Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho
Versão para cópiaA civilização brasileira
Nas praias largas e fartas de Santa Cruz, floresciam cidades prestigiosas. Com o feudalismo das capitanias, as cidades e as vilas modernas do litoral do Brasil estavam já em seus primórdios, destacando-se dentre todas os núcleos populosos do Salvador e de São Vicente, em vista das facilidades encontradas pelos colonizadores, com o auxílio dos Caramurus e dos Ramalhos, que os haviam precedido na ação, junto dos indígenas.
Contudo, Portugal ainda não se decidira a destacar os seus elementos mais valorosos para os trabalhos da colônia, preferindo enviar-lhe criminosos e homens sem escrúpulos. Por toda parte, buscavam os naturais os recantos desconhecidos das florestas remotas, fugindo à escravidão e às torturas injustificáveis que lhes infligiam os homens brancos, por eles, um dia, acolhidos com as mais altas manifestações de fraternidade.
O atrito das raças dava ensejo aos quadros mais dolorosos e mais lamentáveis.
Tomé de Souza estava substituído por Duarte da Costa, que, como o primeiro governador geral, trouxera também consigo alguns dos missionários concitados por Ismael ao novo apostolado nas florestas americanas.
Por essa época, os franceses desejaram aproveitar a encantadora beleza da Baía de Guanabara e estabeleceram aí uma feitoria, nos mesmos sítios por onde se havia retemperado Gonçalo Coelho, nos primeiros anos decorridos após o descobrimento. Com a proteção do Almirante Coligny, então favorito do rei Henrique II de França, Nicolau de Villegagnon aporta à baía maravilhosa, em 1555, e funda uma colônia na 1lha de Serigipe, que tomou, mais tarde, o seu nome. Das árvores de uruçumirim, que é hoje a praia elegante do Flamengo, os Tamoios valentes contemplavam, receosos, a intromissão dos europeus na sua região privilegiada. Mas, Villegagnon, com a sua mentalidade religiosa e honesta, consegue captar a confiança dos naturais, concedendo-lhes o mesmo tratamento dispensado aos seus companheiros. Os indígenas recebem carinhosamente a orientação de Paicolás [nome davam a Villegagnon] e se tornam devotados colaboradores da sua obra.
Enquanto os franceses se vão apoderando da costa, D. Duarte, na Bahia, lhes observa os movimentos, impossibilitado de adotar quaisquer providências. A metrópole portuguesa não se digna de enviar à colônia distante os elementos necessários a sua conservação e defesa. Villegagnon, localizado na Guanabara, edifica a sua obra; mas, os padres calvinistas, que lhe acompanharam a expedição, inutilizam-lhe muitas vezes o trabalho construtivo, com as suas discussões estéreis. Em 1559 Villegagnon regressa à Franca, no propósito de buscar recursos oficiais, sem jamais tornar ao Brasil, ficando os seus compatriotas abandonados na colônia nascente.
Em 1558, havia assumido o governo geral de Santa-Cruz, Mem de Sá, que combate sem tréguas a influência dos estrangeiros. Com a sua energia, expele os franceses do Rio de Janeiro, destruindo-lhes as fortificações. Mal, porém se havia retirado o governador, voltaram os franceses dispersos a reassumir a sua posição na ilha de Serigipe, com o auxílio dos Tamoios, reunidos a esse tempo na maior confederação indígena que já existiu em terras do Brasil, sob a direção de Cunhambebe, contra as perversidades dos colonizadores portugueses. O governador geral reconhece a necessidade de fundar-se uma povoação que aí ficasse como sentinela da costa, a fim de eliminar os derradeiros resquícios das influências francesas. O grande projeto aguarda ensejo favorável para a sua concretização. Estácio de Sá, sobrinho do governador, é então incumbido de comandar uma guarnição que ali se planta, em defesa da cidade; a povoação se reparte em pequenas guarnições de militares, junto ao Pão de Açúcar e numa das numerosas ilhas do golfo esplêndido. Os franceses, todavia, unem-se aos índios e Estácio de Sá morre, em 1567, empenhado com eles em guerras. O combate, em tais circunstâncias, assume proporções aspérrimas e rudes. Mem de Sá reúne todas as forças disponíveis nas cidades da colônia e ataca todas as fortificações que existiam onde hoje se situam a praia do Flamengo e a Ilha do Governador; obtém a mais completa vitória sobre o inimigo, mas permitiu, lamentavelmente, que aí se consumassem inauditas crueldades com os vencidos.
Os portugueses transferem, então, a cidade, que fica definitivamente fundada no morro de São Januário, mais tarde do Castelo. Em homenagem ao mártir do Cristianismo recebeu a cidade o nome de São Sebastião, ficando outro sobrinho do governador na sua administração.
Nas Esferas Superiores do Infinito, Ismael e suas abnegadas falanges choram sobre tão lamentáveis acontecimentos, quais o suplício imposto a João de Bolés pelos elementos de mais confiança dos maiorais da espiritualidade.
A cidade fica sob a proteção espiritual de Sebastião, o grande filho de Narbonne, martirizado pela sua fé cristã ao tempo de Diocleciano, em 288 da nossa era. Estácio de Sá reúne-se às falanges invisíveis, encarregadas de cooperar no progresso daqueles sítios. Sob as vistas amorosas do desvelado patrono da cidade, desdobra-se em dedicação a favor do seu progresso, entre os núcleos florescentes. Muitas vezes voltou Estácio a se corporificar na Pátria do Evangelho, para viver na paisagem predileta dos seus olhos. Sua personalidade aí adquiriu elementos de ciência e de virtude e, ainda há poucos anos, podia ser encontrada na figura do grande benemérito do Rio de Janeiro, que foi .
