Colheita do Bem
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01/04/1952
Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês todos, conferindo-nos saúde, alegria e bom-ânimo para nossa luta redentora de cada dia.
Compreendo a atmosfera de sombrias preocupações que naturalmente nos assaltou nas circunstâncias da hora que passa. Entretanto, meus filhos queridos, é indispensável saber contornar o rochedo infeliz para que a dureza dele não nos fira ou estraçalhe. Sabemos que há razão para a atitude apreensiva, mas não devemos perder a esperança.
As administrações humanas se modificam e quem nos oferece hoje o cálice mais amargo da luta amanhã pode ser constrangido a sorver o conteúdo da mesma natureza.
Reconheço que a mudança é difícil, que a transferência para a vida turbilhonária de uma grande capital é imprevista. Sei que os obstáculos não serão pequenos, a se anteporem cada dia entre a nova realidade e os nossos hábitos mais caros, entretanto, busquemos senhorear a situação com a precisa coragem e com a fé necessárias.
Antes de tudo, a serenidade e o otimismo devem presidir as nossas alterações do momento, a fim de que não venhamos a sucumbir sob as provas que nos compete superar.
Peço a você, meu filho, muita calma e resistência moral. Não desconheço os conflitos interiores que lhe oprimem a alma e lhe amarguram o coração. Daria tudo para poupá-lo de semelhantes dificuldades, mas não posso interferir no curso da lei que, gradativamente, vai executando os seus desígnios um dia escolhidos e fixados por nós mesmos.
Cada qual de nós deve trilhar uma senda específica de acesso à comunhão com o Senhor. Você sabe que, por minha vez, enquanto aí, atravessei igualmente os maus dias e as noites insones que a vontade do Alto me reservava. Nem sempre a nossa jornada no mundo pode seguir entre os caminhos que nos pareçam mais ajustados ao nosso modo de ser.
Você não está esquecido e nem desamparado. Passo a passo, amparam-no vários amigos invisíveis que se abeiram de sua estrada, estendendo-lhe as mãos. Não se suponha — repito — exonerado pelo Plano Superior das suas tarefas de ordem espiritual. A sua retirada compulsória, que desejamos tão curta quanto seja possível, obedece a injunções do seu próprio mapa de vida na Terra e não a impositivos de natureza exterior. Há momentos em que precisamos apreciar a luta de um plano mais elevado, nela penetrando mais por amor aos outros que por devotamento ao nosso próprio bem-estar. E semelhantes oportunidades decorrem invariáveis de nossa própria eleição antes do mergulho nos fluídos densos da carne sobre a Terra.
Bem se vê que estamos à frente de um adversário. Não se discute. No entanto, é necessário conquistar-lhe a opinião em nosso próprio favor. Sei que você não nasceu para a insinceridade e mais que ninguém conheço o seu temperamento franco, claro e espontâneo. Contudo, meu caro Rômulo, se a hora pede sacrifício, atendamos-lhe ao impositivo. Estou convencido de que você comigo, e eu em sua companhia, edificaremos muitíssimo naquele espírito desarvorado, embora convencional, em seu lustre de superfície. Não ignoramos que aceitando a Jesus por mestre a ele confiamos nossa vida, dispondo-nos a receber-lhe as divinas lições, em qualquer parte. E já que o Mestre imperecível nos convida a novo campo de ação procuremos não temer e sim crer somente, segundo a palavra sábia e iluminada do Evangelho.
Eu não disse na quarta-feira passada que você está doente e impossibilitado de atender às novas obrigações. Não seria eu o profeta de sua desistência da luta. Em minha carta humilde, apenas tracei um quadro do que poderia acontecer ao nosso grupo familiar, a fim de exaltarmos a graça divina que realmente nos acompanha em todos os instantes de nossa luta. Estaremos de pé, ao seu lado, auxiliando a cumprir seus deveres novos. Renovar-nos é a base de nossa verdadeira elevação. Não pense nos males de que o adversário possa ser o portador e sim lembremo-nos dos bens que podemos levar-lhe à ação e ao coração. , embora o quadro por ele estabelecido aos nossos olhos seja o mais desagradável à nossa conceituação de serviço, de equilíbrio e da vida. Encaremos a realidade com espírito sereno, atentos à cooperação valiosa da qual podemos dar testemunho. Não esperemos dele o que não tem para dar-nos e sim estejamos prontos para oferecer-lhe os recursos que pode esperar de nós.
Não há tempestade sem bonança e nem noite sem dia. Se o Senhor nos considera dignos de uma empresa tão alta, e aparentemente superior às nossas forças, sigamos ao encontro dela com destemor e paciência. Você não ignora que é fácil traçar roteiros para os outros enquanto nos demoramos na calma da paisagem diferente, contudo, estou vivendo o seu drama íntimo com indizível amor e não menor preocupação, e espero que o Alto nos favoreça. Tenho conversado mentalmente com você através de muitas maneiras diferentes, nos dias últimos, mas estou aprendendo com você a lição de que é muito difícil consolar aqueles que são o consolo de muitos e encorajar os corações que se fizeram os protótipos da coragem. Ainda assim, avancemos para adiante com otimismo e esperança. O essencial, no momento, é suportar de perto aquilo que você tolerava de longe, a fim de traçarmos com segurança um programa de recuperação. Se eu pudesse instilar em seu espírito uma força renovadora para a garantia de nossa paz nos primeiros embates, creia que daria tudo para satisfazer-lhe a necessidade. De qualquer modo, porém, confio em sua capacidade de autodomínio e no patrimônio de recursos espirituais de que, presentemente, somos detentores, a fim de que possamos sobrenadar acima do dilúvio dos caprichos e paixões desencadeado. De sua tolerância dependerá o êxito. Há cruzes que precisamos suportar com o heroísmo silencioso do Mestre para que nós e o nosso trabalho possamos encontrar a precisa ressurreição.
