Carmelo, Ele Mesmo
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Prefácio de Emmanuel
— Pai, era um exemplo de trabalho e retidão para a família, que lhe foi motivo para respeito e entendimento. Com semelhante comportamento, deixou na Terra filhos admiráveis pela nobreza de caráter, que lhe honram a memória.
— Cidadão, foi um padrão de paz e serviço ao próximo. Exerceu atividades diversas, distinguindo-se na execução dos compromissos que assumia e pelo máximo esforço que efetuava para fazer o melhor.
— Enviuvando muito cedo, consagrou-se inteiramente aos familiares que lhe retribuíam o afeto. Em companhia dos filhos e de alguns amigos, fundou o Lar da Irmã Elvira, na cidade de Votuporanga, Estado de São Paulo, pois, era o nome da companheira que havia partilhado com ele as dificuldades e alegrias da vida, sempre interessado na obra do bem que lhe falava dela ao coração. O Lar da Irmã Elvira se transformou em abrigo para todos os necessitados, especialmente para as crianças carecedoras de amparo.
— Era alegre sem imprudências, edificando esperança e otimismo em todos aqueles que se lhe faziam ouvintes.
— Era particularmente o homem das boas obras, sempre pronto a servir.
— Amigo, foi um servidor leal e devotado, agindo, onde estivesse, em favor dos outros.
— Com estas características, Carmelo Grisi era sincero e espontâneo, aquecendo qualquer conversação e qualquer diálogo com os companheiros, no seu calor e no seu imperturbável animo.
— Era forte na fé em Deus e correto na apreciação dos homens de bem.
— Foi humilde sem subserviência; corajoso na travessia das provações do mundo; digno sem orgulho ou vaidade, em nos referindo ao bem que espalhava incessantemente.
— Compreensivelmente não era um ativista da morte mas dedicado cultor da vida, como se depreende das comunicações que nos tem trazido até agora, através da mediunidade, confortando e levantando almas que as tribulações da existência venham a ferir.
Eis alguns dos traços do amigo que nos propomos apresentar com o respeito e o carinho que ele sempre fez por merecer.
Lembrando-lhe o trabalho constante e a bondade sem lides, pedimos a Jesus o engrandeça na 5ida Maior e o abençoe sempre.
Uberaba, 10 de Janeiro de 1991.
Esclarecimentos de Romeu Grisi
Meus pais converteram-se ao Espiritismo por volta de 1918. Minha mãe, ainda muito jovem, dotada da faculdade mediúnica de desobsessão, aceitou, ao lado de meu pai, os encargos e compromissos de tão nobre quão difícil tarefa. E, amparados pela Doutrina e sob a proteção do benfeitor Romeu de Ângelis, prosseguiram trabalhando até a desencarnação de minha progenitora, ocorrido em 1954.
Na fase que se seguiu ao desenlace, com as significativas mudanças na vida da família, contamos com o apoio de Francisco Cândido Xavier, através de mensagem de minha mãe, recebida por ele, e que foi o motivo da amizade que se estabeleceu entre meu pai e o nosso querido Chico. Pessoalmente, eu e minha esposa já conhecíamos o famoso médium desde 1948.
Os vinte e seis anos de viuvez do meu progenitor foram atenuados pela Consoladora Doutrina e pela influência exercida pelo bondoso médium, dando-lhe ânimo forte e confiança no futuro. Sem perder o jeito extrovertido e o bom humor que sempre o caracterizavam, cuidou de meu irmão caçula, Carmelinho, que contava apenas 11 anos de idade ao se ver privado da presença materna. Foi esta, então, a grande preocupação de sua vida, até que ele se formasse em Agronomia e se casasse.
Amando profundamente os filhos, notávamos, eu e meus manos 5aldinho e Rubens, que suas atitudes e sentimentos se renovavam na ânsia de suprir a ausência de nossa mãe. Carmelinho fora um filho temporão e não contava com familiares na sua faixa de idade, embora nossas cunhadas Aracy e Cicina os alegrassem constantemente com suas presenças.
