Caminhos do Amor, Os

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Capítulo V

Um caso da vida


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Perante vinte alunos reunidos,

O professor convidou, conselheiral:

— Apressem-se rapazes! Sigamos para a luta contra o mal.

Conheceremos hoje um menor, bandido dos bandidos,

É o famoso “Pé Ligeiro”…

Jovem falcatrueiro,

Que não tem mais que dezessete anos

E já se fez autor de crimes desumanos.


Um amigo delegado

Já nos comunicou que ele foi baleado

Pelo dono de nobre moradia;

Nós que nos dedicamos ao Direito

Devemos dissecar

Qualquer problema que interesse a vida.


Registremos o assunto:

Aqui e além, nos arredores,

Ampliam-se os delitos de menores…

Por que tantos meninos delinquentes?

Taras congeniais? Leituras negativas?

Maus tempos sobre a Terra,

Com a infância trazendo horrendas iniciativas

Ou descaso de pais indiferentes?


Sabemos que o rapaz foi alvejado,

Quando furtava joias e dinheiro.

Agora, está na Detenção.

Entretanto, sabemos, de antemão,

Que o meliante

Mostra extrema exaustão,

Esperando-se dele a morte, a cada instante.


O Professor fez pausa,

Depois voltou a comentar:

— Creio que poderemos estudar

Certas lições do mundo em “Pé Ligeiro”,

Se ele estiver falando,

Já que foi baleado e está fora do bando.


Nesse clima de franca indagação

O grupo aconchegado,

Após cumprimentar o delegado,

Reúne-se, de novo, em úmido salão.


“Pé Ligeiro”, — explicou a autoridade, —

Está no fim… Fatigado e ferido,

Nada lhe estanca o sangue… Chora, mais abatido,

Não sei se ele aguentará qualquer conversação…


Dois soldados trouxeram-no na maca.

Era um rapaz franzino,

Temível delinquente em corpo de menino…

No entanto, à frente dele, o professor estaca;

Ante o moço a morrer, pálido e maltrapilho,

Reconhecera ele o próprio filho…


Pai! — disse o ferido em voz dorida e fraca…

Trêmulo e acabrunhado,

O guia dos alunos respondeu:

— Pois é você, meu filho, assim caído?

O famoso bandido?


O rapaz replicou: — Eu,

Eu sei que estou perdido…

Há mais de nove anos,

Desde quando o senhor deixou a nossa casa,

Tenho vivido por aí…

Matei, roubei, bebi,

Fiquei desorientado…

Mas agora já sei que estou no fim,

Não há mais esperança para mim…


Depois da longa pausa que se fez,

Voltou-se o professor e falou-lhe outra vez:

— Que quer você, meu filho, que se faça?

— Quero ver minha mãe… — pediu o interpelado.


O professor uniu-se à autoridade

E esclareceu, disfarçando o próprio acanhamento:

— Há tempos, anos bem antes de meu casamento,

Tive um caso infeliz, um laço antigo;

Uma jovem de vida irregular

Deu-me dois filhos, mas depois

Veio a separação entre nós dois…

Logo após, avisou, que a mulher

Sobre a qual o rapaz se referia,

Morava, longe, na periferia,

A cavaleiro da cidade…


Mas um carro ganhou distância e tempo…

Em minutos chegou a mãe desconsolada

Trajando roupa remendada;

Abeirou-se ao pobre agonizante

E exclamou: — Ah! meu filho, meu filho,

Eu pressentia

Que a sua estrada assim terminaria!…


Ele fitou-a, triste, e murmurou, cansado:

— Perdoe, mamãe! Eu fui o “Pé Ligeiro”

Mas fui sem companheiro!…


A pobre sem fitar a mais ninguém na sala

Beijou o agonizante e disse: — Diga, filho,

Que deseja você de mim, na angústia desta hora?

Ele coloca o olhar no rosto da senhora

E pede-lhe, por fim:

— Mãe, eu quero Jesus,

Peça a Jesus por mim!…


Ela compreendeu que o filho na lembrança

Recordava-lhe as preces

Que ela mesma lhe dera ao tempo de criança…

Ajoelhou-se a pobre e murmurou, em pranto:

— Fale, filho,

Jesus!…

Nosso Mestre e Senhor,

Dá-nos de tua luz,

Perdoa as nossas faltas

E dá-nos teu amor!…


Mas o filho, ao ouvi-la, adormecera…

Dera-lhe a morte ao rosto estranha cor de cera.

E eu mesma, dominada de emoção,

A chorar, repetia a expressiva oração:

— Jesus!…

Nosso Mestre e Senhor,

Dá-nos de tua luz,

Perdoa as nossas faltas

E dá-nos teu amor!…




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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