Cartilha da Natureza

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Capítulo XXI

A cangalha


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Nos círculos de serviço,

Toda a gente que trabalha

Nem sempre sabe entender

A nobreza da cangalha.


Não fosse ela, entretanto,

Que atende, promete e faz,

E talvez o campo inteiro

Viveria estranho à paz.


Convenhamos na prudência

Que vem do rifão de antanho

Basta, às vezes, uma ovelha

Para perder o rebanho.


O muar deseducado,

Que a força brutal anime,

Nunca perde ensejo ao coice

E está sempre pronto ao crime.


Vive ao léu, ameaçando

A golpes de grosseria;

Aparentando brandura,

Transborda selvageria.


Transforma-se, comumente,

No animal rude e vilão,

Que se esquiva do trabalho,

Por preguiçoso e ladrão.


Todavia, chega o instante

Em que a cangalha, bondosa,

Comparece orientando,

Honesta, laboriosa.


Ligada por laço forte

Ao amigo da indolência,

Dá-lhe os bens da utilidade

Em luzes de experiência.


Perguntemos a nós mesmos,

Notando-a, modesta e bela,

Quais os homens deste mundo

Que podem viver sem ela.


O dever, como a cangalha,

Que tanta grandeza encerra,

É a balança de equilíbrio

Nas vidas de toda a Terra.




Casimiro Cunha
Francisco Cândido Xavier


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