Baú de Casos

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Capítulo XV

Assunto de mocidade


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Você pede apontamentos,

Caro amigo Pedro Cisso,

Sobre este assunto importante:

Mocidade e compromisso.


Eis um tema complicado

Embora em pauta comum,

Porque envolve a liberdade

Que pertence a cada um.


Juventude é aquele tempo

De alegria, amor e fé,

Lembrando roseira em flor

Com muito espinho no pé.


Muito moço crê que pode

Ser feliz fora do lar,

Deixa a casa e encontra o mundo

Difícil de atravessar.


Muitas vezes, o rapaz

Busca o prazer de corrida,

Depois, é que reconhece

Que estragou a própria vida.


Mocidade, sobretudo,

Pelo sim e pelo não

É o momento em que se faz

A própria definição.


O espírito, antes do berço,

Notando o brilho do bem,

Sonha tarefas gigantes,

Traça promessas no Além.


Aqui, se rogam renúncias,

Sacrifícios, lutas novas,

Mais adiante, há quem peça

Grandes dores, grandes provas…


A existência recomeça,

A meninice termina,

Aparece a juventude

Que resolve ou determina.


Então, se vê muitos jovens

Vivendo impulsos violentos,

Principiam negações,

Revoltas, esquecimentos…


Diante da obediência

Às próprias obrigações,

Explodem as teimosias,

Protestos e deserções.


São muitos os casos tristes

De desencantos extremos

Nos conflitos dolorosos

Que nós mesmos conhecemos.


Confesso hoje a você:

Depois de desencarnado,

É que vejo cada história

Nas formações de “outro lado.”


Nasceu para a engenharia

O nosso Dedé Noronha,

Achando a tarefa enorme

Derivou para a maconha.


Rogou encargo difícil

Para viver de ajudar,

Mas Zico, anotando a luta,

Mudou de nome e lugar.


Lilía pediu doença

A fim de elevar a vida,

Na hora do sofrimento,

Matou-se com formicida.


Solicitou disciplina

O nosso irmão Tino Fraza,

Achando os pais exigentes,

Largou-se da própria casa.


Suplicou penúria grande

Tentando ganhar mais fé,

Quando encontrou a pobreza

Rebelou-se o João José.


Implorou vida amargosa

Nossa Vitória Maria,

Ao ver-se na própria escolha

Partiu para a rebeldia.


Mas não se deve esquecer

Milhões de jovens que estão

Fiéis ao melhor da vida,

No esforço de elevação.


Quanto ao resto, é como diz

Nosso amigo Adão Morais:

— “Onde o velho não ajuda

O menino sofre mais.”




Cornélio Pires
Francisco Cândido Xavier


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