Bastão de Arrimo

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Capítulo V

Renascimento

“Não há ressurreição sem Calvário”


Querida mamãe, que Deus nos abençoe, na tarefa em que nossas almas continuam empenhadas, firmes na fé, o único sol que nos vem iluminando nesta noite tão grande de saudade, de separação e de dor, que perdura há três anos, no mundo de nós dois, no país oculto de nossos sentimentos.

Parece um capricho da natureza. Quando o seu coração está mais triste e me é possível enviar ao seu carinho algumas palavras diretas, o céu está sempre assim, chorando simbolicamente, com a chuva melancólica, amortalhando a natureza.

E eu sei, mamãe, que sua alma é um céu estrelado de esperanças e que atualmente vive carregado de nuvens pesadas com o pranto do sofrimento. Não creia, porém, na solidão.

Há dias em que a subida deste monte — que é a nossa redenção divina — está mais áspera, mais dolorosa. Entretanto, mamãe, não há ressurreição sem Calvário.

Como falei aos seus ouvidos carinhosos, é preciso cuidar da saúde física, para que tudo aí na Terra termine bem. Não quero que a senhora chegue aqui desolada e aflita.

Quero cooperar com sua luminosa tarefa na conquista da paz e felicidade e hei de trabalhar com todas as minhas forças a fim de que a sua vinda seja, de fato, uma libertação.

Seguirei com a sua alma, através das sombras, passo a passo. Quando não soubermos o caminho, a Mão Divina do Senhor virá socorrer-nos, em meio das trevas, quando as lágrimas não nos permitam divisar as réstias de luz. E, embora tateando, mamãe, sei que encontrarei o amparo d’Ele, para que nós prossigamos nesta marcha difícil.

Aí na Terra, nunca pude compreender com segurança seu devotamento a Jesus, sua invejável confiança.

Minha consciência sabia, mas meu coração de menino ainda não havia rompido os envoltórios das fantasias naturais de moço, mas, aqui, mamãe, eu sei como Ele é grande e bom.

Quando todos dormem e a senhora procura um meio de acomodar-se no leito, inutilmente, porque imenso é o cansaço físico, eu estou ao seu lado, rogando, rogando…

E Jesus, mamãe, faz com que luzes abençoadas desçam até as mãos humildes de seu filho, a auxiliá-la a repousar ou a levantar-se pela manhã, quando a necessidade nos chama para os serviços de cada dia.

Quando a vejo de pé, como me sinto feliz! Lembro-me que seu ideal carinhoso era o de ver-me integrado mais tarde, na Medicina. E como agradeço ao Senhor a graça de sentir na senhora a minha primeira e mais querida cliente!

Seu William precisava ter vindo. Aí no mundo, demorar-me-ia muito a compreender as suas aflições silenciosas. Não teria os olhos que hoje tenho para ver onde lhe dói a mágoa, nunca a veria talvez, chorando, para dentro, com saudades do Wilson e com as provas grandes que se abatem constantemente sobre o seu coração e que não preciso comentar numa carta escrita com as pobres letras humanas.

Agora, mamãe, sou um filho e um vidente do seu coração. Agora conheço o seu espírito, cheio de feridas luminosas. Levante o ânimo e procuremos caminhar. Grandes são as lutas e árduos os trabalhos. Fixe, porém, os olhos no Alto e sigamos.

Tenho sonhado com a nossa felicidade, quando a senhora chegar aqui. Tenho trabalhado, mamãe, imensamente angariando simpatias novas para organizar muitas realizações generosas e belas.

Ah! Como é feliz o coração liberto depois que a dor bem vivida nos deu a chave do paraíso divino do reencontro.

Temos aqui escolas, templos, afeições sublimes, belezas inimagináveis que o homem do mundo não pode conceber.

Entre sorrisos de crianças há mãos amorosas que felicitam e abençoam. E eu vou examinando, observando cada detalhe da luz, como os afetos sublimes esperam uns pelos outros, e organizarei para nós o ninho de ventura, onde possamos retemperar energias e continuar trabalhando por tantos amores nossos que preferiram a caminhada de espinhos, quando Jesus nos concedeu a sementeira de felicidades e bênçãos.

Com vê, pois, mamãe, nem tudo é lágrima é sofrimento. Temos a esperança, a Divina Esperança.

A senhora é o meu céu estrelado que o mundo povoa de nuvens, mas as nuvens se desfarão quando o firmamento brilhar de novo, com toda a beleza de seu maravilhoso esplendor, quem sabe? Os dias escuros terão terminado para sempre e entoaremos, então, o novo cântico de luz. Até lá e agora e sempre conte comigo.

É verdade que sou ainda pobre, mas meu coração é sempre rico de amor pelo seu.

Confiemos em Jesus e prossigamos. Ele estará conosco eternamente. Não se desanime.

A todos, as minhas lembranças de irmão e, como sempre, mamãe, receba-me em sua alma.

Dentro do seu coração tenho meu ninho de luz.

Guarde, pois, sempre a confiança no filho que não a esquece.




Mensagem recebida em Pedro Leopoldo no dia 25/09/1944, terceiro aniversário de Vida Nova de nosso William.


Da. Adélia havia se convertido ao espiritismo desde a mocidade.


A Medicina era o ideal do jovem William quando encarnado e o sonho de sua mãe era o de vê-lo como médico, por isso, toda a família o apelidada de Dr. Fedegoso.


Convém ao leitor examinar a sequência de obras ditadas pelo Espírito de André Luiz ao médium Francisco Cândido Xavier, para compreender melhor esta referência do rapaz William.



William
Francisco Cândido Xavier


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