Assembléia de Luz

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Capítulo VI

Norma da vida


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Sinto-te o coração dorido em prece

E perguntas, em pranto, alma querida e boa:

— “Como guardar a fé, sem que a prova nos doa

Nos recessos do ser?

Uma norma de paz haverá sobre a Terra,

Que consiga sanar as chagas da alma triste?”

Sem pretensão, respondo que ela existe:

— Trabalhar e esquecer.


A própria Natureza é um livro aberto,

Recorda o tronco antigo e a tempestade;

Desçam raios do céu, a nuvem brade,

Sob a crise da noite a estremecer,

Ei-lo, porém, ereto e firme, aguentando a tormenta…

Quebra-se-lhe quase toda a ramaria,

Ele guarda, no entanto, as instruções da vida:

— Trabalhar e esquecer.


Vejo a terra humilhada na lavoura,

Ferida e massacrada

Ao peso do trator e entre golpes de enxada

Tem nos vulcões rugindo o seu bravo gemer…

Mas, mesmo assim, produz o pão do mundo,

Injuriada e revolvida

Atende a ordenação que recebe da vida:

— Trabalhar e esquecer.


O fio d’água que nasceu na serra,

Pouco a pouco se fez amplo regato,

Percorrendo quilômetros de mato,

A correr e a correr…

Dessedentando pombos e serpentes,

Sofre a baba do lobo que o domina

E segue para o mar, ante a norma divina:

— Trabalhar e esquecer!…


Assim também, alma querida e boa,

Se carregas contigo farpas de amargura,

Desencanto, tristeza, desventura,

Chora, mas faze o bem — nosso alto dever…

Quanto às pedras e empeços do caminho,

Desengano e aflição, mágoa e mudança,

Olvida!… E segue as vozes da esperança:

— Trabalhar e esquecer!…





Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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