Cartilha da Natureza

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Capítulo XCI

A candeia


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A sombra desce de manso,

O silêncio volve aos ninhos,

É a noite cariciosa

Que se estende nos caminhos.


Na casa pequena e simples

Que é refúgio da pobreza,

É mais densa a escuridão

Que amortalha a Natureza.


Mas no quadro desolado

Perpassa a bênção do amor,

A candeia humilde e rude

Clareia do velador.


Na sala desguarnecida

Da morada carinhosa,

Sua luz mostra a beleza

De uma estrela generosa.


Aproveita-se-lhe o encanto

Na esfera da utilidade,

Mas quase ninguém lhe vê

O espírito de humildade.


Seu processo de ajudar,

Nas sombras da noite escura,

Revela lição sublime

Ao plano da criatura.


Por servir de fonte calma

Ao clarão bondoso e amigo,

Ela queima a provisão

De tudo que tem consigo.


Consome o óleo, a torcida,

Perde o brilho, perde a graça,

Suporta o calor do fogo,

Sofre o assédio da fumaça.


E guarda, com Deus, a glória

De haver produzido o bem,

Sem ferir qualquer pessoa,

Sem prejuízo a ninguém.


Quem deseje iluminar,

Proceda como a candeia:

A si mesmo se ilumine

Sem reclamar luz alheia.




Casimiro Cunha
Francisco Cândido Xavier


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