Colheita do Bem
Versão para cópiaCada roupagem uma encarnação
14/06/1950
Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, conferindo-lhes muita saúde, paz e alegria.
Quisera encontrar expressões para interferir na palestra espiritualizante que vocês improvisaram em torno da alma e da reencarnação. Entretanto, se de meu lado as imagens se sucedem ricas de tema e colorido, no lado de vocês há deficiência expressiva. Tudo deve estar condicionado à experiência e a revelação de qualquer natureza é constrangida a marchar para frente, não na medida dos passos e sim dos milímetros para que a vida se mantenha sem choques e sem movimentos bruscos, no Plano em que se detém.
Continuem, porém, elegendo semelhantes assuntos em torno da mesa cristã no lar consagrado aos princípios superiores do Mestre. O campo doméstico é sempre abençoada escola a espraiar-se em seus valores legítimos, no infinito do espaço e do tempo. E quando a casa do homem se converte em santuário dos mais nobres pensamentos, a zona de penetração do Céu se desenvolve mais amplamente na Terra.
Somos os herdeiros dos milênios caminhando com a súmula de todas as experiências realizadas desde os reinos primários da luta evolutiva. Somos, em toda a extensão do tempo, uma individualidade envergando roupagens diversas. . Cada encarnação é uma zona de experiências que ilustramos ou obscurecemos e através da qual, embora a nossa unidade essencial, descemos ou subimos na escala vibratória da vida, de acordo com o nosso aproveitamento ou com a nossa inibição voluntária. Assim me expresso, porque há pessoas que estabelecem os seus próprios impedimentos à maneira de um operário que se servisse de um paraquedas para executar determinado serviço em certa região e que, chegando a ela, desistisse das responsabilidades assumidas, julgando-se sem forças ou sem aptidões para a tarefa traçada. Somos, pois, células vivas e eternas no imenso organismo divino do Universo, cujas funções se fazem cada vez mais complexas, à maneira que incorporamos novos valores à nossa própria inteligência. A mente diretora está para nós todos quase na mesma proporção em que se encontra uma célula orgânica em tecido remoto da epiderme perante a inteligência que já conquistamos. Esse confronto, aliás, está incompleto. A diferença chega a ser realmente infinita. Usamos encarnações ou experiências como o nosso comboio físico usa vestes e, assim, como não seria interessante guardar as reminiscências totais da roupa comum, para não congestionar os nossos “armazéns mentais”, assim também as experiências ou passagens inúteis, ou quase inúteis, pela Esfera carnal não devem ser religiosamente guardadas no domínio de nossas recordações, não obstante permanecerem indelevelmente registradas na essência de nosso próprio ser, para que um dia efetuemos a recapitulação geral no balanço dos milênios.
Tudo jaz fotografado, escrito e impresso dentro de nós. Fatos mínimos ou grandiosos, lutas singelas ou complicadas, atitudes insignificantes ou graves — tudo se encontra detido em nosso arquivo divino. Nossas existências se enriquecem de bênçãos e luzes à medida que os tipos de experiências sejam melhorados no imo de nós mesmos. Não podemos realizar senão segundo a nossa capacidade de refletir. O Alto projeta incessantemente os seus tesouros para baixo, mas se não possuímos recursos de detenção das riquezas de conhecimento, iluminação, inspiração, beleza, aprimoramento e sublimação os raios da Esfera superior passam despercebidos, à espera de que o nosso mundo individual cresça, aperfeiçoando-se e santificando-se cada vez mais. Daí a razão de repetirmos sempre que o progresso da humanidade depende do progresso do espírito encarnado. Alguém ou alguns precisam subir para que outros subam, melhorar para que outros melhorem e, por isso, essa necessidade de recapitularmos sem cansaço as edificantes lições do bem.
