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Capítulo XIV

Tia e sobrinho


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Eis-me a trazer-vos a história,

Estranha como se diz,

Do fato que sucedeu

A um amigo — o Téo Muniz.


Ele chegara aos quarenta…

Morava com garbo e graça

Com velha tia, contando

Noventa e lá vai fumaça.


Ela, viúva, fizera

Testamento em pergaminho,

Sem outros quaisquer parentes,

Deixara tudo ao sobrinho.


O moço, olhando o futuro,

Pela ambição desmedida,

Dava-lhe os nomes mais ternos:

— “Meu tesouro”, “mãe querida…”


Ele adulava a velhinha,

Ela adorava o rapaz,

Unidos, constantemente,

Viviam em doce paz.


Mas veio um dia difícil…

A tia surgiu doente,

O rapaz fez-se-lhe apoio

No carinho permanente.


Exames. Medicamentos.

Inquietações. Agonias.

Problemas multiplicados

Chegavam, todos os dias.


A velhinha, certa noite,

Em silêncio, estremeceu…

Notando-a imóvel, de todo,

Disse a enfermeira: “morreu…”


O sobrinho desolado

Debruçou-se sobre a tia;

Chorando, viu-a parada,

O coração não batia.


Veio o médico. No exame,

Faz testes, explica, exorta…

Num colapso profundo

A doente estava morta.


Entretanto, quis mais provas,

Um companheiro traria;

Então, daria o atestado

De óbito no outro dia…


A casa, de imediato,

Transformou-se num velório,

Testemunhos de pesar,

Condolências. Falatório.


Téo chorava na aparência,

Pois, ganhando o paparico

De quantos vinham a ele,

Sabia-se muito rico.


A herança era muito grande.

A tia deixava rendas,

Muitas lojas de aluguel,

Terras, galpões e fazendas.


Entretanto, ao dia claro,

A morta estava a mexer,

Aquele corpo cansado

Começara a reviver.


Veio médico. Auscultou-a,

Dizendo com alegria

Que ela somente sofrera,

Grave catalepsia.


Desiludido e assustado,

Téo caiu, em desconforto…

Dando entrada no hospital,

O coitado estava morto.




Jair Presente
Francisco Cândido Xavier


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