Noto-o algo fatigado e muito aflito na semana presente, mas todos esses fenômenos obedecem a causas de ordem mental e não física. Ainda assim, solicitei instruções do nosso receitista, que indica a você o uso alternado, por 10 a 15 dias, de Cactus Grand. 5ª, Lachesis 5ª, Carbo 5ª e Kalmia Lat. 5ª. E por alguns dias — 3 a 4 semanas — use um auxiliar para o sistema nervoso no Maracujina. É um preparado em base de frutas plenamente inofensivo e com propriedades que podem ajudar-nos de maneira expressiva. O “medicamento inglês” igualmente deve comparecer à nossa lida diária.
Quanto ao mais, meu filho, tenhamos esperança e fé. No Rio, façam o possível por manter as orações e o culto das quartas à noite com os nossos e com a presença eventual de algum companheiro de confiança. Estarei presente e procurarei fazer-me sentir por intermédio de Wanda, ou mesmo de vocês, em alguns minutos de prancheta.
O tempo tudo reajustará se auxiliarmos ao tempo. Não há motivo para nos entregarmos à inconformação ou ao desânimo. A Providência Divina só nos pede a condução de certos fardos quando nos considera fortes. As missões espirituais, o desejo de fazer o bem e o ideal de servir jamais se interrompem. A ordem de Deus à Criação é a de que tudo continua — a vida conosco e nós com a vida — no rumo da perfeição infinita a que todos estamos destinados. Que o Alto nos proteja e nos abençoe. Confiamos em você com a segurança de sempre.
Estamos muito satisfeitos com a nova bandeira que o Roberto está desfraldando. Está moço e forte, com múltiplos recursos para uma iniciação profissional em grandes passos como os que se anunciam. Desejo ao meu neto muito progresso, saúde, paz e prosperidade. À Wanda estendo os meus votos de pleno êxito em seus ideais no serviço público e à nossa querida Maria, junto de você, desejo muita coragem e compreensão como sempre, para que nos auxilie a ver com clareza nas particularidades do caminho que nos cabe trilhar com prudência, operosidade, boa vontade e tolerância.
Assim, pois, não nos reportemos a um “adeus” inexistente e inadequado. Trabalhemos e o Senhor nos auxiliará. Confiemos no Alto e o Alto confiará em nós. Ajudemos para sermos ajudados. Toleremos, a fim de aproveitar com eficiência os bens que a vida e o mundo nos reservam. Exaltemos o otimismo e veremos o sol resplandecer sobre o pântano. Plantemos a esperança com o esforço de nosso sacrifício e o Senhor nos compensará com a realização, que é sempre a bendita colheita do espírito.
De almas e corações ligados, pois, nos problemas e trabalhos de cada hora, sigamos ao encontro da luta, porque, sem ela, não poderíamos aferir os nossos valores à frente de Deus.
Desejando-lhes, assim, tudo o que possa existir de melhor no caminho da vida, abraça-os com imenso carinho e profunda gratidão o papai e vovô que não os esquece,
Nota da organizadora: A título de informação, e de conformidade com o Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo, de João Teixeira de Paula, a prancheta é conceituada como segue: “(…) Peça móvel em que há um indicador (ou ponteiro), que percorre mediunicamente o alfabeto (em forma de quadrante), os algarismos de 0 a 9 e as palavras SIM e NÃO ali colocados e por meio dos quais se obtém comunicações espiríticas. Um autor, que naturalmente muito lidou com a prancheta, assim a descreve: “Por meio da prancheta obtém-se extensas comunicações, sem demasiada fadiga para o médium. A prancheta deve ser, de preferência, de madeira lisa ou polida, com as dimensões de cerca de dezoito por dezoito centímetros. Num dos bordos haverá um cartão resistente para designar as letras e os algarismos inscritos no quadro. Esse quadro é constituído por uma folha de papel resistente, com as dimensões de quarenta e cinco por trinta, no qual se inscrevem, em duas linhas, as letras do alfabeto suficientemente distanciadas umas das outras. Uma terceira linha é reservada para os algarismos de zero a dez. Por baixo dessa terceira linha são inscritas as palavras “sim” e “não”, à direita do quadro. A prancheta só necessita de um médium e de uma única mão — e é assim que se obtém os melhores resultados, conquanto certos experimentadores não consigam utilizá-la senão com duas pessoas que pousem a mão perto uma da outra. O quadro é colocado em cima de uma mesa: o médium pousa a mão estendida na parte inferior direita do alfabeto. É indiferente pôr uma ou outra mão. É nessa atitude que se aguarda que a prancheta se mova. (…) quando a prancheta está prestes a mover-se, o médium sente, geralmente, um formigamento no braço, no pulso ou nos dedos. O aparelho, então, dirige-se para as letras suscetíveis de formar palavras e, depois, frases. A prancheta necessita de muito pouco fluido e o médium não sente a menor fadiga. (…) O uso assíduo da prancheta é um bom caminho para a mediunidade de incorporação. (…) Prancheta, no sentido espirítico, é galicismo, pois provém do nome de seu inventor, Planchette, espírita francês que, em 1853, teve a feliz ideia da invenção do dispositivo mediúnico.” PRANCHETA. In: PAULA, João Teixeira de. Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1970. p. 71-73. Compulsado do livro (VINHA DE LUZ, 3. ed., 2010, p.49-50).
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