Colheita do Bem

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Capítulo CIX

Que Jesus nos inspire as resoluções e providências

16/01/1952


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, fortalecendo-nos para o caminho a percorrer.

Sob o temporal das perturbações na luta redentora da carne, reconhecemos que a tempestade surge impetuosa. Dificuldades se estendem complexas ao longo do caminho e admitimos a existência de obstáculos enormes, em nossa direção, sobre o dorso das ondas encapeladas. É o mar de aflições e provações sob o navio de nossos ideais e de nossos princípios.

Habituados, pela graça de Deus, com o trabalho, não entendemos a ociosidade. Convencidos do valor da ordem, não esposamos a desarmonia. Edificados no desempenho das obrigações que nos dizem respeito, não nos compadecemos com a ideia de assalto à seara alheia. Integrados no espírito de sequência e de equilíbrio, na tarefa diária que o Mestre nos reservou, não compreendemos a invasão, a injustiça e o endosso maligno da indisciplina. E, por isso, somos conduzidos ao pelourinho da opinião pública na posição honrosa dos que, trabalhando pelo bem, suportam com valor e serenidade as arremetidas do mal. Esse o quadro do nosso ingresso ao 1952, que se revela, em pleno limiar, repleto de lutas.

Vocês, naturalmente, desejariam mais objetividade em minhas palavras. Deveria, de minha parte, trazer-lhes pareceres definitivos. Entretanto, a marcha dos acontecimentos da embarcação tem a evolução que lhe é peculiar. Doloroso é identificar a discórdia entre aqueles que mais estimamos e lamentável será sempre a atitude daqueles que, deliberadamente, nos ignoram a boa vontade. São instrumentos selvagens de nossas dores maiores, tentando aniquilar a paz e o esforço construtivo de que os nossos destinos no mundo se encontram revestidos.

Não lhes venho pedir essa ou aquela demonstração de cautela ou vigilância, porque vocês sabem comandar sem interferências ruinosas o navio que o Mestre lhes confiou. Ainda na condição de amigo paternal, escasseia para mim o direito de intervir. Estamos à frente de uma luta titânica, em que vocês mesmos são convocados pelo Senhor a deliberar e conduzir. , quaisquer que sejam.

Não fosse a política funcional dominante, em seu setor de criação e trabalho, meu caro Rômulo, nenhuma preocupação das que nos alcançam na hora que passa me afligiria. Dos subordinados vejo a disciplina a que precisam tornar e das autoridades superiores sinto o respeito que nos devem. Em razão disso, sem a “política funcional” os problemas e assuntos seriam os mais simples. De qualquer modo, porém, meu filho, coloque o navio em boa ordem de marcha, tanto quanto lhe seja possível, e rumemos para adiante. Os espíritos raquíticos reclamam alimento nas ilhas de ilusório reconforto, mas nós, meu filho, estamos fadados a caminhar.

Conheço o teor de todas as suas inquietações e peço-lhe calma. Não convém gastar as possibilidades de seu beliche antes de identificar o porto próximo. Aguardemos, reduzindo emoções e atenuando raciocínios. Cada dia tem uma voz, assim como cada pessoa é portadora de certa mensagem. Aguardemos o respeito de que somos credores para a continuidade da nossa tarefa, mas, ainda aí, tranquilizemos o próprio coração, esperando o tempo sem a desesperação angustiante. Aliás, é muito de nosso desejo que você e Maria, principalmente, se entretenham com assuntos estranhos à tempestade a que nos referimos. Há mundos em torno de nós para o desdobramento e trato. Na opinião de um escritor evangélico, “há em toda a Terra mais espíritos para educar que terrenos para cultivar”. Não podemos aceitar o desânimo, nem mesmo por um minuto! Nas circunstâncias menores da vida, a vontade do Senhor nos segue amorosa e vigilante. Não há sofrimento injusto, nem há remédio inútil. Tudo na vida obedece a inspirações e determinações sábias e proveitosas. Tratem outros dos problemas que o aspecto da questão envolve em si, porque, quanto a mim, preciso, antes de tudo, velar por vocês. Se o Evangelho nos conta que a alma de um menino para o reino é de Deus, é mais importante que todos os domínios da Terra, a paz e a saúde de vocês exprimem para o meu coração um tesouro maior que todas as utilidades materiais do serviço coletivo. Defendamo-nos contra as energias desintegrantes do escândalo. Tudo passa e nós ficaremos. Ficaremos na obediência ao Senhor, que realmente nos governa a existência, servindo-o na pessoa dos nossos semelhantes necessitados.

A surdez dos últimos dias, meu filho, resulta do resfriado que se agravou sob os choques sistemáticos das preocupações da hora em curso. Em nome do nosso receitista, aconselho a você os seguintes preparados: Kalmia L. 5ª, Lachesis Trig. 5ª, Iodium 5ª, Chelidonium 5ª, 1 gota do Óleo de Rícino na intimidade do ouvido, diariamente à noite, ao deitar-se, por duas semanas. No mesmo período, usar o “medicamento inglês” como aperitivo em uma das refeições (almoço ou jantar) de cada dia. Essa medida continuará beneficiando as coronárias, que experimentam grandes constrições pela atuação do pensamento menos tranquilo.

Haja o que houver, tenhamos nossa alma voltada para Jesus, que tudo nos concede por acréscimo de sua misericórdia infinita. Guardemos a alegria de quem sabe encontrar o Amigo celeste acima de todas as considerações de ordem terrestre, porque a alegria vale muitíssimo, a fim de conjurarmos para longe de nós as mínimas notas de desencanto ou desespero. Devemos acreditar na veneração e na segurança que nos merecem os trabalhos reservados pelo Alto às nossas mãos, mesmo porque é perigoso a quem governa abrir precedentes de indisciplina, coisa graúda no conjunto das tarefas coletivas e públicas, mas ainda que semelhante direito nos seja sonegado saibamos continuar trabalhando e servindo com a mesma disposição de atender ao Bem Infinito.

Estimo a atitude superior que vocês assumiram nos sucessos que ora se desenrolam nas tarefas de sempre e desnecessário será repetir a reafirmação de minha confiança em vocês, nas horas de qualquer natureza, que os círculos do nosso trabalho nos possam impor ou oferecer. Confiamos em vocês em qualquer ângulo do serviço espiritual em realização nestes dias.

Meus “parabéns” ao Roberto pela inclusão no quadro do serviço público. Entrar em uma oficina é o essencial quando precisamos mostrar a nossa habilitação nessa ou naquela máquina. Deus abençoe ao meu neto, a fim de que encontre as maiores bênçãos em seu caminho de profissional abnegado no bem de todos.

Adeus, meus filhos. Contem comigo em todas as particularidades do caminho que nos compete percorrer. O amor não é ilusão e a morte não é distância. Estaremos juntos. Onde vocês estiverem, igualmente estarei. Tenhamos tranquilidade e aguardemos. Essa é a nossa hora de observação e expectativa.

Reunindo vocês todos no meu grande e apertado abraço de sempre, sou o papai muito amigo e inseparável de todos os momentos,




Nota da organizadora: Roberto formou-se médico veterinário pela Escola Nacional de Veterinária da Universidade Federal Rural, em 1950. Foi contratado pelo Ministério da Agricultura a partir de 1952.



A. .Joviano
Francisco Cândido Xavier

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