Na Seara do Mestre
Versão para cópiaConsiderações sobre o Natal
Esse acontecimento foi anunciado aos pastores de Belém por um mensageiro celeste, nos seguintes termos:
"Eis que vos trago uma Boa Nova de grande alegria: na cidade de Davi acaba de vos nascer, hoje, o Salvador, que é Cristo, Senhor. . . Glória a Deus nas alturas, paz na Terra aos homens de boa vontade". (Lucas
Realmente, a obra redentora do Nazareno só tem início e eficácia quando individualizada. Enquanto a consideramos difusa e esparsa, abrangendo a generalidade dos homens, nada representa de positivo e concreto. Ver em Jesus o redentor do gênero humano e encará-lo como o meu redentor pessoal são coisas diferentes, senão na aparência, nas consequências e nos efeitos.
A redenção, que é obra de educação, tem que partir da parte para o todo, do indivíduo para a coletividade, e não desta para aquele. A transformação social há de ser a soma das transformações pessoais. Por isso, cumpre individuar o Natal, tomando, cada um, aquele acontecimento em sentido particular e restrito. A "parte", no assunto em apreço, nada tem que esperar do "todo". O indivíduo independe da sociedade nesta magna questão. Ele deve agir por si e para si, pois desta maneira estará contribuindo praticamente para o bem geral e coletivo.
Tratando-se da nossa evolução particular, não devemos esperar ou aguardar que tal operação se ajuste e se amolde ao conjunto, isto é, à evolução da sociedade. "A hora vem e agora é". O nosso momento é tão somente nosso, pois se acha revestido de cunho personalíssimo. Só assim se avança e se evolui de fato, dando, com o exemplo, impulso certo e seguro no progresso de todos. Enquanto esperamos que o ambiente se modifique e nos possibilite oportunidade de melhorar nossas condições espirituais, essa oportunidade nunca chegará. O dia de encetarmos a obra de nossa libertação, indo ao encontro do Redentor, é hoje, está sempre no presente.
Não convém contemporizar, de vez que não dependemos senão de nós próprios.
O Natal, pois, que nos deve interessar de modo íntimo e particular, é aquele que se consumará em nós, mediante a nossa vontade e a nossa colaboração; que terá por teatro o recesso dos nossos corações, então repassados daquela humilde simplicidade que a manjedoura de Belém prefigura.
O estábulo e a manjedoura da cidade de Davi não devem prestar-se exclusivamente a divagações poéticas ou literárias. Cumpre meditá-los como símbolos de certas condições e virtudes, sem o concurso das quais nada conseguiremos no que respeita à nossa espiritualização e ao nosso aperfeiçoamento.
O Espírito encarnado neste orbe não evolverá a esmo nem à mercê do acaso, mas segundo o influxo das energias próprias, orientadas e dirigidas por "Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida".
Assim, toda a magia do Natal resulta de sua individualização. Cada um deve receber e concentrar em si aquele advento, considerando-o como um caso pessoal.
Jesus é uma realidade e, ao mesmo tempo, um símbolo.
Ele é a Verdade, é a Justiça, é o Amor. Onde estes elementos predominarem, Ele aí estará, embora não lhe hajam invocado o nome. De outra sorte, onde medrar a hipocrisia, onde imperar a iniquidade e o egoísmo, sob suas multiformes modalidades, Ele não se encontrará, ainda que solicitado, louvado e endeusado pela boca dos homens. Jesus não é, como se imagina comumente, o criador de determinada escola, o fundador de certo credo ou seita. Ele é o revelador da Lei Eterna, o expoente máximo da Verdade, o que vale dizer, da vontade de Deus.
Sua missão não começou em Belém, nem terminou no Calvário. Ele veio para o que era seu e os seus não o reconheceram — conforme acentua João, em seu transcendente Evangelho. Jesus é a luz do mundo. Assim como o Sol não ilumina um só hemisfério, mas distribui à Terra todos os seus benefícios, assim o Divino Pastor apascenta com igual carinho todas as ovelhas do seu redil. Sobre as índias, a China e o Japão, como sobre a Europa e a América paira o espírito do Cristo velando pela obra de redenção humana.
Não importa que o desconheçam quanto à denominação.
Ele inspirara, por intermédio deste ou daquele, a revelação divina, o Evangelho do Amor. Aqui lhe darão este nome;
ali, título diverso, tomando, muitas vezes, o instrumento de que Ele se serve, como sendo o próprio autor das doutrinas ministradas. Que importa? É Ele, sempre Ele, o mediador, o ungido de Deus para intérprete da sua Lei e distribuidor da sua Graça!
Onde há o espírito do Cristo, aí há liberdade — proclama o intimorato Apóstolo da gentilidade. Jesus jamais constrangeu alguém a crer deste ou daquele modo. Tocava o íntimo do indivíduo, procurando, como sábio educador, despertar as energias latentes que ali dormitavam.
Remia pela educação, porque educar é pôr em ação, é agitar os poderes anímicos, dirigindo-os à conquista do bem e do belo, do justo e do verdadeiro, que concretizam o ideal de perfeição, pelo qual anseia a alma cativa e prisioneira da carne.
Jesus nasceu há perto de vinte séculos. Mas o seu natalício, com tudo que com ele se relaciona, reveste-se de perpetuidade. O Natal do Divino Enviado é um fato que se repete todos os dias, foi de ontem, é de hoje, será de amanhã e de sempre. Os que ainda não sentiram em seu interior a influência do espírito do Cristo, ignoram, em realidade, que ele nasceu. Só sabemos das coisas de Jesus por experiência própria. Só após Ele haver nascido em nosso coração, é que chegamos a entendê-lo, assimilando, em espírito e verdade, o seu Verbo incomparável.
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Lucas 2:10
E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo:
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