Antologia dos Imortais
Versão para cópiaFábio Montenegro
Contempla o campo agreste… Eis a tela soturna Do imenso chapadão a perder-se de vista… Mas se tudo é deserto e tristeza na crista, Sob a terra que dorme, a semente se enfurna. Da cova pequenina, improvisada urna, Anônima e largada à lama que a contrista, A árvore nasce ao sol com beleza imprevista, Vencendo a expectação da gleba taciturna… Ausculta, assim também, a solidão da lousa… Nem fala que a revele ou força que a transporte… Tudo aparente inércia ao lodo em que se olvida! Entanto, à plena sombra, em que a cinza repousa, Onde se junge o caos à escuridão da morte, Emerge, soberana, a excelência da vida… |
FÁBIO MONTENEGRO — Como poeta, colaborou na imprensa santista e paulistana, tendo sido um dos redatores da revista , escrita toda em versos, inclusive os anúncios. É patrono de uma das cadeiras da Academia Santista de Letras. A seu respeito diz Fernando Góes (. V, pág. 157): “Seus versos traem, a todo instante, a preocupação da forma, que ele próprio confessa, mais de uma vez, desejar seja impecável.” E S. Galeão Coutinho, no seu prefácio a Flâmulas, pág. 12, escreveu: “O verso foi para ele o palácio encantado onde se isolava para entregar-se a orgias maravilhosas de sons e coloridos.” (Santos, Est. de S. Paulo, 28 de Maio de 1891 — Santos, 21 de Agosto de 1920.)
BIBLIOGRAFIA: ; ; etc.
: Não obstante o poeta em algumas de suas composições, tais como “Introspecção” e “A um descrente”, deixe transparecer, pelo menos intuitivamente, ideias reencarnacionistas, pedimos vênia para transcrever-lhe, aqui, o soneto “A Árvore” (apud Pan. V, págs. 157-158), escrito por ele quando se achava no Plano Físico a fim de comprovar que “Nem tudo é silêncio” revela a preocupação do poeta de desfazer a ideia negativa que existe em “A Árvore”:
“Hirta, negra, espectral, chora talvez. Responde
Seu próprio choro à voz do vento que a fustiga,
Ela que ao sol floriu, floriu às chuvas, onde
A paz é santa, o campo é doce, a noite é amiga…
Essa que esconde a chaga, essa que a história esconde,
Que conhece a bonança e a borrasca inimiga,
Já foi flor, foi semente, e, sendo arbusto, a fronde
Ergueu para a amplidão às aves e à cantiga.
Que infinita tristeza o fim da vida encerra
A quem já pompeou do Sol na própria luz.
As flores para o céu e a sombra para a terra!
Foi semente, brotou… Árvore transformada,
Sorriu em cada flor; e hoje, de galhos nus,
Velha, aguarda a tortura estúpida do nada!”
Enumeração.
Cf. nota anterior.
Demo: “Demônio; pessoa turbulenta ou astuciosa”. Obs.: Tomem-se as palavras demônio, Lúcifer e outras que tais com o significado de Espíritos, nossos irmãos, que permanecem temporariamente nos círculos da ignorância, Espíritos esses, no entanto, que, um dia, se voltarão para o Eterno Bem.
Dos diversos aedos que nos trouxeram notificas do Umbral, nesta Antologia nenhum talvez tenha alcançado tanto realismo nas descrições quanto F. Montenegro, nestes perfeitos alexandrinos. E o mais importante é que, depois de fazer um inventário completo de todo o museu, fecha o soneto com chave de ouro, afirmando que “Tais formas e visões, frutos de nossas mentes,/ Morrem sempre igual sombra exposta a sóis ardentes,/ Ao vencermos o mal que nós mesmos criamos!…”
Aliteração em t.
Leia-se com hiato: “…improvisada/ ur/na.”
(Psicografia de Waldo Vieira)
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