Não nos desviando, porém, do ponto em derredor do qual vocês palestravam, devo esclarecer-lhes que a morte física adianta quase nada para a média espiritual do mundo. Regressando para Cá em suas roupagens perispirituais, a criatura, de modo geral, continua repetindo o que fez e quanto fez, aguardando novas oportunidades de imersão na zona de exercício e luta que situamos na reencarnação. Sentimo-nos aqui aflitos quando vemos filósofos que negam com dados inteligentes a existência de Deus. São milhares os Espíritos insubmissos, apesar de muito intelectualizados, nas correntes do ateísmo quase absoluto. É que, não tendo criado neles mesmos o campo de reflexão das bênçãos de Mais Alto, guardam a visão fechada, observando apenas o ciclo de encarnação, desencarnação e reencarnação. Tecem comentários engenhosos e conseguem aqui compactar comunidade de aprendizes e seguidores.
Naturalmente, muitos estudiosos não entendem tais informações, contudo, é que não perceberam ainda o imperativo de visão espiritual que no fundo simboliza sublimação da nossa individualidade para as ascensões de natureza mais nobre.
A ideia do papel no drama evolutivo da vida define com a propriedade possível a questão que estudávamos à mesa. É imprescindível “encarnarmos” o papel que fomos chamados a representar e a viver em cada existência com entusiasmo, fé e confiança. Somente assim conseguimos regressar aos Círculos de educação atrás dos bastidores, aptos a representar interesses mais importantes do Educador divino.
Creiam que para mim é difícil explicar a vocês, tecnicamente, todas as complexidades em que está assentada a luta de cada um de nós quando no corpo físico, mas a imagem da alma como sendo a mente em função de progresso da vida a manifestar-se em nós, por nós e conosco, está bem enquadrada às necessidades do momento. Muitos detalhes com a erudição desejável talvez complicassem esta carta e não alcançaríamos a paz íntima que, na essência, é o objetivo de nossas relações.
Mesmo acima de nossas cabeças está uma lâmpada a brilhar. Diversos elementos funcionam para que se verifique semelhante fenômeno, já corriqueiro aos nossos olhos. No cimo ou nas profundezas está a eletricidade, com todos os seus recursos de condução. Em seguida, temos a tomada ou corpo em que a eletricidade se expressará. Logo após, temos o veículo da lâmpada com os seus filamentos e processos de reflexão. Em última análise, temos a luz, que varia em intensidade, cor e expressão, segundo a capacidade transmissora do material aí reunido. Se o vidro fosse fosco, a claridade seria menor; se verde ou vermelho, as irradiações seriam diferentes. Na intimidade do processo, a eletricidade, sem forma, indefinível e poderosa, simbolizando o Espírito, seria a mesma, inalterável e inabordável aos nossos métodos atuais de conhecimento. O que varia é manifestação. Aqui temos uma singela imagem do quanto desejaríamos exprimir sem poder. Creio, porém, que para as nossas exigências de aprendizado bastará pensar que se utilizarmos as tomadas de nossa alma, ajustando-as aos fios do divino bem, e se aprimorarmos cada vez mais os recursos de projeção dos poderes sublimes que nos propomos captar, a nossa vida será um celeiro de luz e de amor, formando bases prodigiosas para a vida em si que nos espera além, sempre mais elevada e mais bela, à medida que nos aperfeiçoamos e nos aformoseamos em sentimentos e pensamentos na grandeza do tempo sem fim.
Essa é a humilde colaboração que trago a vocês para a conversação desta noite. Acreditem que minhas palavras modestas superam, assim, com o auxílio que vocês me prestaram, qualquer tema de outra natureza que fôssemos levados a discutir no plano da luta comum.
Cresçamos iluminando os caminhos que nos aguardam. Idealizemos sempre mais e sonhemos as realizações da frente para que a retaguarda não se converta em prisão para os nossos desejos e aspirações.
Além, resplandece nova luz. Depois de cada noite, há novo dia. Que Jesus nos conceda o alimento de seu infinito amor para que saibamos caminhar vitoriosamente. Guardem um grande abraço do papai muito amigo de sempre,
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