Augusto Vive
Versão para cópiaCura da tentação
Cara, a sua consulta me desbaratina. Receita contra a tentação. Nunca havia bolado isso.
Muitos cupinchas na Terra acreditam que a morte me colocou em algum nicho ou que me transformou em Doutor Sabetudo. Nada disso. A gente pinta nas bandas de cá do jeito que andava por aí.
O companheiro, em geral, sai tão milongado da Terra que desembarca nestas paragens, procurando badalação e melado e acorda aqui de bola vagolina, pensando em festa de aniversário com a furiosa mandando brasa em algum dobrado de ir pras cabeças. Mas muito depressa a pessoa se vê michuruca com tanto pessoal incrementado no lesco-lesco pelo bem de todos, que não há outro remédio senão largar o trombone de lado e seguir pras quebradas do serviço.
Se há novidade nestes pagos é aquela da mudança por fora com a mesmice por dentro. O sujeito acredita que obteve medalha na troca de roupa e fica empiriquitado, julgando que pode grilar até mesmo a moringa dos anjos. Em poucos dias, porém, descobre que estava com minhocas no miolo. Mudou de residência, mas tentação taí firme.
E o babado tem muitos bicos. Cada qual tem um plá diferente. A tentação pode ser fumaça de marumba, paquera de dondocas, mania de grandórias, sono de birita, botar coca pra jambrar dentro da cuca, usar o pau de fogo por cima dos cascas de ferida ou pendurar as chuteiras no mole pra bancar o doidão da vida.
Seja lá o que for, quando o desejo fajuto pintar em seu teto, mude o dial no rádio de seu coco, partindo pra outras no pensamento; se não puder fazer isso, tranque a lata num quarto de casa e tire umas pestanas; se isso não der pedal, corra pra outras paróquias, onde não haja bulhufas da sua empolgação, e se esse recurso for impraticável, entre no primeiro hospital que lhe surja à frente e esfregue o chão na limpeza, com pagamento a leite de pato, até que a bobeira desapareça.
Creia que é muito melhor passar por lelé do que ficar olhando o sol quadrado, todos os dias, entre os pensionistas do governo.
Parece que esta é a melhor sugestão nesse passo, porque, até hoje, não vi ninguém com a tentação de ajudar prefeituras, calejando as mãos gratuitamente, em nivelamento de ruas e nem conheço pessoas que se mostrem tentadas a passar férias nas enfermarias em que estejam nossos irmãos cancerosos ou obsedados.
Isto é o que posso dizer na cura da tentação, mas se você não puder acreditar no que afirmo, siga o seu desejo violento de fazer isso ou aquilo e, depois, fique na sua fossa particular. O tempo, sem conversa mole, fala mais do que nós. Quanto ao mais, boa sorte e tchau pra você.
Se eu disse o que talvez não pudesse dizer, guarde a certeza de que falei o que falei.
.: Para melhor compreensão de algumas expressões utilizadas pelo autor espiritual vide .
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