Bastão de Arrimo
Versão para cópiaFelicidade
“Oh! mamãe, não será felicidade sonhar chorando, como fazemos agora?”
Querida mamãe, peço a Deus que nos abençoe a todos e rogo ao seu coração carinhoso abençoar-me.
Aqui estamos, no meu quarto aniversário de vida nova, chorando e rindo, nós dois, como no primeiro dia da nova jornada.
Parti para o desconhecido da separação, a senhora seguiu também para o infinito da saudade.
E por isso, ambos choramos na distância, mas o Santuário da Fé nos reúne para cultivar a esperança e rimos de contentamento porque Deus é cada vez mais vivo em nosso amor.
Em verdade nossas mãos não se apertam, como nos dias que se foram, nossos lábios tocam-se no mesmo beijo carinhoso, sem a sensação integral da presença, entretanto, mamãe, estamos juntos — eis tudo — juntos, em espírito, o que quer dizer sempre unidos na eternidade.
Sabe sua alma o quanto me dói havê-la antecedido na grande viagem. Sempre tive medo de deixá-la, embora não o dissesse em viva voz. Enquanto os meninos saíam, mamãe, eu meditava na dor que experimentaria se me separasse de seu afeto e subia-me ao coração o desejo de permanecer invariavelmente a seu lado.
Arquitetava planos numerosos, dentre os quais, embora não lhe contasse, estava o de uma casinha feliz onde sua alma encontrasse a paz.
No entanto, na Terra, ignorava que Deus me concedia semelhante ideal, não para o mundo físico, mas para que fosse concretizado aqui, onde a esperarei com os meus braços saudosos.
A saudade dá esperanças e a esperança dá forças.
Farei aqui, com o Auxílio Divino, o ninho doce em que descansaremos.
Plantarei flores de amor para aguardá-la. Esqueceremos o horizonte sombrio, as pedras e os espinhos da terra não nos alcançarão, e seremos uma grande família — a dos filhos de Deus que a senhora tem amado em seu carinho de amiga de todos os que padecem.
Aprenderei na sua companhia o que a juventude física não permitiu que eu aprendesse aí no mundo.
Segui-la-ei de perto e terei em sua dedicação o meu maior tesouro, tesouro que é meu, desde muito, desde séculos…
Oh! mamãe, não será felicidade sonhar chorando, como fazemos agora? Nossas lágrimas, sabe Deus, são filhas do júbilo do reencontro, da alegria de nos sentir unidos para sempre.
Estou saudoso, mas feliz, muito feliz, porque temos caminhado espiritualmente, compreendendo que a nossa maior ventura nasce da ventura que pudermos oferecer aos outros.
Não duvidemos do Divino Poder. Seremos amparados, inspirados, conduzidos e, por fim, venceremos. Quando os homens julgarem que a morte nos trouxe a derradeira derrota, então, mamãe, consolidaremos a nossa verdadeira vitória.
Abençoado seja Jesus que nos livra da noite espiritual e nos ilumina a estrada para o Alto.
Relativamente aos problemas domésticos, estou em sua companhia no desdobramento de todos eles.
Também estou reconhecido à Providência Divina, por haver ouvido nossas súplicas no caso de nossa pequena Lívia, graças a Deus, sentimo-la no porto da vida, em segurança.
Que horas angustiosas vivi… ao seu lado, mamãe, receando também que ela regressasse para cá, deixando-a mais só. Jesus, porém, atendeu-nos e rendo graças.
Ela ainda requer cuidados especiais. É preciso telefonar para Wanda assistindo-a com os conselhos precisos.
Estamos fazendo o possível pela consolidação das melhoras dela, mas em casa é necessária muita cautela.
Estou implorando a bênção Divina para o W… Conheço todas as aflições que a senhora tem experimentado e sei que as suas inquietações são justas. Vamos ajudá-lo com todas as nossas forças.
Agora que penetrou no caminho do casamento, é imprescindível que duplique as suas noções de responsabilidade. Confiemos em Deus. Para ele e esposa que as dádivas do Céu sejam derramadas do Alto, sustentando-os na luta.
Meu abraço a todos, com afetos ao papai, à Ivone, à Wanda, ao Nonô, para todos a minha gratidão sincera.
Espero, mamãe, que o seu coração continue à frente de todos, suportando heroica e abnegadamente as dores da vanguarda. É a nossa redenção comprada a preço de lágrimas e sofrimento.
E agora, agradecendo também ao Zeca reafirmo-lhe o meu carinho. Ouvi todos os seus pedidos e guardei toda a sua ternura nas preces que me consagrou no sítio, que Deus reservou às minhas lembranças do mundo físico.
Agradeço, mamãe, por tudo, por suas flores, seus beijos, suas preces e seus votos de amor. Um dia seu filhinho retribuirá tudo, um dia, quando o drama do mundo houver terminado e eu puder fazer-lhe sentir a extensão e a eternidade do meu grande e imenso amor.
Que Jesus nos guarde e fortaleça o seu coração em todos os dias da vida.
Guarde, mamãe, todo o coração reconhecido do seu
Mensagem psicografada no dia 25/09/1945, em Pedro Leopoldo.
Contam-nos elementos da família que quando Dª Adélia se ausentava do lar a desincumbir-se de seus diversos afazeres, o ainda garoto William entrava costumeiramente em choro convulsivo, sem declinar qualquer razão plausível para o fato. Não foram poucas as vezes em que Dª Adélia retornava pressurosa para junto do filho aflito.
A então menina Lívia, neta de Dª Adélia e filha de Wanda Figueiredo Noronha, irmã de William, na época contava apenas alguns poucos meses de idade e sofria do mal de “espasmo de glote”.
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