Chico Xavier e suas Mensagens no Anuário Espírita

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Capítulo LXXI

Vida e amor


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São dois corações fraternos

Que se fitam encantados,

Dizem amigos em torno

Que eles já são namorados.


Permutam palavras lindas

Trocam pétalas douradas,

Passeiam, todas as noites,

Beijando-se nas estradas.


Lembram fatos, contam casos

Da mais diversa expressão,

São felizes, a contento;

Anunciam-se em noivado

E combinam casamento.

O enlace foi realizado,

Segundo normas antigas,

Preces, doces e presentes,

Em meio a vozes amigas.


Juntos agora sorriem,

Resguardando a luz da paz,

Pois, fazem o que desejam

Buscando o que lhes apraz.


Findos, porém, poucos meses,

Chega o tempo de fastio,

Ela mostra a face triste,

Ele tem o olhar sombrio.


Quando ele chega, ela diz:

— Abre o teu rosto fechado!

Ele fala: — Se eu tivesse refletido,

Jamais teria casado.


E o casal vive em silêncio,

Sofrendo amarga tensão,

Ao invés de procurar

A própria conciliação.


Trocavam palavras feias

Arrufos, queixas, conflitos,

Quanto mais corria o tempo,

Mostravam-se mais aflitos.


Queriam que o mundo fosse

Belo jardim, mas não é…

Declaravam-se quais ateus,

Entretanto, resguardavam

Migalhas da própria fé.


Surgiu momento mais triste.

Alegou que o chefe, o doutor Matias,

Pediu-lhe abnegação

De viajar por três dias.

Era assunto de seu cargo!…

A esposa lançou protesto,

Mostrando um sorriso amargo.


Ele se ergueu e exclamou:

— Minha vida fez-se um osso,

Nisso, uma serva avisou:

— Tudo pronto para o almoço.


Logo após, ele fez-se ausente

Para cumprir o dever.

A esposa recusou a despedida,

Não sabia o que fazer.


Depois da ausência, ei-lo de volta.

Entrou em casa devagarinho,

No quarto, notou a esposa

Vestindo um pequenininho…


Ao vê-lo exclamou, contente:

— Nasceu nosso filho amado…

Ele abraçou-a cortês,

Em seguida, pôs-se de lado.


Contemplava o pequenino,

Como quem pensa e compara,

Que mostrou nos sinais dele,

A cópia da própria cara.


Disse alegre: — “Minha flor,

Ele terá meu carinho,

Agora já temos em casa,

Nosso esperado filhinho!”


Beijou a senhora em pranto,

Perdendo o jeito tristonho;

Unidos ante o recém-nato,

Fitando os mantos seus,

Abraçaram-se felizes,

Rendendo graças a Deus.


Contei esta história longa,

Em que o amor se descerra,

Para dizer que a família

É a Bênção Maior da Terra.


Primeiro veio a vontade

E a atração a se interpor;

Diz que acima da amizade

É que brilha a luz do amor.




(Anuário Espírita 1993)


No original: até.



Antenor Horta
Francisco Cândido Xavier


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