Cartilha da Natureza

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Capítulo LXXXVI

O prato


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Dentre as coisas mais singelas

Do lar carinhoso e grato,

É justo reconhecer

A doce lição do prato.


Esperando calmamente

Comensais, em torno à mesa,

Exemplifica, bondoso,

A ternura e a gentileza.


Primoroso companheiro

De humildade e de atenção,

Por servir a quem tem fome

Aguarda o partir do pão.


Satisfaz a toda gente,

Sem sombra de vaidade,

Não olha conveniência,

Atende à necessidade.


Por vezes, o comensal,

A quem o vinho estimula,

Entrega-se à embriaguez,

À licença, ao crime, à gula.


Mas o prato está sereno,

Por fazer e obedecer,

Permanece em seu lugar,

Submisso ao seu dever.


Em geral, servem-se dele,

Sem qualquer preocupação;

Pouca gente lhe dedica

O amparo da gratidão.


E se o prato, certo dia,

Conhece o aniquilamento,

Não é por ele, é por nós,

No campo do esquecimento.


Neste símbolo singelo

De obediência e bondade,

Sentimos a lei que rege

O espírito da amizade.


Conserva teu bom amigo,

Guarda a luz que recebeste.

Não desrespeites na vida

O prato onde já comeste.




Casimiro Cunha
Francisco Cândido Xavier

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