Carmelo, Ele Mesmo

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Capítulo VIII
Ilustração tribal

Lição de desapego


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Querido filho Romeu e querida Hilda, estamos partilhando os nossos minutos de comunhão espiritual.

Não estou tão bem como deveria estar, mas não me sinto tão mal como muitos pensam. Estou na prensa da aceitação.

O negócio começou quando me vi obrigado a tudo deixar de modo a entrar neste outro lado da vida. Encontrei bons amigos, recebi de novo a proteção de nossa querida Elvira, reconheci muitos parentes entre os Grisis e os Abrigattos, mas quem disse que é fácil largar tudo o que foi nosso por tantos anos seguidos, a fim de assumir um gênero de vida completamente diverso?

Em princípio, não estudei para ser anjo e continuo velho e moço ao mesmo tempo. Dias aparecem nos quais estou de polegar para cima, e outros muitos chegam para mim nos quais estou de polegar para baixo. Isso pode ser uma lástima, no entanto, sou o que sou e não adianta me fantasiar de espírito protetor, que ainda estou longe de ser.

Peço dizerem à nossa Cida que estou satisfeito. Ela encontra em nosso amigo Nelson um companheiro excelente e não é justo que se preocupe por mim.

Os sentimentos que tenho para com a nossa Aparecida são misturados de muito carinho e reconhecimento, mas nunca tive a ideia de tomá-la por escritura de posse, no cartório da vida. Ela é uma companheira notável pela bondade e está livre como aconteceu com vocês mesmos, os meus filhos, todos sempre queridos. Vocês casaram com quem quiseram e sempre viveram a existência como melhor lhes parece. Em Votuporanga ou em Rio Preto, vocês sempre transitaram com liberdade. Não seria eu que iria devolver à Cida tanto carinho com aspereza e ingratidão.

E esse problema de amizade ou de afinidade aparece para nós aí no mundo ou aqui, à maneira de um rio com fortes corredeiras de que ninguém consegue deter o curso, usando galhos de arvoredo. O que vem do coração nunca se acaba. O que nasce na alma é para crescer na imortalidade. E serviço, por aqui, não nos dá tempo a divagações.


Carmelo Grisi

(15.10.1
983)


ELUCIDAÇÕES


Passados três anos e meio, Carmelo demonstra maiores progressos na sua condição espiritual, embora ainda fale da dificuldade de adaptação, considerando os longos anos vividos na Terra, onde, diz ele, não estudou para ser anjo. É com realismo e graça que expressa sua situação, seus altos e baixos e a sensação simultânea de ser ainda velho, quando já está rejuvenescendo.

Em “O Livro dos Espíritos” () há uma questão que nos esclarece quanto às nossas ideias no estado espiritual. Afirmam os Espíritos que neste estado elas sofrem grandes modificações à medida que o Espírito se desmaterializa, podendo algumas vezes permanecer muito tempo aprisionado entre elas. Mas, com a diminuição gradual da influência da matéria ele começa a ver as coisas mais claramente, e é a partir daí, então, que ele procura os meios de se melhorar.

Em relação a Cida, Carmelo é o exemplo de equilíbrio e desapego. Pede-lhe que não se preocupe com ele e que goze sua liberdade, a mesma liberdade que sempre respeitou em todos os seus filhos.

Pelos laços que os une, ele está sempre a par do que lhe acontece.

O problema da amizade ou da afinidade é comparado a um rio que, se existe, é para fluir e crescer em busca do seu destino, a despeito das corredeiras que ninguém consegue deter com paliativos.

E este problema pertence aos dois Planos.


Gerson Sestini


Carmelo Grisi
Francisco Cândido Xavier

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