Chico Xavier - Dos Hippies aos Problemas do Mundo

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Capítulo XIV

As crianças excepcionais


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— Muito bem. Chico Xavier volta a responder à equipe interna do Pinga-Fogo, com o Leporace formulando a sua pergunta.

— Meu prezado Chico Xavier, vou lhe fazer uma pergunta que precisa primeiro de uma preparação. O seu benfeitor principal, o Espírito de luz Emmanuel, já teve possibilidade de se manifestar diversas vezes, corporificando-se, como acaba de dizer, em Manuel da Nóbrega, o padre Manuel da Nóbrega, e anteriormente corporificou-se no senador Públio Lêntulus, que foi contemporâneo de Jesus Cristo. Ele, através da figura de Emmanuel, seu guia, seu benfeitor, tem produzido milagres. Então, em sucessivas incorporações ele adquiriu luz. A luz que se tem como ideal no Espiritualismo. Então, é lugar comum dizer-se que estamos de passagem sobre a face da terra. Cada um de nós tem uma missão a cumprir. O Chico Xavier, você tem a sua, de abnegado pastor e paciente ouvinte desses que fazem as perguntas mais disparatadas e a todas você dá uma resposta exata, dentro daquilo que se convencionou chamar e que você faz questão que se diga que nada mais é que o instrumento de um espírito de luz, evoluído, de Emmanuel. Então, se cada um de nós vem cumprir na terra uma missão, depois dessa missão cada um de nós então acrescenta pontos às suas vidas pregressas, anteriores, para disputar uma auréola, eu gostaria de perguntar, Chico Xavier, que espécie de missão vêm cumprir essas crianças que lotam aqui em São Paulo as Casas André Luís. São crianças que nascem cegas, surdas, mudas, aleijadas e a gente só sabe que vivem porque respiram. Então, eu pergunto, onde, dentro dos fenômenos cármicos, onde, dentro da evolução espiritualista, nós podemos condicionar essas crianças, essas criaturas de Deus? Que fazem elas sobre a face da terra, além de sofrer e de inspirar piedade aos que as cercam, aos que as abrigam, aos que as asilam, aos que as protegem e aos que as mantém? Eu gostaria de uma resposta sua a essa pergunta, Chico.

— Algumas vezes temos sido orientados quanto à instrução a que se refere o nosso querido entrevistador, nosso amigo, Sr. Vicente Leporace. Quando cometemos o suicídio, quando perpetramos o homicídio, conscientemente nós dilapidamos em nós mesmos determinadas estruturas do nosso corpo espiritual. Passamos, então, à condição de criaturas claramente alienadas do ponto-de-vista do equilíbrio mental na vida próxima. Sem o corpo somos hospitalizados em cidades e colônias do mundo espiritual pela benemerência de Nosso Senhor Jesus Cristo, através das seus mensageiros, como verdadeiros doentes mentais em estado grave. E tão somente o regresso ao corpo físico pode operar em nós, isto é, facultar-nos a possibilidade da reestruturação daqueles mesmos implementos do corpo espiritual que nós destruímos. Muitas vezes a idiotia não é senão o processo de internação que solicitamos, por nós mesmos, com as nossas necessidades, para que venhamos a entrar num período de autotratamento intensivo. E nada dói tanto, e nada nos suscita tanto amor quanto uma criança doente. Pais, mães, conselheiros, orientadores; amigos, uma criança doente nos enternece. Uma criança doente é uma obra de Deus mutilada em nossas mãos. Mas isso não vem de Deus, porque Deus nos criou para a harmonia, para a felicidade. Agora, nós criamos os mecanismos do sofrimento, da expiação, em nós mesmos. O inferno reside em nossa própria mente, quando nós infernizamos a nossa vida, quando entramos num processo de culpa intensivo, absoluto, conscientemente nós estragamos a nossa, vida cerebral, o nosso mundo mental. Nós obstruímos os canais do equilíbrio, perdemos a conexão com aqueles que são os benfeitores máximos da nossa vida, e eles mesmos, por amor a nós, nos ajudam, nos colocando em braços de mães maravilhosas, de pais abnegadíssimos, que nos ajudam em nossa própria reestruturação. Nada dói tanto como uma criança doente. Muitas vezes ouvi amigos com muita experiência da vida indicando a eutanásia para os casas de idiotia. Mas, em nome de Jesus, nunca devemos fazer isto! Amar sempre os nossos filhos, os nossos descendentes que estejam nessa condição e tanto quanto possível ampará-los quando eles estejam desprovidos de lar. É uma benção amparar alguém. Amparar alguém como esses nossas irmãos que estão em condições assim tão dolorosas, porque amanhã, eles serão também nossos benfeitores. Bem-aventurados aqueles que puderem estender o coração e as mãos para as criancinhas que nascem nessa condição.



Francisco Cândido Xavier

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