Na Seara do Mestre

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CAPÍTULO 15

Quem dizeis vós que Eu sou?

A pergunta que nos serve de epígrafe, dirigida por Jesus aos seus discípulos, Pedro, iluminado pelas luzes do Alto, assim respondeu: "Tu és o Cristo, filho do Deus Vivo".

(Mateus 16:16.)

A despeito, porém, dessa clara e concisa revelação, a cristandade, mal conduzida e mal orientada, faz da individualidade do Mestre tema de controvérsias e, pior do que isso, pedra de tropeço e pomo de discórdias.

Assim é que os credos estruturados nos dogmas afirmam que Jesus é o próprio Deus Criador, de vez que não é um homem como os demais. Outros descambam pelo extremo oposto, dizendo que Jesus, não sendo Deus, é homem, na acepção comum a todos os filhos da carne e do sangue.

Quer-nos parecer que nenhum desses enunciados se conforma com a realidade. Não sendo homem, é Deus. Não sendo Deus, é homem — são falsas premissas que conduzem naturalmente a falsa conclusão. Entre Deus e o homem não existirá, acaso, uma série hierárquica de seres, como existe entre o homem e o verme? Entre essas duas séries, qual será a maior? A que vai do verme ao homem é imensurável. A que vai do homem a Deus é infinita. Como, pois, estabelecer o ilogismo: Não é Deus, logo é homem; não é homem, logo é Deus? Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Mais uma vez se verifica o acerto do adágio: In médio virtus [A virtude está no meio]. Virtus, no caso em apreço, equivale a Veritas [Verdade].

A cadeia da evolução é semelhante à escada de Jacó, cujas extremidades se apoiavam, respectivamente, na Terra e no espaço infinito. Os elos dessa corrente são como as areias do mar e as estrelas do céu. Os animais se humanizam, os homens se divinizam. Vós sois deuses, rezam as Escrituras.

A marcha é contínua e progressiva. "Vede os lírios do campo; não tecem nem fiam, mas vestem-se com mais pompa que os áulicos de Salomão". "Vede as aves do céu. Elas não semeiam nem ceifam, não ajuntam em celeiros; no entanto, vivem com alegria de viver, porque nada lhes falta". Toda a infinita criação está contida no pensamento amorável do Pai celestial que tudo previu e proveu. Os reinos da Natureza se entrelaçam e se conjugam, deslizando, suave e docemente, para a frente e para o Alto.


Jesus, portanto, não é Deus nem é homem. É Filho de Deus vivo, conforme foi revelado através da mediunidade do velho pescador da Galileia. Mas objetarão: Filhos de Deus são todos os homens. Perdão. Os mortais, por enquanto, são filhos da carne e do sangue, sujeitos às contingências do nascimento e da morte. "Quando, porém, forem julgados dignos de alcançar a ressurreição dentre os mortos, não mais poderão morrer, tornando-se iguais aos anjos e filhos de Deus, por serem filhos da ressurreição. "

A filiação de Jesus é divina como a nossa também o é, com a diferença que a do Senhor é exclusivamente divina, enquanto a nossa ainda é mista, isto é, somos filhos de Deus e da carne, pois desta ainda não logramos a derradeira e definitiva ressurreição. A nossa esfera de atividades está dentro do ciclo correspondente ao aforismo kardequiano: Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre: tal é a lei.


"Vós sois daqui, eu não sou daqui. Sou o pão que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. Crês isto?"

Como sabemos que Jesus é super-homem no rigoroso sentido da expressão? Não é só pela revelação, mas também pelo testemunho que Ele deu mediante as obras que praticou diretamente em sua passagem pelo mundo, obras essas que continua executando, indiretamente, através dos mártires da fé, dos apóstolos da justiça e da liberdade e, finalmente, de todos os que se batem pelo advento do Reino de Deus na Terra.




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Mateus 16:16

E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo.

mt 16:16
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