Cartas do Alto
Versão para cópiaMensagem do visconde de Ouro Preto
Consciente da responsabilidade espiritual que o momento me confere, venho a vós outros felicitar um amigo. Trata-se de você, meu caro Ministro, pelo muito que vem realizando pelo Brasil maior. Não suponha que a espiritualidade se encontre distante da humanidade. Nossas atividades interpenetram-se. A morte física não extingue a luta. O trabalho construtivo prossegue sempre, além das fronteiras sensoriais.
Assunto difícil esse que o habitante de regiões diferentes busca falar na voz daqueles que ainda não se encontram na mesma sintonia de vibrações. Não importa, porém. As situações diversas não modificam verdades essenciais.
É inegável que procuro transmitir um recado através de alguém que se conserva longe de nossas cogitações, entretanto urge aproveitar o telegrafista, qualquer que ele seja, no sentido de veicular a nossa mensagem.
Felicito o seu esforço ministerial, louvando sua capacidade de compreensão.
Não vivemos, desencarnados e encarnados da Terra, uma época vulgar. O momento é de transições profundas, requisitando intervenções enérgicas. E o Brasil, no concerto dos povos, tem a sua especial destinação como pátria de regeneração do Cristianismo primitivo. Aqui, meu amigo, na grandeza da terra e na vastidão dos horizontes, forma-se uma raça nova e uma atuação transcendente se verificará, em época não distante, na reconstrução geral do mundo.
A Europa, embriagada de violência e de sangue, sucumbe ao peso de crimes seculares na tabela expiatória dos grandes sofrimentos coletivos. O orgulho de raça, a vaidade da tecnocracia, a defecção no terreno espiritual transformam o Velho Mundo em palco sanguinolento de chamas dolorosas que só Deus sabe quando terminarão. A ciência perversa une-se à decadência intelectual e o morticínio prossegue, em surtos insofreáveis, disseminando ruínas, estabelecendo a miséria e agravando devastações. O homem do século XX esconde-se por trás das muralhas dos livros para assassinar o direito, disfarça-se nos excessos intelectualistas para desorganizar a paz.
Urgia defender o Brasil contra o arrasamento. Tornara-se indispensável restaurar o princípio da autoridade para nos conservarmos isentos das terríveis catástrofes. Precisávamos visão. Não era a morte dos conceitos liberais, mas a regeneração da ordem. Não se tratava do esquecimento aos valores democráticos, mas de afeiçoar a administração ao regime centrípeta do sistema federativo. A anarquia ameaçava-nos, a decadência europeia atingia-nos fundo no capítulo das ideologias excêntricas. Era um patrimônio secular que entremostrava esfacelamento — necessidades político-administrativas que nem todos os nossos se encontram na posição de compreender.
Mas a sua capacidade de recepção favoreceu aos que velam pelos nossos tesouros de realização de uma vida maior.
Sua inteligência, aclarada ao sopro de quantos contribuem espiritualmente pelo Brasil eterno, percebeu a tempestade ao lado de quem recebera a missão máxima no terreno político dentro da hora que passa, e conseguimos o ressurgimento das esperanças justas.
Não era o regresso ao patriarcado, mas o entendimento de nossa própria situação mesológica e de nossos próprios ideais que necessitam ser cunhados em metal brasileiro de realizações legítimas. Não era o totalitarismo, mas o restabelecimento da ordem, não era a extinção da democracia, mas a sua organização justa em país muito diferente daqueles que se vitalizaram com as tradições anglo-saxônicas.
E temos, de pé, o grande trabalho. Sabemos quanto lhe há custado a vida pública em sacrifícios pessoais e sofrimentos íntimos. O verdadeiro apóstolo, entretanto, segue o clarão do seu ideal e isso basta.
Lembre que ao seu lado numerosos amigos do Plano espiritual cooperam com desvelo pelo total desempenho de suas nobres obrigações.
Os missionários não são somente aqueles que se restrinjam a cogitações de natureza religiosa. Existem igualmente para Deus na esfera do bem público, onde, muitas vezes, o devotamento máximo colhe pedradas e ingratidão.
Zele o patrimônio da saúde física, prossiga destemeroso em seu apostolado político e continue o trabalho iniciado para a luz do futuro infinito.
O Brasil tem a sua missão particular no quadro da evolução humana e deve contar com o sacrifício de seus filhos mais dignos e mais operosos.
Não importa que seu coração sinta dificuldade para identificar as palavras de um conterrâneo que a morte, desde muito, arrebatou para seu misterioso país. De qualquer modo, fica-me a satisfação de haver atendido aos meus desejos mais íntimos, cumprindo um dever que me é grato ao coração.
Continuemos trabalhando. O céu não se encontra ainda sem nuvens e o campo não está integralmente restaurado, não obstante a grandeza da semeadura. Os perigos ainda surgem de todos os lados. A nação precisa energias conscientes na hora grave, de pulsos firmes que contribuam na segurança da rota.
Creio haver dito quanto desejava com meu espírito de brasileiro e de amigo de sempre.
Que a Providência Divina nos guarde para desempenho de nossos destinos elevados, são os votos sinceros que formulo de alma confiante e otimista.
Reformador — Junho de 1980.
Mensagem destinada ao ministro da Educação Francisco Luís da Silva Campos.
Consta do original, junto do nome da entidade, a seguinte informação: “Pedro Leopoldo, 1943”.
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