Colheita do Bem

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Capítulo L

Na Casa do Ipê, nossas almas se encontram em festa

26/07/1950


Meus filhos do coração, Deus abençoe a vocês, conferindo-nos a paz e a alegria, o entusiasmo de lutar dignamente e o bom-ânimo de servir sem repouso, na santa continuidade do nosso ministério de compreensão e de amor.

, ao lado de vocês nesta silenciosa e deslumbrante noite de comunhão nos votos reiterados de trabalho e progresso, edificação e aperfeiçoamento com Jesus. Reunindo vocês num grande abraço, elevo, ao lado de vários companheiros nossos, a prece de nosso reconhecimento ao Altíssimo, agradecendo a Ele a bendita oportunidade de renovação que nos concede.

Um lar não é apenas um abrigo de alvenaria ou madeira para a vida física — é um ninho de almas, onde as esperanças e os ideais se misturam em santificante harmonia para a vida superior.

Jesus abençoe o nosso novo santuário, transplantando com vocês para aqui os dons da saúde e da paz, do equilíbrio e do amor, da fortaleza e da coragem, do carinho e do entendimento para que, em novo e abençoado pouso, nossos pensamentos, em revoada de serviço e luz, possam prosseguir vibrando na criação de estímulo e tranquilidade, esforço e ação a benefício de quantos nos cercam os corações e em favor de nós mesmos, na jornada infinita.

Guardemos a nossa arca de compreensão e amor sublime, porque em suas fibras mais íntimas há disposições ignoradas de beleza, que traduzem nos atos e nas relações de nossa experiência atual a música do Céu. O lar é um templo vivo e, graças a Deus, vocês souberam povoar a casa que o Senhor lhes conferiu, não de ídolos mortos, mas de gênios renovadores e vivos, simbolizados nos impulsos de ordem e trabalho, elevação e harmonia.

Estamos sinceramente satisfeitos na intimidade deste santuário com que vocês materializam um divino ideal. De início, em me reportando à obra em si, desejo cumprimentar a nossa querida Maria pelo muito que semelhante serviço lhe deve ao coração. Vejo-a em todas as particularidades do empreendimento tangível, desde o caminho de acesso à última flor dessa colina, que passa a representar um marco inesquecível em nossos destinos. Observo-lhe, em cada ângulo do serviço, o espírito de sobriedade e previdência, com singular aproveitamento dos menores recursos para o bem de todos. Abençoado seja o seu maternal coração, que nunca descansa na criação de valores que condizem com a nossa felicidade e com o bem comum. Sinto aqui a imensa paz e a inexprimível confiança, não somente do pai humano, que se devota aos filhos do coração, mas também do amigo de muitos séculos que, desde muito, se sente convenientemente abrigado no domicílio sentimental, erguido na ternura que consagram à minha memória. Reúno-a, minha querida filha, num grande abraço com o nosso abnegado Rômulo, pedindo a Deus, com todo o potencial de minha fé, lhes conceda felicidade e longa existência nas oportunidades do presente, a fim de que, amparados um no outro, continuem, vida afora, criando o bem e a prosperidade de todos. Faço dessa oração, neste minuto, um sagrado momento de minha vida espiritual, porque hoje conheço a importância da comunhão conjugal nos princípios superiores do Evangelho cristão. Unam-se, cada vez mais, um ao outro, dividindo a vida e a saúde entre ambos, para que a seiva do equilíbrio perfeito lhes circule nos corações que, em verdade, funcionam uníssonos, como dois instrumentos iguais, numa só alma. Ajudem-se, cada dia sempre mais, nesse intercâmbio divino em que se expressam na luta habitual. A dádiva da existência é um dom de alegria perfeita. Viver na Terra é também aprender a crescer para voos mais largos. Que o desânimo e a tristeza nunca atravessem as nossas portas. Que a beleza, por celeste concessão do Senhor, aqui esteja em cada canto, porque Deus, o autor da paisagem constelada do firmamento, é igualmente o criador da flor perdida no deserto, cheia de perfume e encantamento que Lhe celebra a grandeza em silêncio. Não se confiem à perturbação ou à amargura, em tempo algum. O tesouro da Providência Divina dá sem limitação. Todos os dias são reafirmações da glória de nosso Pai, que nos empresta fartamente os motivos de engrandecimento e santificação.

A experiência do Espírito, em toda parte, é renovação. Esta casa feliz e iluminada ser-nos-á veste mais nobre aos pensamentos e sentimentos. Representa como que o corpo novo de nossos ideais de união e sublimação sempre maiores da senda redentora. Rogo, pois, ao Amigo divino aureolá-la de bênçãos e recursos sempre multiplicados da vida superior. De minha parte, quanto estiver em minhas possibilidades aqui farei a minha praia de reabastecimento e refúgio. Estarei com vocês no culto do amor e da gratidão, diariamente, celebrando com júbilos novos as nossas esperanças de vanguardeiros do trabalho, do trabalho que é, no fundo, o clima único da verdadeira felicidade e da verdadeira paz.

Nossa tranquilidade sempre foi criadora e dinâmica. Prosseguiremos na serenidade ativa, no ideal operante na crença realizadora. Este santuário é um jardim e uma escola, um ninho e um berço — jardim de nossa aproximação e carinho, escola de nosso progresso espiritual, ninho de nossa confiança e afetividade, e berço de nossos sonhos de serviço, na consagração constante ao Senhor, de vez que, quando nossos corações se unem ao Cristo, a existência se renova, dia por dia, na eterna juventude da alma à frente do Infinito. Cada manhã é renascimento e, assim, de mãos unidas e sentimentos entrelaçados, marchemos adiante, convencidos de que nosso patrimônio de esperanças e alegrias se derrama incessantemente a benefício de todos em nossa romagem de atividade edificante.

Ao Rômulo, ofereço nesta noite um trecho do “Eclesiástico”, capítulo VI - 27. À Maria, ofereço no mesmo livro o trecho constante do capítulo XL - 27. São ambas as lembranças baseadas no número 27, de inesquecível significação para nós, e que se encontram na obra do Padre Matos. O primeiro versículo se refere à sabedoria, mas transfiro a conceituação como sendo uma sentença de homenagem à esposa, e o segundo se refere ao Senhor, mas faço idêntica transposição como se a frase fosse escrita em louvor do esposo. Nas duas recordações, deixo aos filhos queridos o conteúdo de meu carinho na noite de hoje. E oferecendo a vocês dois e aos queridos netos o meu coração, cheio de gratidão e carinho, sou o papai e vovô que se sente profundamente feliz em seguir-lhes os passos, hoje e sempre,




Nota da organizadora: Eclesiástico, VI: 27 - “Aproxima-te dela de todo teu coração e guarda os seus carinhos com todas as tuas forças.” XL: 27 - “Nada falta ao que tem o temor do Senhor, e com ele não há necessidade de outro auxílio.” Tradução da Bíblia Sagrada pelo Padre Matos Soares, Porto - Portugal - 1933.



A. .Joviano
Francisco Cândido Xavier

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