Cartilha da Natureza

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Capítulo XIX

A enxada


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No conjunto dos trabalhos,

A enxada pobre e esquecida

É uma agulha generosa

Que borda o lençol da vida.


Com desvelos carinhosos,

Faz o berço às sementeiras,

Protege os rebentos frágeis,

Traçando caminho às leiras.


Essa agulha delicada,

Vibrando de pólo a pólo,

Aperfeiçoa a paisagem,

Lançando mais vida ao solo.


Obediente e bondosa,

Coopera com o lavrador,

E onde passa costurando,

Eis que o chão transborda em flor.


Devem-lhe muito os celeiros

Na colheita farta, imensa,

Mas a enxada dadivosa

Nunca pede recompensa.


Seu prazer está nas lutas,

Nos trabalhos naturais;

Alguém lucra em seus esforços?

Mais serviço e terás mais.


Não sabe se há chuvas fortes,

Se há calor de requeimar,

Disposta sempre ao possível,

Tem gosto de trabalhar.


Modesta, criteriosa,

Atende ao labor que a chama,

Fiel ao bom lavrador,

Executa o seu programa.


Instrumento valoroso,

Que não trai nem esmorece,

Exemplifica no mundo

A humildade que obedece.


Imagina a tua glória,

Teu triunfo jamais visto,

Quando fores boa enxada

Nas divinas mãos do Cristo.




Casimiro Cunha
Francisco Cândido Xavier


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