Cartilha da Natureza

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Capítulo LXVI

O vau


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Por benfeitor venerável,

No seio da Natureza,

Rola o rio caudaloso

Escondendo a profundeza.


Enquanto busca reserva,

Guardando seu próprio leito,

Ninguém se arrisca à passagem

Sem cuidado e sem respeito.


O rio jamais se nega

A ceder na travessia,

Mas todos se acercam dele

Com a máxima cortesia.


Socorrem-se os viajantes

Do auxílio de embarcação,

E espera-se a ponte amiga

Como justa construção.


Mas, se um dia, por descuido,

O rio apresenta o vau,

Ai dele! o destino agora

É triste, amargoso e mau.


Ninguém lhe receia as águas

Noutro tempo respeitadas;

Invadem-nas cavaleiros,

Carros, toras e boiadas.


As correntes que eram puras,

E amadas por justa fama,

Rolam sujas e insultadas

De lodo, de lixo e lama.


A ponte dorme em projeto

E o rio, embora a beleza,

Depois que exibiu o vau,

Nunca mais teve defesa.


As nossas almas também

São como o rio profundo…

A zona de intimidade

Precisa ocultar-se ao mundo.


O mal quer turvar-nos sempre.

Vigia, resiste e vence-o.

Se queres respeito e paz;

Não te esqueças do silêncio.




Casimiro Cunha
Francisco Cândido Xavier

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