Depois das lutas sanguinolentas nas praias da baía mais bela do mundo, onde os vícios europeus, desencadeando nefandas guerras religiosas, batalhavam entre si, estendendo suas crueldade até ao Novo-Mundo, Ismael considerou a necessidade de estabelecer uma diretriz para a organização econômica da terra de Cruzeiro. Após a elaboração de largos projetos de ação do Plano invisível, o sábio mensageiro do Senhor discrimina as funções de cada região da pátria brasileira. Junto do golfo enorme, onde os contornos da paisagem assumem as cambiantes mais delicadas e mais espantosas, desdobrando-se nos mais graciosos caprichos da Natureza, traça ele as linhas de uma urbe maravilhosa, que será a sede do pensamento brasileiro e, mais fundamente, no coração da terra moça e bravia, traceja as plantas magníficas das duas usinas mais poderosas, onde se guardará o profundo manancial de suas forças orgânicas. Os pontos de fixação dessas sagradas balizas são encontrados ao longo dos seiscentos quilômetros de extensão do Paraíba do Sul e nas cabeceiras do São Francisco, cuja corrente deverá lançar, pelo seu percurso de quase três mil quilômetros, todas as sementes da brasilidade mais pura.
Aproveitou também Ismael os núcleos orientadores de , que se expandiriam, mais tarde, com as audaciosas bandeiras. A linha do coração do Brasil, até hoje, se encontra aí traçada.
Ninguém pode negar a hegemonia da intelectualidade carioca e fluminense, desde os tempos em que a cidade de São Sebastião se derramou do Morro do Castelo, invadindo as ilhas, absorvendo as praias longas e elevando-se pelos outeiros vizinhos. São Paulo e Minas de hoje foram as regiões escolhidas como as duas fontes poderosas que guardariam o potencial de energias orgânicas da terra, formando os primeiros índices da etnologia brasileira. As águas do Paraíba do Sul e as de todo o percurso do São Francisco ainda constituem roteiro singular, onde se descobrem os característicos mais fortes do povo fraternal da terra do Cruzeiro. Cada Estado do Brasil tem a sua função essencial no corpo ciclópico da pátria que representa o coração geográfico do mundo; mas em S. Paulo e em Minas Gerais se assentaram, por determinação do invisível os elementos indispensáveis à organização da pátria esplêndida. Ambos serão ainda, por muito tempo, as conchas da balança política e econômica da nacionalidade e os dínamos mais poderosos da sua produção. Obedecendo aos elevados propósitos do mundo oculto, ambos ficaram irmanados junto do cérebro do país, por indefectíveis disposições do determinismo geográfico, que os reúne para sempre. Os Espíritos infelizes e perturbados, inimigos da obra de Jesus, que, entretanto, se converterão um dia ao supremo bem, pela sua infinita piedade, agem de preferência nos bastidores administrativos dos dois grandes Estados brasileiros, provocando a vaidade dos seus homens públicos, levantando tricas políticas e conduzindo-os, muitas vezes, a lutas fratricidas e tenebrosas, no sentido de atrasar os triunfos divinos do Evangelho, no coração de todas as almas.
Mas os devotados obreiros do Além não descansam em sua faina de abnegação e renúncia e, ainda agora, em 1932, quando um distinto jornalista da atualidade rasgava a bandeira nacional na capital paulista, em seu famoso discurso sem palavras, José de Anchieta, de quem João de Bolés é agora dedicado colaborador, e vários outros gênios espirituais da terra brasileira se reuniam no Colégio de Piratininga, implorando a Jesus derramasse o doce bálsamo da sua humildade sobre o orgulho ferido dos valorosos piratininganos, e Ismael estende o seu lábaro de perdão e de concórdia sobre os movimentos fratricidas e reúne de novo os irmãos dos dois grandes Estados centrais do país, para a realização da sua obra em prol do Evangelho.
As fraquezas e vaidades humanas, fermentadas por forças maléficas do mundo, tem separado muitas vezes as coletividades dos dois grandes Estados da República, levando-os à inimizade e quase à ruína; mas, muito breve quando as sombras da confusão dos tempos modernos invadirem ameaçadoramente os céus da pátria, ambos compreenderão a imperiosa necessidade de se unirem para sempre, como irmãos muito amados e, novos símbolos de Cástor e Pólux, expandirão juntos as suas energias étnicas, modeladoras da terra do Evangelho, absorvendo nos seus surtos extraordinários as expressões excessivamente indiáticas do Amazonas, ao Norte, e as platinas influências nas planícies do Rio Grande, por cumprirem, de mãos dadas, os imperativos da sua grande missão histórica.
Nesse tempo que não vem muito longe, as mensagens de fraternidade e de amor, expedidas pelos gênios inspiradores do Brasil, do sagrado Colégio de Piratininga, tocarão, primeiramente, na coroa de tênues neblinas das montanhas, antes de ascenderem aos céus. [v. por ocasião do 450º aniversário da cidade de São Paulo]
(.Irmão X)
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