Assuntos da Vida e da Morte

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Capítulo VIII

Wellington Ramon Monteiro Rodrigues


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Filho caçula do Dr. André Monteiro Rodrigues e D. Helena (Edna) Monteiro Rodrigues. Os irmãos André, Adilson e Márcia completam-lhe o círculo familiar que cultivou com tanto amor em sua curta existência.

Na ocasião, cursava a Faculdade de Engenharia de Bauru, no interior paulista. Neste livro, publicamos uma das mensagens recebidas pela mediunidade de Chico Xavier, onde extravasa seus sentimentos, colocando-se em privilegiada posição espiritual, que lhe permitiu a participação em importantes socorros promovidos por abnegadas entidades do Plano Maior.

O profundo conteúdo de suas cartas mediúnicas, podemos senti-lo no depoimento do pai, que mostramos a seguir.


DEPOIMENTO


A princípio toda a família não se conformava.

Com o passar do tempo, amigos espíritas que nos visitavam, traziam notícias do Wellington e do Carlinhos. (Amigo também vitimado pelo acidente) Aceitávamos tudo, mas não nos conformávamos.

Por sugestão de um médico amigo, Dr. José Apolinário, fomos a Uberaba procurar Chico Xavier.

Dentro da casa do Chico, tive a felicidade de ouvir que o Wellington estava presente, em companhia do avô, Sr. Oswaldo, meu pai… Neste momento, não me contive, e as lágrimas encharcaram-me a face.

À noite, já na reunião, Chico psicografa a primeira mensagem do meu filho.

Ouvi sua leitura em prantos…

No local, havia cerca de duzentas pessoas. Pedi a palavra, e naquele momento fiz minha profissão de fé. Disse que ao Espiritismo uns vão por amor, e outros pela dor. Tinha ido pela dor, com a perda do filho estimado, mas graças a Deus fui…

À medida que falava e chorava, contagiava a todos, e o choro foi um só. Naquela época pouco conhecedor do Espiritismo, nada sabia explicar.

Passei a partir daí a abraçar a Doutrina Espírita, frequentando reuniões em casas de amigos e em Centros Espíritas.

Hoje tenho condições de dizer que o mérito não era meu e sim do Wellington, que já se encontra na Espiritualidade vinculado a entidades socorristas, praticando o bem, o que sempre fez quando de sua existência terrena.

André Monteiro Rodrigues

ENSAGEM


Querida mãezinha, com meu pai, receba o meu pedido de bênção.

Ainda me sinto muito desnorteado para escrever, mas o meu avô Oswaldo insiste para que eu lhes envie algumas notícias e não posso recuar.

Peço-lhes não chorarem com tanta expressão de sofrimento — e chamarem por mim.

Realmente, o problema foi uma parada difícil de resolver. Tive a ideia de que nos achávamos num pano de bilhar. Os carros eram as nossas bolas para pontos felizes e infelizes.

Toquei para determinada direção, mas outro veículo nos acertou em cheio. Desejei socorrer o Oldack, mas nada consegui. Não sei quanto tempo perdurou aquela minha situação de sono enfermiço, recolhendo as mais estranhas sensações. Queria manter-me aceso, mas nada consegui. Um sono profundo, traçado de sonhos em que tudo me vinha à memória, desde os meus primeiros dias de criança, empolgou-me totalmente.

Não tive outra saída, senão cair num torpor esquisito, no qual, se falei alguma coisa, foi claramente sem pensar. Depois de um tempo (que julgo longo) acordei numa tarde agradável. Conheci o lugar. Era o Jardim Melo Peixoto, propício à meditação e aos bons pensamentos. Quis arrancar-me de lá para casa, mas não consegui. Parecia que eu entrara em outros processos de existência, no campo da gravitação. Reconheci-me preso à terra e, sentado, esperei que alguém me orientasse nos passos de volta ao lar. Muitas pessoas passaram por mim, mas não me viam e nem me ouviam.

Estranhando o caso, e com a minha recordação do acidente a me empolgar o pensamento, continuei esperando… até que meu avô Oswaldo surgiu à minha frente, com dois amigos que se identificaram na condição de amigos dele, de nome Cristone e José Fernandes Grillo, que me convidaram para acompanhá-los. E surpreendi-me, porque entrelaçando o meu braço com o de meu avô, senti-me leve de inesperado, buscando junto deles o refúgio onde me vejo ainda em tratamento.

Estou melhor, mas nada sei do Oldack.

Tenho tido poucas oportunidades de ausentar-me do Instituto em que me vejo resguardado, mas meu avô Oswaldo me declarou que seria valioso trazer-me para um encontro já pedido, de modo a comunicar-lhes que vou indo bem, porque estou seguindo melhor. Quisera saber muito para falar menos um pouco sobre a morte, mas ainda não tenho recursos para isso. Esperemos que o tempo me prepare com mais esperança. Posso, porém, dizer-lhes que o nosso corpo aqui não está isento dos resultados difíceis que remanescem dos acidentes.

Não temos um corpo de impressões, e, sim, um veículo de manifestação com fisiologia maravilhosamente organizada. E a qualquer estrago obtido no mundo, nos casos de impacto, somos obrigados a tratamentos laboriosos, como acontece em qualquer hospital de Ourinhos.

É um mundo novo, com faculdades novas a servir-nos, mas não disponho de outro recurso, senão aguardar a passagem do tempo, a fim de fazer as minhas próprias averiguações.

Queridos pais, especialmente você, querida mãezinha: não me esqueçam em suas preces. Isso é um empreendimento de imenso valor, porque as recordações construtivas do mundo nos infundem mais esperanças e mais fé no futuro.

Não posso escrever mais, por hoje. Meu bisavô Rodrigues — que está conosco — e meu avô Oswaldo lhes deixam saudades carinhosas. E, de minha parte, peço receberem todo amor e todo o reconhecimento do filho ainda em convalescença e que espera restaurar-se depressa, para ser-lhes útil.

Sempre o filho reconhecido,

Wellington Ramon Monteiro Rodrigues

29.09.1979


ELUCIDAÇÕES



1) Oswaldo Ferreira Rodrigues — avô paterno, desencarnado em Curitiba-PR, a 09.09.1933.



2) Carlos Oldack de Bem — Carlinhos — amigo que desencarnou no mesmo acidente.



3) Praça pública de Ourinhos-SP.



4) Francisco Cristone — Político local e José Fernandes Grillo, antigo morador da cidade, desencarnados há vários anos.



5) Salvador Antônio Rodrigues — Bisavô paterno, desencarnado em Curitiba-PR.


Paulo de Tarso Ramacciotti


André Monteiro Rodrigues
Francisco Cândido Xavier

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