Augusto Vive

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Capítulo XIV

Assunto de mães


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Prezada Irmã. Creia que o seu pedido me sensibilizou o coração de rapaz inexperiente.

Após registrar-lhe o chamado, fui ouvi-la de perto. Suas mãos acariciavam o retrato de jovem senhora, aparentando um tanto mais de vinte janeiros, enquanto o seu pensamento nos dizia: “Anseio receber socorro para minha filha doente.” E acrescentava:“Augusto, você que não mais vive na Terra, auxilie-me a filha casada e enferma.”

Procurei conhecer a história dela nos clichês das suas lembranças. A menina casara-se aos dezoito. Enlace feliz. Esposo dedicado e um lar florido de bênçãos. Tudo parecia felicidade sem alteração quando apareceu o imprevisto. A gravidez chegara, no entanto a moça rejeitara a situação. Não queria filho sem encomenda prévia. Concordaria em ser mãe, porém, quando quisesse. Sem haver controlado a própria natureza, decididamente não. O marido insistia. Disputava a criança. Sempre aguardara o instante de ser pai. Despontaram desentendimentos e discussões. A moça, no entanto, vencera. Dirigira-se a determinada senhora que lhe vendeu a colaboração e livrou-se do encargo que considerava problema.

O companheiro, desgostoso, reclamara inutilmente. O conflito demorou-se entre os dois e, a breve tempo, a mãezinha frustrada apresentava evidentes sinais de perturbação. Providências e tratamentos. A jovem foi internada num sítio de repouso, passando a conviver com desequilibrados e nervosos. Anotei o endereço e decidi-me a visitá-la.

Posso agora dizer-lhe o que vi. Não encontrei uma pessoa dementada, qual seria de esperar. Surpreendi a imagem da angústia. A filha de suas orações se reconhecia lesada, incapaz de governar os próprios pensamentos. E chorava deprimida… Mas não só isso. Acompanhando-a, estava ali a criatura que ela expulsara do próprio seio, lamentando-se e acusando-a. Entre os dois, as lágrimas se misturavam e os sentimentos se embatiam na mesma expressão de dor.

O quadro nos enterneceu, de tal modo que aos seus requerimentos de auxílio, endereçamos ao seu carinho igualmente os nossos, pedindo-lhe amparo, em favor da filha querida e daquele outro ser a quem ela haverá prometido novo berço no mundo.

Prezada.irmã, não se lastime. Corra ao encontro de sua filha e dialogue com ela, esclarecendo-a para a vida melhor. Ensine-lhe a não recusar a maternidade, recordando-lhe o próprio exemplo.

Diga-lhe que a senhora não lhe sonegou asilo no coração materno; quando ela mesma precisou de refúgio na casa física.

Fale-lhe da grandeza da vida, do alto sentido da presença feminina sobre a Terra e dos nossos compromissos para com as Leis de Deus.

Coloque-a, outra vez, em seus braços, beije-lhe a face e converse com carinho. Então esteja certa de que a senhora terá salvo a sua filha da alienação mental e estará, em breve; auxiliando uma criança a reviver e sorrir.




Augusto Cezar
Francisco Cândido Xavier


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