Anos mais tarde, meu pai travou conhecimento com a professora Aparecida Batista Ferreira que buscava fixar residência em Rio Preto, em função de sua carreira no magistério. Hospedou-se ela em nossa casa por algum tempo, e esse tempo se dilatou até que se estabelecesse um vínculo de amizade profunda entre ambos, como o de um pai para uma filha muito querida.
A autorização para que esta obra fosse escrita veio seguida do pedido de meu pai para que eu o apresentasse como realmente era, e, na sua franqueza jocosa, insistiu para que não o perfumasse porque todos sairíamos perdendo.
Evidencia-se aí o problema da autenticidade que o preocupava em virtude da natural tendência do ser humano em santificar os supostos mortos. Outro risco, a meu ver, estava no relacionamento afetivo entre pai e filho, o que poderia dar margem a exageros e elogios piegas para um assunto tão sério quanto este.
Finalmente, vencidos os anos de expectativa pacientemente aguardados para que as páginas familiares, e não literárias, viessem a lume, proporcionamos aos leitores esta obra franca e instrutiva, entremeada de lances de humor crítico, compilada e comentada pelo meu cunhado Gerson Sestini.
Esperamos que do esforço conjugado daqueles que cooperaram nesta obra resultem benefícios de paz, consolo e esperança em favor de todos os que jornadeiam na Terra em busca de uma Vida Superior, à luz da Doutrina Espírita.
Votuporanga, janeiro de 1991.
“Romeu, os nossos amigos consideram que não há inconveniente em que se publique o que temos escrito, mas se isso acontecer, você faça um prefácio, dizendo que fui um carroceiro e carregador de pedras.” — Carmelo (25.07.1987)
Introdução
Na obra “Viajores da Luz” (Ed. GEEM), o seu co-autor, Dr. Caio Ramacciotti, comenta o texto de Carmelo Grisi como “um diálogo fácil, sem barreiras, naturalmente facilitado pela firme transmissão mediúnica de Chico Xavier”. Era a primeira mensagem, dada em 18/10/1980. Depois desta, ao longo de oito anos consecutivos, foram transmitidas outras dezesseis, tendo sido a 17° obtida em 26/11/1988.
Diante do conteúdo destas cartas, endereçadas aos corações queridos que permanecem na matéria densa, entre notícias suas ou de amigos e familiares que partiram para o Além, surge um precioso filão de anotações oportunas para a divulgação.
Algumas delas falam da adaptação à Vida Espiritual, ainda um tanto problemática para este Espírito. Há humor, referências jocosas e até uma dose de ironia. Não obstante, entremeando uma e outra citação, encontramos valiosos conselhos, mormente para aqueles que enfrentam dificuldades neste mundo, pensando numa próxima libertação para gozar uma suposta boa vida no Além.
O objetivo desta obra não se prende, pois, à comprovação de dados, nomes ou citações que identifiquem o Espírito comunicante ou aqueles citados. No livro acima referido, (“Viajores da Luz”) temos o trabalho comprobatório feito pelo Dr. Caio, pois a mediunidade de Chico Xavier nesses últimos anos de seu mandato mediúnico continua o mesmo fiel instrumento, através do qual tantos Espíritos têm dado mensagens ou produzido obras sob a direção de Emmanuel, pois como o próprio médium sempre afirmou, é ele quem controla o canal entre os dois mundos, qual operador de satélites utilizados na comunicação entre os continentes.
Carmelo Grisi foi um cidadão simples, de poucas letras, porém muito ativo e observador. Dotado de potencial energético maior do que a média das pessoas, ele o direcionava para o trabalho e as boas obras, na prestação de toda sorte de serviços ao próximo, pois, se era naturalmente assim, a convicção espírita reforçava essa tendência.
