Bazar da Vida
Versão para cópiaTia e sobrinho
Eis-me a trazer-vos a história, Estranha como se diz, Do fato que sucedeu A um amigo — o Téo Muniz. Ele chegara aos quarenta… Morava com garbo e graça Com velha tia, contando Noventa e lá vai fumaça. Ela, viúva, fizera Testamento em pergaminho, Sem outros quaisquer parentes, Deixara tudo ao sobrinho. O moço, olhando o futuro, Pela ambição desmedida, Dava-lhe os nomes mais ternos: — “Meu tesouro”, “mãe querida…” Ele adulava a velhinha, Ela adorava o rapaz, Unidos, constantemente, Viviam em doce paz. Mas veio um dia difícil… A tia surgiu doente, O rapaz fez-se-lhe apoio No carinho permanente. Exames. Medicamentos. Inquietações. Agonias. Problemas multiplicados Chegavam, todos os dias. A velhinha, certa noite, Em silêncio, estremeceu… Notando-a imóvel, de todo, Disse a enfermeira: “morreu…” O sobrinho desolado Debruçou-se sobre a tia; Chorando, viu-a parada, O coração não batia. Veio o médico. No exame, Faz testes, explica, exorta… Num colapso profundo A doente estava morta. Entretanto, quis mais provas, Um companheiro traria; Então, daria o atestado De óbito no outro dia… A casa, de imediato, Transformou-se num velório, Testemunhos de pesar, Condolências. Falatório. Téo chorava na aparência, Pois, ganhando o paparico De quantos vinham a ele, Sabia-se muito rico. A herança era muito grande. A tia deixava rendas, Muitas lojas de aluguel, Terras, galpões e fazendas. Entretanto, ao dia claro, A morta estava a mexer, Aquele corpo cansado Começara a reviver. Veio médico. Auscultou-a, Dizendo com alegria Que ela somente sofrera, Grave catalepsia. Desiludido e assustado, Téo caiu, em desconforto… Dando entrada no hospital, O coitado estava morto. |
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