Cartilha da Natureza

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Capítulo XL

A cova


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Raro é aquele que medita

Contemplando a terra impura,

No trabalho peregrino

Da cova pequena e escura.


Assemelha-se à ferida

Sobre a leira dadivosa,

Indício de golpes fundos

Da enxada laboriosa.


Mas, na essência, a cova simples,

Singela, desconhecida,

É o altar da Natureza,

Celebrando a luz da vida.


É seio aberto à beleza,

Ao bem que se perpetua,

A existência renovada

Que se eleva e continua.


É o sepulcro onde a semente,

Em sombra e separação,

Vai, morrendo, reviver

Nas bênçãos da Criação.


E eis que a vida se elabora

Nessa doce intimidade,

Renovando-se aos impulsos

De força e imortalidade.


Depois do apodrecimento,

Germinação e esplendores,

Verdes galhos de esperança,

Tenros ninhos promissores.


Mais tarde, o tronco, a colheita

Na fartura indefinida…

Tudo, a obra generosa

Da cova humilde e esquecida.


Esse símbolo expressivo

Vem lembrar, à criatura,

O campo do cemitério

E o quadro da sepultura.


Inda aí, a cova amiga

É sempre o sublime umbral,

Porta, aberta ao crescimento

No Plano espiritual.




Casimiro Cunha
Francisco Cândido Xavier


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