Assembléia de Luz

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Capítulo XXIII

Confissão de cantador


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Sou convidado a dizer

Com toda a satisfação

Da paz que o povo encontrava

Na alegria do sertão.


Olhando a Terra de hoje

Com tanto aviso de lei,

Não sei se o mundo mudou

Ou se foi eu que mudei.


Conversa da noite antiga

Era encharcada de lua,

Mas hoje o tempo da noite

É a buzinança de rua.


A gente via na estrada

Céu bonito e flor de cheiro,

Agora, é gente apressada

Na procura do dinheiro.


Menino quando nascia

Vinha em bacia enfeitada,

Agora, é barriga aberta

E a criança numerada.


Uma cabocla passante,

Se alguém atrevia a olhar,

Via a morena vestida

Da cabeça ao calcanhar.


Hoje em dia, moça fina,

Sem diferença de hora,

Anda sem medo na rua,

Mostrando as pernas de fora.


Há dias, olhando o mar

De um monte de samambaia,

Perguntei qual era a tribo

Que estava em banho na praia.


Quis ver o quadro das ondas

Na dança de “traz e leva”,

Mas fiquei de pensamento

No tempo de Adão e Eva.


Vi tanto gajo nadando

E tanta moça faceira

Que ali se a serpente andasse

Era simples brincadeira.


Quando vi a tentação

Na cabeça como eu pus,

Rezei o “credo” três vezes

E fiz o sinal da cruz.


Renovei o pensamento,

Levei meus olhos ao céu,

Depois, voltei para o campo,

Rezando no mataréu.


Mesa de vida moderna

É papo de gente rica,

Pouca gente sabe o gosto

Da pamonha e da canjica.


Das frutas de minha terra,

Quantas delas conhecia!…

Ata, acari, genipapo,

Axixá e melancia.


Manga doce vinha aos montes

Descendo de muro e rampa;

Hoje é fruta embalsamada

Em muita lata de tampa.


O santo quando saía

Em procissão benfazeja,

Todo o povo ajoelhava

Dizendo: “bendito seja”!…


Quem fala hoje na fé

A fim de salvar ateus

Já sabe que em qualquer praça

É pouca gente com Deus.


Negocião de hoje em dia,

Mostrando riqueza aberta,

É conversa clandestina,

Com ladroagem na certa.


Cantador tem seu limite,

Falar muito não me cabe,

Se a Terra ainda tem conserto

Só Deus, no Céu, é que sabe.





Leandro Gomes de Barros
Francisco Cândido Xavier


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