Augusto Vive
Versão para cópiaCampanha amiga
Senhora. Decididamente, o seu convite é uma honra. A sua bondade me fala em conjugarmos esforços no apoio aos companheiros marginalizados pelo desgaste físico.
Sem dúvida, não é justo empregar a palavra “velhice” a fim de nos reportarmos a esses irmãos valorosos que souberam atravessar as barreiras do cotidiano, na Terra, sem recorrerem à fuga ou ao suicídio. Que são heróis já se vê. Formaram famílias robustas. Doaram-se a filhos e netos. Ergueram lar seguro para os descendentes. Trabalharam com fidelidade extrema aos próprios deveres. E agora muitos deles se espalham por aí, largados a si mesmos ou afetuosamente detidos nos chamados “refúgios geriátricos”, sentenciados à tristeza, como se exílio fosse prêmio à dedicação.
Compreendemos que essa campanha em auxílio aos super-idosos não inclui qualquer gênero de crítica aos grupos sociais. No crepúsculo da reencarnação, os companheiros da estrada humana, quase sempre, estão cansados, qual se não tivessem tido tempo para socorrer aos próprios nervos, senão quando a aposentadoria os alcança na compulsória.
E estamos convencidos de que a maioria deles se recolhe a pensionatos de tratamento e descanso atendendo a decisão voluntária. Sentem-se esses nossos irmãos incompatibilizados com as extravagâncias de determinados descendentes, declaram não suportar os costumes dos bisnetos, nem a algazarra das crianças. E retiram-se para as casas de repouso, no ilusório tentame de esquecer. Entretanto, a família lhes palpita nos recessos da alma. Começam a viver de recordações, imobilizados no tempo, com as lágrimas dependuradas nos olhos, esperando que o carinho de alguém lhes reaqueça os corações.
Temos tantos casos desses, sob nossa observação que só nos resta formular os melhores votos pelo êxito do empreendimento que se reveste de tamanha oportunidade.
E se você, coração amigo, se você nos pode emprestar os ouvidos, escute o nosso apelo. Se possível, adote uma criatura super-idosa por parente, sem afastá-la da paisagem na qual se encontre. Você surpreenderá o seu tutelado tanto em algum recanto esquecido, onde a penúria fornece lições de humildade e fé em Deus, quanto em algum pouso aristocrático, no qual a saudade leciona paciência e conformação.
Se é carência de ordem material o problema de seu protegido, recorde a importância de que o alimento e o agasalho se revestem para ele, e se é pesar pela ausência da família, conceda-lhe alguns minutos de conversação por semana. Meia hora de entendimento, um livro reconfortante, algum tópico mais expressivo da imprensa, essa ou aquela página de carinho ou um simples bilhete que demonstre atenção, constituem ingredientes de que se lhes entreteça o reconforto.
Mas por obséquio, não chame os seus protegidos por “vovô” ou por “vovó”, porque essas titulações pertencem aos pais de seus pais e, quando atiradas a outrem, podem ser pontas de sarcasmo que humilham ou depreciam aqueles que as recolhem.
Trate com gentileza o companheiro ou a irmã aos quais você se proponha auxiliar, como se estivesse à frente de um amigo e hóspede de Jesus.
E lembre-se de que se você não desencarnar na mocidade ou nas primeiras faixas da idade adulta, igualmente passará pela obrigação de tolerar o “tempo do desgaste” e, com toda a certeza, embora as plásticas regeneradoras em larga usança no mundo de hoje, você também andará de corpo abatido a inclinar-se para o chão até cair…
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