Colheita do Bem

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Capítulo XIII

No dia de Célia


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22/06/1949


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, conferindo-lhes muita paz e alegria aos corações.

Quero agradecer-lhes muito particularmente as orações íntimas com que comemoraram no lar a passagem do dia 18 de junho corrente. O abnegado coração a que nos ligamos pelas dívidas do reconhecimento e do amor guardou-lhes as vibrações de carinho com a mesma ternura de todos os tempos.

Agora que vocês recolheram certas noções da vida espiritual, com André Luiz e com os trabalhos de materialização que têm seguido, atenciosos, poderão compreender a descrição singela que lhes farei da homenagem simples que lhes consagramos na noite em que vocês oraram, lembrando também a mensageira da luz.

O grande Espírito, chamemo-la assim, possui, naturalmente, vasta comunidade de ligações e de amigos, encarnados e desencarnados em Planos menos evoluídos, que permanecem temporariamente adormecidos. Ela naturalmente se lembra de todos, mas de nossa região comum são poucos aqueles que lhe podem, de pronto, recordar a figura angélica. Não estive com vocês naquele dia porque os poucos que poderiam encontrá-la e eu achávamo-nos em preparação adequada. Esses poucos, na maior percentagem, aqui me refiro aos desencarnados que poderiam se elevar até uma Esfera X, são companheiros nossos da instituição campista com Nina Arueira à frente. Preparamo-nos todos em círculo próximo e fomos ao seu encontro numa paisagem onde a luz e o perfume das Esferas mais elevadas da Terra podem chegar. Sabíamos que a missionária, desde a manhã, estaria com a atenção voltada para a zona da crosta planetária em trabalho que não me é dado penetrar, nem descrever. Creio que terá vindo em visita a diversos lugares e a vários corações que lhe são sumamente queridos, mobilizando serviços que não me é permitido ajuizar, acreditando que dessas atividades se destacam certos problemas relativos à reencarnação do companheiro, que não precisamos nominalmente mencionar. Sabíamos, porém, que depois da meia-noite voltaria ao seu domicílio celestial e para abraçá-la congregamo-nos todos num templo natural de uma cidade sublimada, que designarei pelo nome de “Portas de Ouro”.

Acolhidos por benfeitores que nos conheciam o plano de alegria e reconhecimento, associamo-nos a outras entidades que residem em círculos muito mais altos que aquele onde me encontro, e que vinham com os mesmos objetivos. Éramos também quase dois mil companheiros numa festividade de amor. Tudo foi maravilhosamente bem disposto. Crianças e jovens guardando flores cantavam hinos que a minha emotividade nunca me permitiria descrever em palavras humanas, e amigos veneráveis compunham correntes de oração e de forças benéficas. Cem amigos, convertidos em doadores de “matéria radiante”, se postaram em grupo para fornecer-lhe recursos à pequena demora entre nós, porque a deteríamos naturalmente como vocês já conseguem deter por alguns minutos, ou mesmo por horas, um Espírito materializado, com as energias dos instrumentos humanos. Ela vinha só, como um astro luminoso que amasse a solidão e o silêncio, apagando, por amor, a própria grandeza, quando a surpreendemos com a nossa manifestação de afetividade e carinho. Momentaneamente “materializada”, ou “revigorada” para estar conosco, abraçou-nos com a ternura de todos os séculos e de todos os minutos. Eu, antes, havia pedido em preces que me alijassem do coração qualquer ideia de devoção exclusiva para compreender nela não uma bênção viva ligada pessoalmente às nossas vidas, mas por um “dom celeste” pertencente a todos e a todos ligada pela herança de amor universal que Jesus nos legou. Em vista disso, conservei-me na mesma posição dos seus devedores, admirando-lhe a nobreza e a santidade, mas isso não impediu que o amor nos desse oportunidade a uma palestra carinhosa e inesquecível, em que todos os nossos assuntos foram recordados. Através de processos que não posso ainda perquirir, conhece todas as particularidades dos nossos destinos e a posição atual de todos os componentes de nosso grupo familiar. É desnecessário que eu diga a vocês qualquer coisa do espírito de ternura com que lhes acompanha a trajetória e só posso dizer-lhes que o seu sublime devotamento nunca perdeu um “til” na ligação divina existente entre ela e cada um de nossa “assembleia em redenção”. Choramos e rimos. Como podia ser de outro modo? Os anjos possuem problemas talvez mais vastos que os enigmas dos homens e a lágrima não pode ser banida do trono paternal da Providência Divina, enquanto o amor não celebra nos filhos do Céu a sua divina vitória.

Quando todos os presentes ofertaram-lhe lembranças queridas, a se traduzirem nas mais variadas formas, eu, por minha vez, entreguei-lhe, com todo o meu coração, um exemplar do “Alvorada cristã”, estruturado em matéria de nossa casa espiritual. Expliquei-lhe que muitos daqueles contos me recordavam antigos entendimentos nossos, no tempo em que estimávamos dar escola aos meninos escravizados. E com bondade recordou que a escola está viva e que a escravidão ainda não foi realmente exterminada no mundo, exigindo muito esforço dos espíritos de boa vontade em favor de sua abolição, no imo das criaturas. Música divina coroou-nos a manifestação de ventura espiritual e, francamente, estimaria poder exprimir-lhes o meu contentamento em rever antigos laços, não somente da comunidade europeia mais antiga, mas outros de climas e posições há muito distanciados no tempo.

Só lhes posso trazer palidamente essas notícias breves, asseverando-lhes, ainda e sempre, que vale a pena sofrer e lutar sempre, com elevação de vistas, com valor moral e com espírito de sacrifício. O encontro dos mensageiros de “Cima” desperta em nós energias novas. Estou infinitamente feliz! Vamos trabalhar e seguir para diante. Nossa meta é o amor divino vitorioso e nossa embarcação é o serviço permanente aos semelhantes. Nunca nos faltará o socorro celeste. Como temer a dor, se os anjos também lutam e choram? Como repousar, por espírito de fuga, aos compromissos assumidos, se o próprio Jesus ainda está crucificado no coração humano? O que deve apelar para as nossas almas é o presente em favor do amanhã triunfante, com bastante renovação interior que nos habilite a recolher maiores dádivas da Bondade Divina. Sinto-me contente em poder transmitir-lhes essas informações. Que vocês recebam, tanto quanto eu, o santo incentivo que essa experiência me trouxe, e que o Senhor nos abençoe. Maria, o receitista me esclarece julgar melhor, deixar para amanhã, a receita para o Roberto, por desejar encontrar, com tempo e êxito, um medicamento mais específico para o caso do braço. Espero cuidar do novo trabalho a que pretendo dedicar-me logo depois que regressarem da viagem em perspectiva. Que Jesus nos ampare a todos, fortalecendo-nos para o serviço em suas diretrizes santificadas e justas. Pedindo a ele, nosso Mestre e Senhor, para que vocês estejam muito encorajados no abençoado trabalho de cada dia, deixa-lhes afetuoso abraço o papai muito amigo de sempre,




Nota da organizadora: Refere-se ao Espírito de Ciro, um dos personagens do livro 50 anos depois, e Seggie, no século XX [Sobre Ciro e Célia vide especialmente os seguintes capítulos do livro citado: e ].



A. .Joviano
Francisco Cândido Xavier


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