Baú de Casos

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Capítulo XIX

Antipatias


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Eis aqui sua pergunta,

Minha prezada Lilia:

De que modo liquidar

A força da antipatia.


Você sabe. Antipatias

Na sombra espessa em que estão

Aparecem de improviso,

Quase sempre sem razão.


O assunto chega de longe,

Parece graves feridas,

Moléstias do pensamento

Que trazemos de outras vidas.


Comumente, a novidade

É cousa que nos alcança,

Quando alguém de encontro novo

Não nos causa confiança.


Aumentam-se gentilezas,

Seja no lar ou na rua,

Mas a repulsa por dentro

É sombra que continua.


Aí, é a doença antiga

Que nem sempre vem à face,

Veneno desconhecido,

Ódio velho que renasce.


Declarada a enfermidade,

Usemos, de modo atento,

O remédio da oração

Que nos traga o esquecimento.


Depois da prece que extinga

Esse mal que nos invade,

Procuremos o exercício

Da paz e da caridade.


Meditemos no passado…

Que teria acontecido?

Quem nos impõe desagrado

Talvez nos haja ferido.


Ou talvez, sejamos nós,

Segundo o reto pensar,

Os causadores da sombra

Com culpas a resgatar.


Por isso, quando apareça

Algum inimigo à frente,

Peçamos a Deus nos dê

Compaixão que ajude a gente.


Por vezes, quem nos pareça

Dose de cobra ou leão

É uma pessoa cansada

De espinhos no coração.


Terá sido noutras eras

Terrível perseguidor,

Hoje, às vezes, é um pedinte

De compreensão e de amor.


Quando você ache alguém

Que o peito lhe aflige ou tranca,

Pense em Cristo, ore com calma

E evite qualquer carranca.


Pelos caminhos da vida

A presença da aversão

É sempre a hora difícil

De regresso à provação.


E quando a prova ressurge,

Queira ou não queira acertar

Deus nos coloca, Lilia,

No tempo de perdoar.




Cornélio Pires
Francisco Cândido Xavier


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