Cartilha da Natureza

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Capítulo XXXIX

O esterco

O esterco que esgalha o bem,

Vive em luta meritória;

Se é pobre, tem seu proveito,

Seu caminho, sua história.


Quase sempre, chega aos montes

Dos redis e dos currais,

Escuros remanescentes

Da esfera dos animais.


De outras vezes, vem das zonas

De imundície e esquecimento,

Onde a vida se transforma

Em triste apodrecimento.


Em outras ocasiões,

É detrito das estradas

Lixo estranho e nauseabundo

Das taperas desprezadas.


É a decadência das coisas

No resumo do imprestável,

Fase rude e dolorosa.

Da matéria transformável.


Em síntese, todo esterco

É derrocada ou monturo

Que das sombras do passado

Lança forças ao futuro.


Analisando esse quadro,

Veremos que a podridão

Vai ser cor, perfume, fruto,

Doçura e renovação.


Notemos, porém, que a flor

Vibra ao alto, linda e santa,

Enquanto o adubo não passa

Do solo, dos pés da planta.


Na vida também é assim:

O erro, a miséria, o mal,

Podem ser algumas vezes,

Esterco espiritual.


Todavia, é necessário

Que das lutas, através,

Aproveitemos o adubo,

Esmagando-o sob os pés.




Casimiro Cunha
Francisco Cândido Xavier

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