Augusto Vive

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Capítulo XVIII

Apostolado no lar


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Prezada irmã, recebi a sua comovedora solicitação, em que a senhora me diz: “Apreciando as suas páginas de otimismo, habitualmente endereçadas aos jovens, estimaria, de minha parte, obter alguma consideração sua com referência ao meu propósito de internar-me numa instituição destinada ao recolhimento de pessoas idosas, e por lá permanecer até o fim de meus dias. Temo opinar junto a familiares sobre os costumes modernos e ser considerada vítima de esclerose, tamanhas são as diferenças nos processos de vivência entre os meus tempos de mocidade e os tempos de agora. Por isso, estou preferindo isolar-me. Ainda assim, agradecer-lhe-ei algum parecer que me auxilie as reflexões”.


A sua confiança me sensibiliza o coração de rapaz, indebitamente transformado em consultor no contexto de certos problemas sentimentais. Não é a primeira vez que me dirijo a companheiros amadurecidos no Plano Físico, acerca de temas semelhantes.

Meditei, porém, longamente sobre a sua missiva e ocorreu-me a ideia de um apostolado novo para os avós. Que me diz de uma campanha que a senhora mesma incentivasse, no sentido de se transferirem os companheiros mais idosos na experiência terrestre para a convivência mais íntima com as crianças? Ao invés de se marginalizarem nos chamados pousos de amparo geriátrico, poderiam ser os amigos e acompanhantes dos pequeninos, a fim de que não lhes falte o diálogo construtivo e esclarecedor.

Depois de contatos diversos com observadores atenciosos, comecei a pesquisar as áreas imensas da infância. Só então me conscientizei, quanto às legiões dos órfãos de pais vivos, no tocante à formação espiritual e à orientação para a vida.

O progresso intimou a mulher a partilhar com o homem do serviço áspero das atividades técnicas dos novos tempos. Temos as administradoras e médicas, as engenheiras e advogadas, nos encargos públicos e na concorrência profissional.

Muitas delas são mães, capazes de pagar excelentes honorários a governantas dignas para os filhinhos na meninice primeira. Entretanto, raramente a colaboradora mercenária possui bastante sentimento para se afeiçoar maternalmente à criança. Em razão disso, anotamos muita gente mirim, brincando, através do dia inteiro, diante da televisão acesa com imagens e sons inadequados para as vidas iniciantes, adquirindo as ideias e os hábitos e até mesmo as reações e as palavras dos heróis truculentos dos filmes e peças de violência, fantasiados de histórias para o mundo infantil.

Frequentemente, os chamados “pré-primários” acolhem meninos tenros, já inclinados para a delinquência, diante dos espetáculos constantes de brutalidade a que assistem quase que diariamente, sem a supervisão dos pais, chamados pelas circunstâncias às lutas competitivas do trabalho e da inteligência, fora de casa. Não será mais justo que os avós retomem o posto na família, auxiliando aos netos e aos descendentes outros a raciocinarem com segurança?

A violência no mundo está aumentando na medida em que a criança se vê dourada por fora e desvalida por dentro.

Se a senhora possui criancinhas no grupo doméstico, e quase toda gente as possui, fique ao lado dessas flores humanas que desabrocham nos lares terrestres, amparando-as com diretrizes firmes e justas para que elas amanhã produzam frutos de paz e felicidade em benefício da vida comunitária. Claro que isso é uma sugestão. Ninguém é obrigado a pensar pela cabeça dos outros.

E se formulamos semelhante alvitre é que existem expedições e caravanas de assistência, socorrendo, compreensivelmente, aos pequeninos favelados para que não lhes faltem o agasalho e o pão de cada dia, mas nos mais cultos agrupamentos sociais dos centros urbanos se encontram milhares de crianças entregues às mais tristes necessidades da alma, transfigurando-se, pouco a pouco, em futuros delinquentes por falta de amor e de educação.




Augusto Cezar
Francisco Cândido Xavier

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