Utilizando-nos de uma expressão da juventude atual, poderíamos dizer que “agitava” os locais por onde adentrava com seus ruídos, gestos e interjeições, provocando uma contagiante onda de alegria.
Natural da bela província de Trecchina, próxima ao Golfo de Policastro, no sul da Itália, abandonou seu torrão natal com seus irmãos, ainda adolescente, para aportar no Brasil. Naquela época o destino da maioria dos emigrantes era São Paulo, a Capital com suas indústrias florescentes ou seu interior de cujas terras férteis brotavam cidades por toda parte.
Optou por uma bem distante, São José do Rio Preto, dois anos antes que a linha férrea lá chegasse, e teve que caminhar a pé algumas léguas para atingi-la. Fixou residência aí e casou-se. Sua esposa Elvira era dotada de grande potencial mediúnico direcionado à cura de obsidiados, tendo sido uma das pioneiras do Espiritismo naquela região.
Nasceram-lhes quatro filhos, todos homens. No decorrer da existência, além de Rio Preto, outras cidades também tiveram importância para Carmelo. Entre elas, Votuporanga, que se desenvolveu a partir da década de 40, sendo alvo de muitos de seus trabalhos. Lutou para que as linhas telefônicas chegassem até lá, onde seu filho Romeu se estabelecera, pois comunicador que era, não se conformava em ficar longe de telefones. Auxiliou também a erguer o Centro Espírita Emmanuel e o Lar Irmã Mariana, expressivas obras do movimento espírita naquela cidade.
No seu primeiro contato com Chico, pelo telefone, em 1954, chorou. Em seguida veio o conhecimento pessoal na Fazenda Modelo, em Pedro Leopoldo, seguido de mensagem da querida companheira que havia partido cinco meses antes. (Esta mensagem encontra-se no livro “Entre Duas Vidas” — Ed. CEC)
Daquele encontro surgiu a amizade entre os dois. Carmelo admirava o Chico e Chico alegrava-se com sua presença, pois, muitas vezes, era surpreendido pelo comportamento de menino travesso no amigo, ao sentir o bom humor em fisionomias sofridas nas intermináveis filas de atendimento que ele rompia sem a menor cerimônia.
Chico abria-lhe os braços sorridente e o acolhia com bondade, retendo-o ao seu lado. Nas sessões que se estendiam noite a dentro ou nas peregrinações, era sempre a nota alegre e comunicativa, facilitando o trabalho das equipes espirituais para manter o ambiente equilibrado em meio a tantas pessoas tensas ou emocionadas, na espera de serem atendidas pelo Chico.
Com a idade avançada, as idas a Uberaba começaram a escassear. Depois vieram as complicações da saúde, a memória começou a falhar e as viagens cessaram. Sob os cuidados de Cida, sua governanta que com o tempo se tornou enfermeira e filha do coração, tanta dedicação e amor tinha por ele, veio a desencarnar em 28/03/1980, causando essa separação um vácuo entre as duas almas.
Eis que em outubro do mesmo ano, Carmelo retorna ao Grupo Espírita da Prece, liberto da matéria densa que o limitara nos últimos tempos. Deu a sua primeira mensagem ajudado pela esposa Elvira. Depois vieram outras e Carmelo começou a se soltar provocando risos e transmitindo bom humor às plateias, à medida que suas mensagens eram lidas pelo Chico, que não escondia o sorriso, o mesmo sorriso com que costumava recebê-lo.
Após essas pinceladas em torno da figura de Carmelo Grisi, que permaneceu encarnado 86 anos (1893-1980), necessárias, em nosso entender, para compreende-lo melhor em suas palavras e imagens, apresentamos neste livro, os trechos mais significativos de suas mensagens, para analisá-los e tecer comentários sobre eles. Esta é a nossa proposta.
Rio de Janeiro, janeiro de 1991.
A penúltima mensagem do livro, Amigo de Sempre, é apresentada na íntegra.
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