Cartas do Alto
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Nosso intercâmbio prossegue ativo.
Não mais com papel e tinta, mas com alma, pensamento, coração... Através da comunhão espiritual, a ideia fulgura, viva e brilhante, e, por ela, os corações vivem juntos, na mesma faixa de esperança e de amor.
Ainda assim a carta grafada vale por reafirmação de ternura e valho-me do expediente que passou para reiterar-te a confiança de sempre, no carinho insuperável que fica.
Efetivamente, não temos novidades a relatar.
Nas linhas da tarefa que nos foi confiada, não podemos trair a continuidade, a sequência, o ritmo... Em razão disso, tudo que procurássemos redizer não teria outro sentido além do apelo que será justo sintetizar com as nossas velhas palavras: “Para a frente!”.
Não vemos, ainda assim, como não comentar a necessidade de aplicação direta dos princípios superiores que esposamos, nesta hora em que a tormenta ruge, por toda a parte, ameaçando-nos com a subversão dos legítimos valores da vida. É desnecessário profetizar a decadência quando o homem respira, no mundo, pavoroso momento de transição. E ao sopro destruidor das grandes provas morais, que varrem a Terra, é imperioso resguardar nosso próprio Espírito no santuário da ação, porque somente o refúgio no bem será o antídoto eficiente contra o “morbus” do desequilíbrio e da morte a espalhar-se na atmosfera da humanidade.
Indubitavelmente favorecidos com a bênção do Espiritismo que veio ao nosso encontro, em nome do amor paternal de Deus, nele percebemos o clima de regeneração que nos é necessária, proporcionando-nos valioso material de reconstrução do próprio destino, mas não podemos recebê-lo à maneira de quem recolhe um prêmio gracioso da Bondade Celeste e sim como instrumento de nosso próprio resgate.
Nossos templos de fé representam abençoado pousio da alma, o correio entre os dois mundos é motivo de preciosas consolações e a mediunidade conduzida para o bem como que se assemelha à porta de reencontro entre homens e anjos. Entretanto, meu filho, somos ainda o que fomos. Retalhos de sombra ante a glória da luz, consciências endividadas à frente da Lei, reclamando a reabilitação de si mesmas, corações esperançados no Céu, mas ainda no cárcere das próprias paixões e, por isso mesmo, chumbados ao solo escuro do planeta.
A qualquer tentame de elevação somos retidos pelo volumoso lastro de nossos débitos e daí os conflitos que surgem dentro de nós, inclinando-nos, por vezes, à desesperação e ao desânimo.
Continuemos, assim, resolutos a serviço da educação que nos restaure, restaurando aqueles que nos partilham a estrada.
Com a nossa , caminhemos para diante. Com o , semearemos o amor. Com o , difundiremos a luz. Com o , desenvolveremos a fraternidade.
Amando e iluminando, irmanemo-nos uns aos outros. Tanto quanto nos seja possível estimulemos nossos companheiros espíritas-esperantistas à fundação de núcleos de estudo e trabalho, capazes de acelerar a marcha da evangelização, do esclarecimento e da solidariedade das criaturas e dos povos.
Não basta estejamos armados de conhecimento superior para que atinjamos a Vida Mais Alta.
Ideias e ideais são as raízes de qualquer realização na vida e precisamos mobilizá-los no engrandecimento de todos, a fim de que a nossa edificação prossiga em segurança.
Os recursos materiais na Terra fazem monumentos e máquinas, entretanto só o caráter e o sentimento criam operários e valores suscetíveis de aproveitá-los na exaltação do progresso. Ainda que o nosso esforço não possa ser entendido de pronto, não desfaleçamos, continuemos abrindo sulcos na inteligência para que o homem desperte e viva entendendo a missão que lhe cabe no concerto da obra divina.
Guardemos nossos olhos e ouvidos, pensamentos e corações contra qualquer nuvem de incompreensão e discórdia, exclusivismo e intolerância, e, decerto, plasmaremos nova senda ao porvir, em favor de nós mesmos.
Imenso é o combate, mas à distância dos milênios que se foram, possuímos os milênios que virão. E os séculos porvindouros serão, invariavelmente, o reflexo do “agora”.
Soldados da luta cristã, sustentemos a chama de nossa fé na vanguarda.
Firam-se-nos os pés ou jorre sangue de nossas feridas, sejamos fiéis hoje e sempre.
Ofereçamos a Deus no campo do mundo o melhor de nossas vidas e em contraposição às trevas de ontem veremos surgir no horizonte, ainda hoje, a gloriosa alvorada que nos espera amanhã.
Abraços muito afetuosos do teu
Reformador — Janeiro de 1956.
Abel Gomes. Não consta do original o local da psicografia.
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