Caminhos do Amor, Os

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Capítulo XXII

Abrigo ideal


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E tudo vai passando, como sempre dizes,

Os dias de infortúnio e os momentos felizes. (Ec 3:1)


Tempos de infância, belos e risonhos

Esvaíram-se todos, tais quais sonhos

Que não consegues explicar;

O lar de agora já não te parece

O mesmo antigo lar

Em que o colo de mãe, na luz da prece,

Inteiro se te abria,

Sustentando-te a paz no clarão da alegria…


Onde ouvir novamente as vozes que, à noitinha,

Uniam-se-te à voz inocente a cantar:

— “Oh! ciranda, cirandinha,

Vamos todos cirandar!…”

Fitavam-te, na marcha dos instantes,

Estrelas cintilantes,

Como a notar te o sentimento puro

E a te indicarem, sem que percebesses,

As estradas difíceis do futuro.


A juventude plena de ansiedade

Passou, qual luminosa floração,

E indagas onde estão

Os planos da primeira mocidade…


Refletes nas queridas afeições

No ponto solitário em que te pões…

Quantos amigos desertaram

Da senda em que persistes?

Quantos julgaram tristes

As tarefas que abraças?

E largaram-te, a sós, dizendo-se à procura

Do prazer, do renome e da ventura?!…


Enquanto passas,

No serviço de sempre,

De coração ao desalinho,

Perguntas, muitas vezes, quantos lábios

Ouviste transformados no caminho,

Lábios que te falavam, ontem, de ternura,

Em promessas de apoio e de carinho

E hoje te comunicam amargura,

Acusação, queixa e censura,

Impondo-te incerteza e incompreensão?


E os outros que, em magoada despedida,

Deixaram-te no mundo, em busca de outra vida,

Dando-te a inquietação constante que te invade

Pela chama invisível da saudade?!…


E tudo vai passando, tal qual dizes,

Os instantes felizes e infelizes,

Entretanto, alma irmã, de pés sangrando embora,

Segue amando e servindo, tempo afora…

Nada te impeça caminhar

Para a sublimação que te pede lutar,

Esculpindo, em ti mesmo, o amor cuja beleza

Palpita em tua própria natureza.


Não contes desengano, prova, idade…

Segue e não temas,

Quem serve encontra em todos os problemas

Motivação para a felicidade.


E quando tudo te pareça

Saudade e solidão

Na bruma que te envolva o coração,

Entra no claro abrigo que reténs,

Que se te faz no mundo o mais alto dos bens,

Riqueza em luz e paz que ninguém desarruma

E nunca sofre alteração alguma…

Esse refúgio ideal que te descansa

Nos tesouros de tudo quanto é teu,

É a bênção de servir que te guarda a esperança

No trabalho do bem que Deus te concedeu…




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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