Augusto Vive
Versão para cópiaVivência cristã
Prezada Irmã. A sua carta nos comoveu. Compreendemos. A senhora se declara fatigada. Anseia integrar uma equipe fraterna, em que possa desenvolver os seus ideais de bondade, no entanto, está encontrando unicamente motivações a desgostos. Incompreensões e antagonismos. Observações descaridosas que lhe depreciam as melhores intenções. Críticas e fofocas. E nos solicita: “Augusto amigo, como ajustar-se a pessoa ao relacionamento cristão? Não poderá você enviar-me algumas notas ligeiras, em derredor do assunto?”
Francamente, a sua confiança nos confunde e, por isso, limito-me a endereçar-lhe a página breve, que consideramos de elevada importância nas relações dos grupos evangélicos, de uns para com os outros.
Conta um benfeitor espiritual que, depois da crucificação de Jesus, ei-lo de volta, às vezes, quando menos se esperava, para essa ou aquela visita a determinado seguidor. O Divino Mestre ressuscitado empenhava-se em acalentar a fé nos discípulos vacilantes e intranquilos.
Foi assim que, em certa noite, o apóstolo Tiago, o mais idoso, em orações ao Eterno Amigo, clamou desalentado: — Senhor, como interpretar a lição do amor que nos ensinaste? Os instrutores antigos foram unânimes em declarar, de geração a geração, que se deve odiar o mal e só vejo o mal em torno de nós. Enquanto estendemos as mãos no socorro aos que sofrem, surgem adversários que nos espancam os braços. Pronunciamos a palavra fraterna no trato com os semelhantes, mas, ao nosso lado, esbravejam aqueles que nos injuriam com expressões cruéis. Das migalhas que nos chegam às mãos, repartimos com os necessitados a maior parte, contudo não são poucos aqueles que nos penetram a moradia, mostrando falsa mendicância, para furtar-nos o apoio que nos envias, através de corações generosos para socorro aos infelizes. Os poucos amigos que colaboram conosco são perseguidos e humilhados. Muitos deles já foram acusados de crimes que não cometeram e espancados ocultamente nas prisões, até que se lhes demonstrassem a inocência… Senhor, que fazer diante de tanto mal? Somos simplesmente um punhado de criaturas indefesas, à frente das legiões de inimigos armados até os dentes!…
Entretanto, ainda não terminara as alegações quando estranho rumor se fez ouvir. Doente rebelde, que se recolhera no refúgio dos apóstolos, regressava da rua em graves condições. Largara-se dos compromissos assumidos, excedera-se numa festa e se embriagara com o vinho forte. Chegava tarde e gemendo, em descontrole, esquecia-se do benfeitor a quem devia respeito e bradava: — Saia daí, santarrão de mentira!
E cambaleando: — Erga-se daí e dê-me o remédio. Cumpra com as suas obrigações e não me venha com pregações encomendadas!…
Tiago se mostrava a ponto de irritar-se quando, na penumbra do quarto, viu que alguém escorava o infeliz, evitando-lhe a queda. Fixou o desconhecido com atenção, até que reconheceu nele a presença do Mestre.
Comovido e pasmo, o companheiro indagou: — Mestre, pois, pois és tu?
Jesus estendeu a mão no rumo do infeliz, como a indicar-lhe a tarefa de assistência que lhe cabia fazer e, antes que se lhe ocultasse a visão, disse-lhe apenas: — Tiago, eu não vim ao mundo para curar os sãos!…
O discípulo transformou-se, renovando a própria atitude e eu, querida irmã, dentro de minha pequenez, peço a sua permissão para lhe dizer que, em matéria de assistência cristã, em nosso relacionamento com Jesus e com o próximo, a nossa situação é isto aí.
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