Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho
Versão para cópiaA Regência e o Segundo Reinado
Ninguém, no Brasil, poderia supor que D. Pedro I abandonasse o país precipitadamente, como fez a 7 de Abril de 1831. As forças conservadoras desejavam somente que ele regenerasse o seu ambiente, afastando-se de determinadas influências políticas. O resultado da inesperada abdicação foi a desordem, que se propagou a todos os recantos, provocando descontentamentos e sedições.
Alguns políticos, no entanto, obedecendo a feliz inspiração do mundo invisível, organizaram uma regência que se incumbiu de manter a intangibilidade da ordem e das instituições.
Essa regência interina, com imensos sacrifícios, iniciou o seu trabalho de pacificação na Bahia, em Minas e em Pernambuco, onde inúmeros portugueses eram assassinados, sob o pretexto de antigas desforras dos movimentos nativistas. Os distúrbios militares proliferavam em toda parte, exigindo a mais alta cota de sacrifícios e dedicações dos verdadeiros patriotas.
O exército, desde os acontecimentos de 7 de Abril, caracterizava as suas atitudes pela revolta e pela indisciplina. O Norte do país vivia sob o regime do sangue e da morte. O povo de Pernambuco, humilhado pelas incursões da soldadesca amotinada, que lhe feriam os brios e as tradições, veio a campo, travando-se os mais fortes combates, em que pereceram, ou foram presos, muitas centenas de indisciplinados. Esses protestos e esses exemplos, todavia, não conseguiram eliminar a luta persistente e pavorosa. A guerra civil continuou, anos a fio, à sombra das matas, estendendo-se ao Pará com o seu rastilho de miséria e de sangue. Muitos governadores foram barbaramente trucidados pela caravana sinistra da confusão e da desordem. Jamais, a Pátria do Evangelho atravessara tão perigosa situação, sob o ponto de vista social e político. O partidarismo envenenava todos os ambientes com a vasa de suas paixões desenfreadas e, não fossem os mananciais do pensamento e da economia, fixados por Ismael nas regiões do Rio de Janeiro, de São Paulo e Minas, que asseguraram a própria estabilidade nacional, talvez não pudesse o Brasil resistir ao elemento embrutecedor, que suprimiria para sempre a sua unidade territorial.
Depois de quatro anos de experimentações e lutas incessantes, a Regência é entregue a um dos homens mais enérgicos e prudentes da época, o eclesiástico Diogo Antônio Feijó, que iniciou a sua obra de honestidade e de civismo, sob a direção das falanges esclarecidas do Infinito. O grande paulista, porém, não conseguiu permanecer muito tempo à frente do governo. Em 1835 rebentava o movimento republicano do Rio Grande do Sul, chefiado por Bento Gonçalves, que se propunha organizar, naquela província, uma república separada do país. Esse movimento separatista iria consumir grande coeficiente das energias nacionais, porquanto só terminaria mais tarde sob a ação pacificadora do segundo reinado.
Em 1836 funda-se o partido conservador, com a aliança dos liberais e dos restauradores, caminhando a nação para o parlamentarismo. Feijó, porém, não se resignou com as providências levadas a efeito. A seu ver, não era possível governar eficientemente, dentro de um regime que se lhe afigurava de excessiva liberdade. Renunciou nobremente ao cargo, chamando ao poder Araújo Lima, que era nesse tempo a autoridade suprema das forças oposicionistas.
Então, a imprensa brasileira já não contava com a palavra de concórdia e conciliação de Evaristo da Veiga, que, depois de cumprir sua tarefa no país do Cruzeiro, regressara à pátria universal, incorporando-se às hostes esclarecidas do Infinito. A imprensa, hoje considerada como o sexto sentido dos povos e que, naqueles tempos, mal ensaiava os primeiros passos no Brasil, não podia, portanto, ser o órgão de esclarecimento geral da nação e a luta prosseguiu, ensanguentando o país, ao longo de todas as suas fronteiras.
A fusão dos objetivos de liberais e conservadores constituiu a base da opinião livre, que embelezou o regime parlamentar no segundo reinado, estruturando-se a Câmara sob o modelo das praxes e dos costumes ingleses.
Percebendo, contudo, a exaltação dos espíritos em geral, os liberais solicitaram, em 1840, a declaração da maioridade do Imperador, que, na época contava quinze anos incompletos. Semelhante acontecimento representava um golpe nos dispositivos constitucionais; mas, todos os políticos reconheciam no jovem imperante a mais elevada madureza de raciocínio e as qualidades que lhe exornavam o caráter. Uma comissão de homens influentes procura-o no paço imperial, obtendo o seu imediato assentimento.
Dentro de poucos dias, foi D. Pedro II declarado maior, por entre as mais sãs esperanças do país e sob a confiança dos mentores do Alto, os quais seguiriam de perto a sua trajetória no trono.
A Regência ficava assinalada no tempo, como uma das mais belas escolas de honradez e de energia do povo brasileiro. Vivendo numa atmosfera de franca antipatia popular, pelas medidas de repressão que lhe cumpria executar; flutuando, como instrumento de conciliação, entre as marés bravias do separatismo no Sul, os vagalhões impetuosos da opinião partidária nas cidades centrais e as ondas tumultuárias das lutas ao Norte, todos aqueles homens que passaram pela Regência foram compelidos aos mais elevados atos de renúncia pelo bem coletivo, praticando com isso verdadeiro heroísmo, a fim de que se conservasse intacto, para as gerações do futuro, o patrimônio territorial e a escola das instituições, na objetivação luminosa da civilização do Evangelho, sob a luz cariciosa do Cruzeiro.
No ano de 1841, foi coroado o jovem imperador.
Não obstante a sua condição de adolescente, D. Pedro II, assistido pelas numerosas legiões do bem, que o rodeavam no Plano invisível, tomava o cetro e a coroa consciente da responsabilidade gravíssima que lhe pesava sobre os ombros.
A sua primeira preocupação administrativa foi pacificar o ambiente intoxicado de sedições e rebeldias. Prestigiando Caxias, consegue levantar a bandeira branca da paz nas províncias de São Paulo e Minas, após os desfechos de Venda Grande e de Santa Luzia. Daí a algum tempo, com a sua política de moderação e tolerância, consegue estabelecer a tranquilidade geral em todo o Rio Grande do Sul, com a anistia plena e com o respeito às honras militares de todos os chefes da insurreição.
Depois dos esgotamentos a que o país inteiro fora conduzido pela ação corrosiva dos processos revolucionários, o Brasil ia regenerar suas forças orgânicas dentro de um largo período de paz, no qual as falanges esclarecidas de Ismael, inspirando a generosa autoridade do Imperador, argamassariam as bases do pensamento republicano, sobre as ideias de fraternidade e liberdade, a caminho das grandes realizações do porvir.
(.Irmão X)
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