notificas do Umbral, nesta Antologia nenhum talvez tenha alcançado tanto realismo nas descrições quanto F. Montenegro, nestes perfeitos alexandrinos. E o mais importante é que, depois de fazer um inventário completo de todo o museu, fecha o soneto com chave de ouro, afirmando que “Tais formas e visões, frutos de nossas mentes,/ Morrem sempre igual sombra exposta a sóis ardentes,/ Ao vencermos o mal que nós mesmos criamos!…”

Aliteração em t.

Leia-se com hiato: “…improvisada/ ur/na.”


(Psicografia de Waldo Vieira)



Francisco Cândido Xavier


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